LeonardoDepois daquele primeiro encontro, tudo mudou. Saímos do abrigo com a sensação de que o coração tinha ficado lá dentro. A partir daquele momento, começava oficialmente o período de convivência — uma fase importante do processo de adoção, e também uma das mais delicadas.A assistente social explicou que nas primeiras semanas faríamos visitas regulares: encontros breves, em que poderíamos brincar com Laura, participar das refeições e, aos poucos, nos aproximarmos dela. Depois, caso a adaptação evoluísse bem, ela passaria a dormir conosco aos fins de semana. A convivência serviria para entender como seria a dinâmica familiar, se ela se sentiria segura e se criaria vínculo.Estávamos prontos. Com medo, claro. Mas prontos.Naquela mesma semana, decidimos que era hora de contar para nossos pais. Era algo que queríamos fazer juntos, em casa, com calma. Luísa preparou o jantar e colocou a mesa com todo o carinho do mundo. Eu cuidei da sobremesa — uma torta de chocolate que vinha tenta

LeonardoEu não fazia ideia de que um ser tão pequeno poderia despertar tanto amor.Às vezes, acordava antes das duas e ficava apenas observando — Luísa dormindo com um braço protetor sobre Laura, e Laura com a mãozinha apoiada na barriga da mãe, respirando calma, segura, inteira. Era como se meu coração não coubesse mais no peito.Ter Laura com a gente mudou tudo. Nossa casa ganhou novos sons, novos cheiros e novos ritmos. E cada detalhe, por menor que fosse, virou motivo de alegria.Eu adorava observar Luísa brincando com ela no chão da sala, com papel, lápis de cor e aquela bagunça boa que só criança consegue fazer. Luísa era paciente, criativa, tinha um riso leve que fazia Laura gargalhar alto. Às vezes eu registrava esses momentos com a câmera, às vezes só com o olhar — tentando guardar tudo na memória, como quem sabe que está vivendo os dias mais preciosos da vida.As refeições juntos eram outro capítulo à parte. Laura sempre queria colocar o guardanapo no colo igual a gente, es

LeonardoA vida a três estava sendo uma descoberta maravilhosa.Cada dia era um novo aprendizado, uma nova rotina, um novo desafio — e, ao mesmo tempo, uma alegria que eu não sabia que existia. Era engraçado pensar como um ser tão pequeno podia mudar tanto tudo. A casa, os hábitos, as prioridades… e, principalmente, o coração.Já tínhamos ido ao cinema, ao parque, e hoje era dia de mais uma aventura: o zoológico. Não sabíamos quem estava mais animado, se era a Laura, eu ou a Luísa. A verdade é que a gente queria proporcionar experiências para ela, mesmo sabendo que, com dois anos, talvez não lembrasse de muitos detalhes depois. Mas nós lembraremos. Cada risada, cada olhar de encantamento, cada mãozinha apertando a nossa.Acordamos cedo, tomamos café juntos — como sempre fazíamos. Luísa estava com o caderninho na mão, conferindo o que levar: garrafinhas de água, protetor solar, fraldas, brinquedo preferido, roupa extra, lanchinhos. A logística de sair com uma criança pequena ainda nos

LeonardoVoltar ao trabalho foi mais difícil do que eu imaginava. Eu queria estar em casa, com elas. Com as minhas meninas. Todo dia eu chegava mais cedo, antecipava reuniões, adiantava tarefas, só para conseguir ver aquele sorrisinho doce da Laura correndo pela sala e ouvir o "tio Léo" na vozinha mais linda do mundo. Era como se meu dia realmente começasse ali, com elas.— Como vai a vida do mais novo papai? — perguntou Carolina, durante uma troca rápida de contratos.— Está maravilhosa — respondi, sorrindo, sem esforço.— Dá pra perceber — ela disse, antes de seguir para a próxima reunião.Passei o dia me inteirando de pendências, atualizando prazos, acompanhando contratos. Saí do escritório por volta das quatro. No carro, só conseguia pensar em chegar logo, entrar pela porta e encontrar a sala cheia de brinquedos espalhados e aquela bagunça gostosa que era a nossa nova vida.Quando entrei em casa, lá estavam elas. Luísa e Laura, no tapete da sala, brincando com blocos coloridos. La