“Lorenzo Villani” Fecho o chuveiro e pego uma toalha, finalmente me sentindo relaxado depois de uma semana de merda, tudo graças à pressão do meu pai para que eu volte à Sicília. Ouço vozes vindas lá de baixo e franzo o cenho. Era só para receber o jantar, então por que a Aurora está demorando tanto? Então ouço uma segunda voz. Feminina. Familiar. Meu sangue gela na hora. — Cazzo — murmuro, largando a toalha e vestindo a calça jeans às pressas. Desço as escadas correndo, ainda vestindo a camisa, e paro abruptamente ao chegar na sala. Caterina está parada no meio da minha sala, observando Aurora com aquele olhar calculista que conheço bem demais. Aurora está próxima da porta, visivelmente tensa, com uma expressão confusa que, ao me ver, muda rapidamente… para algo muito pior. Mágoa. Desconfiança. Traição. — Lorenzo — Caterina sorri, como se a presença dela fosse a coisa mais natural do mundo. — Finalmente. — Caterina — digo, controlando o tom da voz. — O que está fazendo aqu

“Lorenzo Villani” Deixo Aurora no meu quarto e desço as escadas, seguindo em direção ao escritório do meu pai. Quando chego, encontro Don Matteo sentado atrás da mesa imponente, concentrado em alguns documentos. Mesmo aos sessenta e poucos anos, meu pai continua sendo uma presença intimidadora. Cabelos grisalhos impecavelmente penteados, postura ereta, olhos que não deixam passar nada. — Lorenzo — ele levanta os olhos quando entro, gesticulando para a cadeira à frente da mesa. — Sente-se. — Papà — cumprimento, me sentando e adotando automaticamente a postura que aprendi desde criança: costas retas, mãos relaxadas, expressão neutra. — Como estão os negócios em Milão? — pergunta, fechando a pasta que estava lendo. — Produtivos. O contrato com a BMCTech nos trouxe três novas propostas interessantes. — E os outros negócios? — Tiziano tem mantido tudo sob controle — respondo. — Os acordos com as famílias de Roma estão funcionando. Nenhum problema territorial. — Excelente — ele se

O restaurante que Lorenzo escolheu fica no centro histórico de Messina, um lugar elegante com vista para o mar. Mesmo assim, ele continua tenso, verificando constantemente o ambiente, os clientes, as saídas. Sempre… alerta. — Você está bem? — pergunto, já incomodada com o silêncio. — Sim, estou — responde, mas sua mão está apoiada na mesa de um jeito que me permite ver a arma no coldre sob o paletó. Ele está armado. Em um jantar romântico. — Lorenzo, estamos aqui há dez minutos e você ainda não falou nada sobre… a verdade que prometeu. Ele suspira, colocando a taça de vinho sobre a mesa. — Quer que eu comece por onde? — pergunta, se inclinando para frente. — Que tal… sua família? Seus negócios? — Minha família… nossos negócios não são apenas legais, ragazza — diz finalmente, olhando ao redor antes de continuar. — Os Villani controlam território na Sicília há gerações. Somos… uma família tradicional. — Que tipo de família tradicional? — Aurora, você já ouviu falar da máfia s

O silêncio que se segue é pesado. Lorenzo caminha até a janela, olhando para o mar. — Tenho vinte e oito anos — diz, finalmente. — Matei pela primeira vez aos treze. Sinto meu estômago revirar. — Lorenzo… — Era um homem que abusava da própria filha — continua, sem se virar. — Cinco anos, Aurora. Uma criança de cinco anos. Meu pai mandou resolver o problema, e eu resolvi. — Você não precisava me contar isso. — Precisava, sim — ele se vira para me encarar. — Porque quero que entenda que não sou um psicopata. Cada pessoa que matei… teve um motivo. — Quantas? — pergunto, mesmo sem querer saber. — Você realmente quer saber? — Não — respondo rápido, balançando a cabeça. — Não quero. O silêncio volta, denso. Lorenzo se aproxima devagar, como se eu fosse um animal assustado prestes a fugir. — Aurora, olha para mim — pede. — Por favor. Relutante, levanto os olhos e encaro os dele. — O que sinto por você é real — diz. — Cada palavra que disse, cada momento que passamos

As palavras de Matteo ecoam na minha cabeça enquanto subo as escadas em direção ao quarto. “Sua presença só enfraquece meu filho.” A brutalidade da frase me atinge como um tapa. Não havia maldade em suas palavras, somente uma verdade crua que eu não queria admitir. Entro no quarto, coloco a mala sobre a cama e começo a arrumar minhas coisas. Preciso ir embora. Preciso voltar para Milão e ter certeza do que quero, antes de acabar destruindo tudo. Uma batida suave na porta interrompe meus pensamentos. — Aurora? — Elisa chama do corredor. — Pode entrar — respondo, deixando a mala de lado. Ela entra com um sorriso tímido, me observando enquanto se aproxima. — A mamma disse que você conversou com o papà — comenta, sentando-se na cadeira próxima à janela. — Como foi? — Intenso — respondo com honestidade, me sentando na cama. — Ele sempre é — ela ri. — Mas acho que ele gostou de você, sabia? — Como pode ter certeza? — Porque você ainda está viva — brinca, arrancando uma risada m