Aquele casamento não tinha sido algo que Beatriz roubara de propósito. Durante todo o matrimônio, Gabriel nunca sequer a tocara, e, ainda assim, ela sofrera tantos danos… Além do mais, fora ela quem manteve a decisão firme de se divorciar.De fato, não havia nada que a tornasse culpada diante de Vitória. Pelo contrário, talvez Beatriz fosse até uma mulher digna de pena.Na mente de Renato, surgiram lembranças de todos os sofrimentos que Beatriz havia enfrentado. A imagem, no entanto, acabou se fixando naquele braço fino, marcado por cicatrizes.Ele permaneceu em silêncio por um instante e depois enviou uma mensagem à secretária: [Procure Beatriz quando ela acordar. Quanto à compensação, deixe que ela mesma decida.]Do outro lado, ao ler aquelas palavras, a secretária não pôde deixar de refletir:“Em apenas quinze minutos, o chefe passou de negociar para aceitar qualquer preço. O que teria acontecido nesse meio tempo?”Ainda assim, não cabia a ele investigar. O dinheiro não saía do seu

As palavras caíram como uma pedra em um lago tranquilo. Eduardo, Letícia e Daniel viraram-se, espantados, para o ancião.Cinco por cento das ações do Grupo Pereira… O senhor Henrique realmente era generoso.Beatriz ficou olhando para ele, atônita e confusa.Ela tinha sido sequestrada, e de fato fora o senhor Henrique quem a salvara. Mas por que, então, ele estava lhe oferecendo participação acionária?Ela acabou dando voz à dúvida. O senhor Henrique apenas apertou os lábios em silêncio.Na sua idade, admitir abertamente os próprios erros era uma perda de orgulho. Assim, respondeu:— Eu lhe devo isso. Considere como uma compensação adicional ao acordo de divórcio.Letícia, ao ouvir aquelas palavras, lembrou-se do que Beatriz teria direito originalmente após a separação. Somando àquilo mais cinco por cento das ações…“Uau, minha melhor amiga acabou de virar uma milionária de verdade!”Mas antes que pudesse se alegrar por ela, ouviu Beatriz responder:— Não, senhor Henrique, retire essa p

O velho olhou para o homem ajoelhado junto à porta. Apenas ergueu um dedo, o semblante austero, e imediatamente os seguranças retiraram Gabriel dali à força.Por fim, o quarto mergulhou novamente em silêncio absoluto.Letícia, Eduardo e Daniel desviaram o olhar da porta e voltaram-se novamente para a cama.Letícia se aproximou, sentou-se à beira do leito e tomou a mão de Beatriz, trocando com ela um olhar silencioso, cheio de cumplicidade.Eduardo puxou um banco e se acomodou, comentando de maneira casual:— Você tem ideia de quanto valem cinco por cento das ações do Grupo Pereira?— Mesmo que seja uma fortuna astronômica, no fim não passa de uma sequência de números. — Respondeu Beatriz, com voz calma. — O que tenho hoje já me basta. Se com isso eu puder garantir a tranquilidade do resto da minha vida, tudo terá valido a pena.Daniel a observava em silêncio.Sabia que aquelas palavras ditas a Henrique só nasceram porque ela fora empurrada ao limite.E em seus olhos havia apenas dor e

Letícia estava cada vez mais aflita. Temia que Beatriz realmente voltasse a ser alvo de um atentado. Por que a vida dela tinha de ser tão cruel?E, no fundo, a raiz de tudo era apenas uma: Gabriel.Se não fosse aquele casamento, dois anos atrás, Beatriz jamais teria atraído para si a fúria de uma louca, de uma psicopata como Vitória.O quarto mergulhara num silêncio pesado.Daniel observava a jovem perdida em pensamentos, o olhar vago, como se a esperança de viver tivesse se dissipado. Ele tentou consolá-la:— Beatriz, não antecipe desgraças. Aqui estamos no Brasil, eles não ousariam agir tão descaradamente. Eu vou ficar ao seu lado. Se houver qualquer perigo, estarei aqui para te proteger.Beatriz ergueu os olhos para ele, mas logo balançou a cabeça.— Não, Daniel. Eu não quero que você seja arrastado para isso. Deixe como está. No futuro… Vamos vivendo um dia de cada vez.Ela não queria dever nada a mais ninguém. Já devia demais.A empresa de Daniel quase fora à falência, Letícia pre

— Beatriz está ferida, passou por dois sequestros, quase perdeu a vida… — A voz grave do Sr. Henrique ecoava pelo quarto. — E tudo isso não tem relação com Vitória? Ou melhor, não tem relação direta com você? Toda a dor dela foi causada por você. Gabriel, como pode suportar isso? O que Beatriz lhe deve? Em que ela lhe falhou? Deixe-a em paz, ela já sofreu demais. Dois anos de casamento foram um tormento, e ainda teve de enfrentar Vitória. Se você ainda é humano, se ainda tem consciência, eu lhe imploro… Basta!No centro do quarto, Gabriel permanecia de cabeça baixa, mãos cerradas, corpo tenso como uma corda prestes a arrebentar.Cada palavra do avô era como uma lâmina, cravando fundo em seu peito, fazendo-o arder em dor.— Quer que eu enumere suas feridas contra ela? — A voz firme continuou. — Dois anos em que a tratou como empregada. As bolhas nos pés, as fraturas, a intoxicação por gás… Mesmo quando era obra de Vitória, você não era cúmplice indireto? Olhe para Beatriz agora: resta a