POV NyvieO céu já começava a se esconder atrás de nuvens pesadas quando nos aproximamos da entrada da Floresta das Lamentações. Um vento frio sussurrava entre as árvores altas, fazendo as folhas estremecerem como se temessem o que dormia sob suas raízes. Diante da trilha estreita e escura, Kael parou e se voltou para nós.— Robert, acho melhor nós dois irmos em forma de lobo — disse ele, os olhos verde-água fixos nos de seu amigo. — Vocês duas precisam estar em forma humana para usarem as lâminas se algo surgir. Se formos atacados, vocês terão mais vantagem assim.Assenti em silêncio, sentindo Kira rosnar baixo, inquieta com a energia da floresta à frente. Robert apenas inclinou a cabeça em concordância, e ambos começaram a despir-se rapidamente, entregando suas roupas e mochilas para que guardássemos nas bolsas de couro fixadas aos lados das selas improvisadas.A transformação de Kael sempre me encantava. Seu corpo musculoso tremulou, luzes douradas dançaram em sua pele antes de Kil

POV Kael O gosto metálico da magia corrompida ainda tingia o ar, e minha respiração pesada saia em baforadas enquanto a primeira onda de criaturas se dissipava em gritos e fumaça negra. Killer estava atento, cada músculo tenso, os olhos dourados varrendo as sombras adiante.Atrás de mim, Nyvie, Robert e Sther recobravam o fôlego.As adagas de prata — nossas únicas armas eficazes contra aquelas aberrações — estavam nas mãos deles, exceto a minha, que estava presa em um suporte especial nas minhas costas, entre as omoplatas de Killer. Meu pai havia feito o encaixe sob medida, amarrado com tiras reforçadas para que, mesmo em minha forma de lobo, eu nunca estivesse indefeso.Eu não conseguia falar com Robert ou Sther. Apenas com Nyvie, graças ao nosso vínculo. E mesmo assim, neste caos, nosso elo era feito mais de emoções do que palavras. Eu sentia o medo dela, sua adrenalina… mas também sua força crescente. Kira rugia em sua mente, instigando-a a lutar. Querendo rasgar a garganta de qua

POV KaelO campo de batalha fervia com sangue, magia e medo. As criaturas corrompidas vinham em ondas, mas nós resistíamos. Cada golpe com nossas adagas de prata era uma prece de sobrevivência.Nyvie, Robert e Sther lutavam bravamente, mesmo exaustos e feridos. Eu, em minha forma de Killer, rasgava os inimigos com dentes e garras, protegendo-os como podia. A prata que carregava presa às costas vibrava com a energia da batalha.Então, um uivo rasgou o céu.Alto. Profundo. Terrível.Das sombras da Floresta das Lamentações surgiu um lobo enorme — negro como a própria noite, com olhos vermelhos flamejantes.Todos congelamos por um segundo.O lobo atacou as criaturas com violência brutal, destruindo-as com uma fúria quase animalesca. Um a um, os inimigos caíram, até que apenas nós restássemos, ofegantes, feridos e confusos.Quando o último inimigo caiu, o grande lobo negro parou diante de nós, sua respiração pesada formando nuvens na madrugada gelada.Ele pegou algumas roupas atrás de uma

POV Kael O anoitecer mergulhou a floresta num cinza fantasmagórico. O frio apertava como garras invisíveis, e a névoa rasteira subia das raízes torcidas, escondendo a trilha e distorcendo a paisagem. Era como caminhar dentro de um pesadelo. Decidimos que precisávamos parar. As forças de todos estavam no limite, e mesmo nossas habilidades lupinas não podiam vencer o cansaço que a Floresta das Lamentações impunha. Encontramos um pequeno espaço entre rochas cobertas de líquen, protegido do vento. Robert, ainda em forma humana, ajudou a montar uma fogueira improvisada, enquanto Sther e Nyvie estendiam as capas grossas de viagem para criar alguma proteção contra o solo frio. Eu permaneci de pé, observando a escuridão crescente. Cada som — o estalar de galhos, o murmúrio do vento, até mesmo o bater das nossas respirações — parecia amplificado. Killer estava em alerta dentro de mim, farfalhando sob a minha pele, pronto para assumir a qualquer momento. Quando a fogueira finalmente pegou,

POV NyvieO primeiro raio dourado cortou a névoa pesada, tingindo de esperança o início da nossa nova jornada. Enquanto caminhávamos lado a lado, eu sentia o peso invisível da floresta sobre nós, como se estivéssemos atravessando não apenas árvores, mas camadas de memórias esquecidas e promessas antigas.Kael estava logo à frente, olhos atentos a qualquer movimento, a adaga de prata presa a cintura com segurança. Robert e Sther seguiam atrás, ambos em forma humana, ainda atentos após a ronda noturna. O rosto de Sther parecia sereno, mas eu sabia — conseguia sentir através do nosso laço de amizade — que ela carregava a mesma inquietação que nós.O frio persistente roçava minha pele, mesmo sob o grosso casaco verde escuro. Eu puxei o capuz um pouco mais sobre a cabeça, tentando proteger minhas orelhas do vento cortante. A floresta, mesmo iluminada pela luz tímida da manhã, parecia ainda mais opressora do que na noite anterior.Era como se algo estivesse escondido entre as árvores