...Ethan...A ausência de Camila naquele dia era como uma fresta aberta em um cômodo escuro. Eu sentia o eco. O silêncio que ela deixou pairava por cada sala, por cada reunião… até mesmo o ar parecia mais pesado.Foram três vezes em que virei a cabeça esperando vê-la entrando pela porta da sala de projetos, com a prancheta em mãos e aquele olhar atento. Nenhuma delas aconteceu.Fingi naturalidade com os demais funcionários. Mantive a postura profissional, como sempre. Mas por dentro, estava inquieto. Me peguei encarando o celular mais vezes do que gostaria de admitir. "Indisposta", havia escrito. Nada mais.Sabia que ela precisava de espaço. Talvez tivesse sido demais. O jantar, o beijo, a conversa interrompida. E agora… o medo. Era visível nos olhos dela. Eu queria contar tudo, explicar a condição absurda imposta por meu pai, mas como fazer isso sem parecer interesseiro? Como dizer que a princípio eu aceitaria casar por obrigação, mas que agora tudo havia mudado?...Camila...A minha

...Ethan...Levantando antes do sol nascer, vesti qualquer coisa. Eu não sabia exatamente o que iria dizer, mas sabia o que precisava fazer. Não dava mais para deixar para depois. Ela precisava saber. E eu precisava ver seus olhos — antes que fosse tarde demais.Peguei o carro. A cidade ainda dormia. O céu era um azul cinzento, como se até ele estivesse preso entre dois sentimentos. Assim como eu.Ao chegar no prédio, o porteiro me reconheceu com surpresa.— A senhorita Camila está no apartamento, sim — ele disse. — Posso avisá-la? Neguei com um gesto calmo — Prefiro que não. Se ela não quiser me ver, eu vou entender.Subi. Cada andar era um soco no estômago. Cada passo no corredor, um lembrete de que ela podia não me perdoar. Mas eu precisava tentar. Toquei a campainha. O tempo parou. E então… a porta se abriu.E ali estava ela. Descalça, com o rosto ainda marcado pelo travesseiro. E, mesmo assim, era a mulher mais linda que já vi. E também a mais ferida — e eu sabia que parte da cul

...Ethan...No carro, ela ajeitava os cabelos ainda levemente úmidos, enquanto olhava pela janela. O sol batia em seu rosto e, por um momento, eu quase perdi a curva de tanto que a admirei.Como é que uma mulher consegue ser tudo ao mesmo tempo? Força, beleza, sensibilidade e mistério.Eu já tive ambições, projetos, conquistas. Já fechei contratos milionários com um aperto de mão. Mas nunca desejei nada tanto quanto desejo estar perto dela. A Camila virou meu norte. E o pior (ou o melhor) é que eu nem percebi quando isso aconteceu.Chegamos ao meu apartamento, que estava silencioso, mas bastou entrar com Camila para o ar mudar. Era como se as paredes soubessem o que estava para acontecer. Como se a energia dela — sua pele, seu cheiro, sua presença — incendiasse cada canto daquele lugar que, até então, nunca significara nada além de um espaço de passagem.Ela parou no meio da sala, observando ao redor, e eu deveria ter ido direto ao quarto para me trocar. Mas meus olhos não conseguiam d

...Camila...Nos afastamos, rindo com respiração entrecortada. Ajeitei meu cabelo o melhor que pude e fui até a porta. Quando abri, dei de cara com Juliana segurando uma sacola de empadinhas e um olhar escandalizado.— Ju?!— Meu Deus. Você tá de batom! Camila, você tá de batom... e seu cabelo tá bagunçado... Você tá... vivendo?!— Entra logo antes que os vizinhos escutem — puxei ela pra dentro, ainda rindo.Ethan apareceu com duas taças de vinho, e Juliana o olhou como se tivesse acabado de descobrir um segredo nacional.— Opa! Interrompi alguma coisa?— Um pouco — Ethan respondeu, com aquele sorrisinho sacana. — Mas fica à vontade.— Você tá com ele... na sua casa? Camila, você não é mais um ermitão emocional!— Vai se acostumando — respondi, puxando ela para sentar conosco. — Fica, Ju. A gente ia pedir comida. Você escolhe.Antes que ela pudesse decidir entre pizza ou tailandês, o celular de Ethan tocou.— É o Dante — ele disse, e atendeu. — Fala, irmão.— Tô com comida japonesa pr

A luz da manhã entrava preguiçosa pelas frestas da cortina. O quarto de Ethan era silencioso, acolhedor... e completamente impregnado do cheiro dele — amadeirado, quente, masculino.Despertei devagar, os lençóis envoltos nas pernas, o corpo ainda colado ao dele. Estava deitada de lado, com a mão espalmada em seu peito nu, que subia e descia num ritmo tranquilo. O braço dele me envolvia pela cintura, e nossas pernas estavam entrelaçadas, como se nossos corpos tivessem aprendido a se encaixar perfeitamente durante a noite.Por alguns minutos, fiquei ali, apenas sentindo. O calor. A respiração. A segurança.— Bom dia — ele murmurou, a voz rouca, arranhando meu ouvido como um arrepio.Sorri, ainda de olhos fechados.— Bom dia.Ele se mexeu, e senti o toque dos lábios dele no meu ombro, depois no pescoço, com uma lentidão quase torturante. Meu corpo respondeu no mesmo instante, como se tivesse esperando por aquele contato a noite inteira.— Tenho uma confissão — ele disse, entre um beijo e