Zayn FieldsO vento cortante chicoteava meu rosto enquanto atravessava os portões da Torre de Malac’h. Meus passos eram apressados, quase trôpegos, como se tentassem acompanhar o turbilhão que girava dentro de mim. As paredes de pedra negra da fortaleza erguiam-se como sentinelas ancestrais, carregadas de magia antiga, observando meu retorno aflito.Meus pensamentos eram um caos. As imagens da cena que presenciei ainda queimavam em minha mente como brasas vivas. Malac’h... e aquela Deusa Lunar.Virei o corredor principal e, quase colidindo comigo, surgiu Isaac. Carregava seu inseparável caderno de desenhos contra o peito, os dedos manchados de grafite, e vestia roupas de caça — couro escuro, presilhas de prata e um capuz jogado sobre os ombros. Seus olhos castanhos, sempre atentos, imediatamente me examinaram.— Irmão... onde você estava? — Sua voz carregava uma mistura de preocupação e desconfiança. — Você... tá bem?Antes que eu respondesse, ele pousou a mão no meu ombro, mas, no se

Zayn FieldsO silêncio que se instalou parecia esmagar nossos pulmões. Cada segundo era uma tortura. Todos estávamos tensos, petrificados diante do estado deplorável de Malach. Isaac posicionou-se à frente de Alec, como um escudo vivo, tenso, aguardando, na esperança infantil de que nosso pai não mudasse de ideia... que ele se contentasse em apenas punir Alec.Mas aquilo... aquilo já não era mais sobre punições.O olhar do nosso pai — frio, predatório, cruel — pairava sobre Malach como uma sentença inevitável. Talvez, durante um instante ínfimo, ele tenha esperado um pedido de desculpas do caçula. Uma súplica. Uma demonstração patética de submissão.Mas o silêncio de Malach foi sepulcral. Desafiador.Então, sem sequer alterar a expressão, nosso pai agarrou Malach com uma única mão — como se fosse um boneco quebrado — e, sem hesitar, atirou-o aos pés da forma lupina de Matteo.— Mate-o. — Sua voz foi uma lâmina afiada rasgando o silêncio.O mundo pareceu congelar. O sangue deixou de

Zayn FieldsA floresta parecia respirar medo. O cheiro da terra úmida se misturava ao odor ácido do pavor que pairava no ar. O vento soprava através das copas altas, carregando uivos que reverberavam pelas montanhas, carregados de desespero. Até os animais silenciaram, como se a própria natureza compreendesse que nós caminhamos sob sua proteção.Permanecíamos em nossas formas lupinas há horas, cruzando trilhas esquecidas e vilarejos abandonados, seguindo os caminhos mais hostis e tortuosos, fugindo de olhos que jamais poderiam nos compreender — ou, pior, que sabiam exatamente quem éramos. O céu começava a clarear no horizonte, tingindo as nuvens com tons de cinza e azul pálido, anunciando que o amanhecer não tardaria.O desconforto era palpável. Cada passo fazia nossos músculos tensarem, cada farfalhar de folhas parecia prenunciar uma ameaça invisível. A conexão mental entre nós vibrava, carregada de ansiedade e urgência.Não havia chance de cruzarmos a entrada principal de Ry’Shra se

Zayn FieldsCaminhei ao lado de Isaac, seguindo os passos apressados da pequena Deusa. Havia algo estranho no ar, algo que me fazia morder o lábio, inquieto, como se uma descarga elétrica percorresse minhas veias. Em um piscar de olhos, estávamos em outro lugar.O templo de Daha se ergueu diante de nós em sua grandiosidade inumana. Era colossal, feito de mármore que cintilava em reflexos dourados, como se cada centímetro estivesse imbuído de poder divino. Pilares imensos sustentavam cúpulas ornadas com símbolos antigos, e janelas circulares deixavam feixes de luz dourada entrarem, criando a sensação de que pisávamos em outra realidade.Antes que eu pudesse sequer processar tudo aquilo, a pequena divindade girou nos calcanhares, abrindo um portal que tremeluzia como água líquida suspensa no ar.— Agora é com vocês, rapazes. Se virem. — disse ela, sua voz carregada de um desprezo suave, antes de entrar no portal e desaparecer em um lampejo prateado.Dei um passo rápido em direção a ela,

Emmy ZackDahaEu procurei Alec por dias.Os ventos cortavam minha pele exposta, e cada pedra que cedia sob meus pés me lembrava que Ry’Shara não perdoava os fracos. Acredito que era a primeira vez que eu adentrava a oarte mais escura da floresta, Zayn estava sempre atrás de mim, silencioso como um lobo aguardando seu momento, enquanto Isaac caminhava ao meu lado, murmurando orações aos Deuses Antigos em cada amanhecer. Mas nenhum Deus parecia disposto a responder, e minha divindade não podia salvar Alec.No quarto dia, minhas botas estavam destruídas, meus tornozelos feridos pelas subidas íngremes e pelos galhos retorcidos que marcavam meus joelhos. Mas continuei. A cada madrugada, Zayn encontrava rastros — um galho quebrado, pegadas que afundavam na lama fria, gotas secas de sangue misturadas a folhas enegrecidas pela umidade. Rastros de Alec. Rastros do homem que deveria estar aqui comigo.— Vamos descansar um pouco, Daha — Isaac disse, encostando-se em uma rocha coberta de musgo.