POV Kael Killer avançou com precisão mortal. Seus músculos tensos como arcos prontos a disparar, as patas pesadas, mas silenciosas, contra a terra macia da floresta. A clareira se abriu à nossa frente — e lá estava ela. Nyvie. Amarrada a uma árvore grossa, os pulsos presos com correntes encantadas que brilhavam fracamente sob a luz da lua. Seu rosto estava pálido, os olhos semicerrados, como se lutasse para se manter acordada. O cheiro dela — medo, raiva, luta — explodia em nossas narinas como pólvora. E ali, próximo a ela, agachado entre as sombras, estava Orion. O traidor. Um rosnado profundo escapou do peito de Killer, reverberando na noite. Orion ergueu os olhos vermelhos e sorriu, como se já esperasse por nós. — Achei que demorariam mais — disse ele, a voz impregnada de desprezo. — Mas confesso que estou impressionado. Não perdemos tempo. Killer se lançou à frente, um borrão cinzento movido pela fúria. Ash e Atena atacaram pelos flancos, rápidos e coordenados como u

POV NyvieO cheiro da flor me envolveu como um abraço suave de lembrança. Era doce, delicado, e carregava em si uma memória tão antiga quanto minha infância — meu coração se apertou. Eu não via aquelas flores desde que minha mãe as cultivava atrás da antiga casa da matilha.Dei alguns passos, atraída pelo perfume como se estivesse em transe. As árvores se fechavam ao meu redor, mas não me dei conta. Estava hipnotizada pela visão das pétalas cor de pêssego reluzindo sob a luz filtrada do entardecer. Abaixei-me para tocá-las.Foi quando senti.Uma mão firme cobriu minha boca e nariz com um pano. O cheiro de produto químico queimou minhas narinas, invadiu meus pulmões, fazendo meus olhos arderem. Tentei lutar, gritar, mas tudo começou a escurecer.A última coisa que ouvi foi a voz dele, cortando a escuridão como uma lâmina:— Agora você será minha, lobinha.O mundo desapareceu.---Acordei com o gosto metálico do medo na boca.Meus braços estavam dormentes, presos por correntes frias e m

POV RobertA floresta parecia respirar. Um som úmido e baixo que vinha das entranhas da terra, como se algo velho e faminto rastejasse sob nossos pés.Eu odiava esse lugar.Caminhava entre as árvores com os demais guerreiros, atento a cada sombra, cada ruído fora do comum. Ash andava ao meu lado, em forma lupina, os pelos eriçados e os olhos escuros varrendo a mata com uma fúria contida.— Estamos perto da clareira sul — murmurou um dos guerreiros.Assenti, sem tirar os olhos do caminho. O cheiro de podridão aumentava. Era o mesmo odor que sentimos quando Orion nos emboscou.Ash parou, rosnando baixo.— O que foi? — perguntei, virando para ele.Mas a resposta veio com um estalo alto — galhos quebrando. Algo se movia entre as árvores. Rápido demais.— Atenção! — gritei, puxando minha espada.Criaturas deformadas, como lobos fundidos com sombras, avançaram entre as copas. Seus olhos brilhavam em vermelho, a pele oscilando como se estivesse derretendo.O combate foi brutal. Cortes, mordi

POV KaelO calor suave da fogueira fazia sombras dançarem nas paredes da tenda. Lá fora, os sons da floresta se mesclavam ao farfalhar das folhas e aos passos atentos dos guerreiros que nos protegiam. Aqui dentro, porém, tudo parecia em pausa. Pela primeira vez em dias, Nyvie respirava com calma.Ela estava deitada sobre os cobertores que havíamos improvisado, o rosto ainda pálido, mas já sem febre. Seus olhos verdes me acompanharam quando entrei, equilibrando a tigela de madeira nas mãos. Havia passado a última hora preparando algo simples — uma sopa quente com os legumes, carne de javali e ervas que os guardas haviam conseguido durante a patrulha. Não era um banquete, mas era nutritivo e, acima de tudo, feito por mim.Ela ergueu uma sobrancelha, divertida, ao me ver aproximar.— Fez isso pra mim? — perguntou, a voz rouca e doce.— Com as próprias mãos. — sorri. — E com todo o carinho que existe neste mundo.Ela se sentou devagar, apoiando-se no travesseiro improvisado, e aceitou a t

POV Nyvie O ar era denso demais. Quase sólido. A floresta morta nos envolvia com um silêncio inquietante, quebrado apenas pelo som distante dos passos pesados das criaturas que rondavam a mansão de Endrick. Moviam-se como sombras vivas, farejando o ar, estalando garras contra o chão úmido. A sensação era de que, a qualquer momento, uma delas nos encontraria... e então tudo estaria perdido. Kira sussurrou em minha mente, sua voz como uma brisa cortante. "A estrutura da mansão é antiga. Deve haver saídas de água... túneis por onde o escoamento passa. Podemos usar isso." "Outra coisa — essas criaturas ao redor da mansão não são como as da Floresta das Lamentações. Ouço o sangue correndo em suas veias, mesmo que seja podre. Acredito que podemos acabar com elas em forma de lobo mesmo, sem precisar de prata." Assenti mentalmente, o plano se formando com rapidez. Meus olhos encontraram os deles — Kael, Robert e Sther, ainda em suas formas de lobo, observando-me com atenção. "Vamos pre