MirellaO cheiro forte de café ainda impregnava minhas roupas enquanto eu caminhava pela calçada, ignorando o zunido dos carros e o frio da manhã. Meus dedos apertavam com força as alças das sacolas, mas o peso real não estava nelas. Estava dentro de mim. Algo nessa mulher me incomoda mais do que eu queria admitir. Elena... Doce, delicada, com palavras cuidadosamente escolhidas para parecer preocupada.Mas seus olhos... Ah, os olhos dela não mentiam. Olhos de quem está acostumada a observar, a medir, a caçar.Eu conhecia aquele tipo de olhar.A minha vida mesmo eu não querendo me fazia reconhecer rapido o cheiro do perigo, mesmo disfarçado de perfume caro e sorriso amigável. Entrei na SUV preta onde meus seguranças já me esperavam, e antes mesmo de fechar a porta, puxei o celular.— Julian . falei assim que a linha foi atendida. — Quero tudo o que você conseguir sobre Elena. Houve uma breve pausa.— Já estamos em cima dela, senhora . respondeu ele com eficiência. — Vincent me mandou r

Vincent Ela estava em pé, de braços cruzados diante da tela, os olhos afiados como lâminas. Julian falava, teclava, puxava dados, mas foi Mirella quem enxergou a conexão que escapou até de mim.— Esse número aqui — ela disse, apontando para o visor — foi usado por Elena. Só que o chip... foi ativado perto de um dos refúgios dos Moretti. Coincidência demais, não acha?Ela olhou pra mim, desafiadora. Aquela não era mais a mulher que encontrei em meio ao caos da minha vida. Essa era outra versão de Mirella. Fria, Focada, Implacável.E, por Deus, ela era linda assim.— Você cruzou esses dados? — Julian perguntou, ainda tentando alcançar o raciocínio dela. Ela assentiu, os olhos fixos nos arquivos como se enxergasse além dos números.— E não para por aí — continuou. — Eles estão tentando se infiltrar aos poucos, como se procurassem rachaduras. Mas e se a gente mostrasse uma rachadura falsa?Julian sorriu.— Você está falando de uma isca? Ela o encarou. E a resposta veio certeira .— Es

Mirella O vestido me caía perfeitamente. Preto, justo, elegante, como uma segunda pele. Mas era mais do que aparência. Era minha armadura.Aquela noite não era sobre romance, ensaio de casamento ou comemoração. Era sobre verdade. Sobre justiça. Sobre mostrar que, ao lado de Vincent, eu não era apenas protegida eu era parte do fogo que consumiria nossos inimigos.Quando entrei no salão, senti os olhares. Meus seguranças estavam disfarçados. Julian, posicionado com precisão cirúrgica. E Vincent, meu rei, me esperava no alto da escadaria, como se todo o império dele tivesse sido erguido por aquele momento.Respirei fundo. Minha mão apertou o pequeno pingente no pescoço um presente da minha mãe antes de sair do Brasil. "Não esqueça quem você é", ela tinha dito. E eu não esqueci. Eu era filha da favela. Eu era a futura médica que encarou mafiosos. Eu era a mulher que o Vincent escolheu e que escolheu a guerra para proteger seu amor.Minutos depois, a convidada chegou. Elena entrou co

VincentO silêncio depois da guerra era o som mais raro da minha vida.E enquanto o mundo lá fora se armava para o próximo round, dentro daquele quarto, tudo que existia era ela. Mirella.Deitada sob os lençóis macios, cabelos espalhados no travesseiro como seda escura. O abajur jogava sombras suaves sobre sua pele , e seus olhos me encaravam com uma mistura de ternura e decisão.Me aproximei devagar, como quem se aproxima de um altar sagrado. Toquei sua cintura, os dedos traçando caminhos que já conheciam, mas que nunca cansavam de redescobrir. Ela suspirou, mas não recuou. Suas mãos vieram até minha nuca, Me puxando para um beijo que começou suave… e foi se intensificando, como tudo entre nós. O desejo era inevitável.A guerra havia nos endurecido. Mas o amor… nos mantinha vivos.Minhas mãos passearam por seu corpo como uma prece silenciosa. E ela me recebeu. Com calor. Com entrega. Com tudo até o momento em que, no ápice da tensão, ela pressionou a palma contra meu peito e sussurro

MirellaO dia havia finalmente chegado. O céu estava límpo , com um tom azul suave, e os raios de sol atravessavam as janelas do quarto onde eu estava sendo preparada. O cheiro de flores frescas se misturava ao perfume doce da lavanda no ar. Era o cenário perfeito.As mãos delicadas da maquiadora deslizavam pelo meu rosto, e uma das estilistas ajustava os últimos detalhes do meu vestido. Eu me olhava no espelho, mas via além do reflexo , via a mulher que tinha sobrevivido a guerras, dores, perdas e ameaças. Uma mulher que hoje casaria com o homem mais perigoso e mais leal que já conheci . Tudo parecia tranquilo... até o instante em que senti algo estranho. Um silêncio diferente. Como se o ar tivesse mudado de temperatura. Meus olhos encontraram os da minha segurança pessoal, Lúcia, que permanecia imóvel ao lado da porta, em alerta.— Está tudo bem? — perguntei baixo, sem me mover.Ela não respondeu. Apenas deu um passo sutil para o lado. Foi quando a porta lateral, que dava acesso re