GustavoAtravessei a grande porta de madeira, pesada e imponente, sentido o ar fresco da tarde me envolver assim que alcancei o jardim nos fundos da mansão. O caminho de pedra destacou a beleza do gramado verde e das plantas, mas a minha atenção se fixou de imediato na figura do meu irmão.Júlio César estava ali, sentado no banco próximo ao espelho d’água com o celular na mão e o olhar distante, como se carregasse o peso de todos os pensamentos do mundo.– O que você está fazendo aqui?– Só pensando na vida.Estreitei os olhos, cruzando os braços.– Estranho… pensei que fosse encontrá-lo com a petulante da Lívia.– Você não está preocupado demais com ela, não, Gustavo? Para quem vive dizendo que não a suporta… ou será que está com ciúmes da Lívia comigo?Soltei um riso seco, sem humor.– Ciúmes? Não tenho tempo pra tanta besteira, Júlio.Ele apoiou o celular no joelho e inclinou-se um pouco pra frente.– Então não vai se importar se eu investir na moça.Mordi a mandíbula, controlando

JaquelineCruzei os braços e encarei o Júlio César de frente, sem desviar os olhos. Ele havia dito tudo num tom bastante calmo, mas cada palavra martelava dentro de mim. Ele se ajeitou na cadeira, claramente atingido pela minha fala, mas não desviou o olhar.– Não, Jaqueline… não é isso. Eu jamais mancharia a memória da minha mãe. Fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado. – Mas para falar do passado, não posso fingir que ela era perfeita. Eu vivi e senti muitas coisas naquela casa. Gustavo ainda presenciou mais coisas do que eu. E por mais que você queira pintar o meu pai como um monstro, a verdade é que a situação era mais complicada.– Complicada? Rebati, rindo sem humor. – O complicado foi ele virar as costas pra minha mãe depois de enganá-la.Ele respirou fundo apertando as mãos sobre a mesa.– Só quero que você saiba, Jaqueline, que mesmo com todos os erros, existem muitas camadas. Coisas que você desconhece.Meu coração batia descompassado, eu queria sentir raiv

GustavoEu estava prestes a seguir em direção ao corredor, quando ouvi a voz da Jaqueline, firme, decidida e impossível de ignorar.– Gustavo.Me aproximei da Jaqueline com estranheza, não entendi porque havia me chamado.– Vou lhe dar um conselho, mesmo que você não tenha me pedido. A encarei com seriedade.– Conselho? – Se você está interessado na Lívia… saiba que não é na força que você vai conquistá-la. Tratar bem é o único caminho. Forçar qualquer coisa só vai afastá-la.Fiquei paralisado por alguns segundos, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Interesse na Lívia? Por dentro, soltei um riso amargo. Jaqueline tinha entendido tudo errado, completamente errado. Meu sentimento pela Lívia, está longe de se chamar interesse… era um jogo, uma provocação, uma guerra de resistência. Não podia contar o que a garota aprontou comigo. O local da mordida se transformou num hematoma dolorido. Mas não consegui responder. Apenas a encarei, sério, até ela se afastar.Pouco depois, Júlio