Ao ouvir o nome “Gabriel”, Beatriz apertou os lábios. O rosto ficou ainda mais fechado.Preferia até que fosse o Eduardo.— Posso... Não ir? — Perguntou.— Sinto muito, Beatriz. Ele fez questão de que fosse você. Disse que, se não for, a negociação não segue. — Murilo suspirou, sem jeito. — O Grupo Pereira está oferecendo um contrato grande, de manutenção de segurança de uma das subsidiárias. É uma oportunidade enorme pra gente... Você não precisa falar nada, a gente vai te acompanhar o tempo todo. Você não vai ficar sozinha com ele, tudo bem?Beatriz abaixou os olhos, em silêncio.Como funcionária, sabia que tinha que pensar no bem da empresa.Além disso, Daniel também tinha sido prejudicado por causa dela. Quase perderam a empresa para Gabriel. Ela tinha mesmo que compensar de alguma forma.Era em plena luz do dia, dentro da sede da Aurora, com outras pessoas por perto... Gabriel não se atreveria a fazer nada como agredi-la ou sequestrá-la, certo?Depois de ponderar, respondeu:— Eu

Beatriz continuava imóvel, sem dar qualquer sinal de reação.— Dez minutos. Nem um a menos. — Rosnou Gabriel entre os dentes.O diretor de negócios lançou um olhar para a pasta nas mãos de Gabriel. O título do projeto, de fato, correspondia ao que haviam agendado.Discretamente, cutucou Murilo com o cotovelo.Murilo virou o rosto. O outro, com os olhos, sinalizou claramente: “Fala alguma coisa você.”Murilo retrucou com o olhar: “Por que não fala você?”Ela é sua subordinada. Sua palavra pesa mais que a minha.Murilo apenas suspirou.Aquilo, no fim das contas, era o mesmo que vender o tempo de Beatriz em troca de uma possível parceria.E pensar que ele tinha prometido que ela não precisaria fazer nada... Agora estava com a cara no chão.— Sr. Gabriel, por favor, sente-se. Beatriz, você também. Vamos conversar com calma. — Disse Murilo, forçando um sorriso, mesmo sem graça.Beatriz lançou um olhar rápido ao seu chefe. Suspirou por dentro.Depois olhou para Gabriel e respondeu:— Dez min

— Você disse: “Vestida desse jeito, vai mostrar pra quem? Tá se exibindo? Ou vai pra esquina vender o corpo?”Gabriel congelou.O ar sumiu dos pulmões.Aquela frase... Ele disse mesmo isso?Será que tinha mesmo sido capaz de dizer algo tão cruel?— Então me diz, Gabriel. — Beatriz falou, contendo a raiva com uma respiração profunda. — O que você quer de mim, afinal? Durante aqueles dois anos, eu não vivi exatamente do jeito que você queria? E agora você vem dizer que eu “não era assim antes”? Quer dizer o quê? Que só porque me separei, agora não posso nem escolher a roupa que uso?— Não foi isso... — Gabriel respondeu, instintivamente negando.Mas as palavras morreram na garganta. Não havia o que argumentar.Tentava lembrar daquela frase horrível que dissera.E sim, parecia real. Ele mesmo já havia cuspido aquilo um dia.O remorso apertou ainda mais o peito.No começo do casamento, ele tinha sido forçado a aceitar a união.Odiava Beatriz. Sentia-se sufocado, sem paciência.Naquela époc

Beatriz olhou para Gabriel e se assustou com o estado dele.O rosto e o pescoço estavam completamente vermelhos.Mas o que mais a chocou foram os olhos.De uma hora para outra, estavam tomados por veias avermelhadas, prestes a se encherem de lágrimas.Ela congelou. Ficou atônita, sem saber como reagir.Por que Gabriel estava com aquela expressão de choque e dor absoluta?Não era para, depois de ouvir tudo aquilo, ele finalmente desistir de persegui-la?Afinal, toda tentativa dele de usar o amor como amarra havia falhado.Ela já não sentia nada.Então... Ele ainda estava fingindo?Beatriz franziu levemente a testa. Pela primeira vez, surgiu nela uma ponta de dúvida.“Não posso negar que, se isso for atuação, é uma atuação brilhante.”Ela nunca tinha percebido que Gabriel tinha esse talento.Se não fosse por já saber a verdade...Se ainda tivesse algum sentimento guardado...Talvez, só talvez, teria acreditado naquela cena.O tempo passava em silêncio.A atmosfera dentro da recepção pare

Se ao menos houvesse um pouco.Só um pouco.Ele não teria perdido tudo de forma tão completa.— Eu gosto de você, Beatriz... Eu gosto tanto de você... — Gabriel murmurava entre lágrimas, a voz embargada de dor. — Quando você desapareceu, eu fiquei desesperado. Saí no meio de reuniões pra te procurar... Quando soube que você estava no hospital, me senti culpado, arrasado. Tive medo que estivesse se alimentando mal, por isso mandei refeições especiais... Depois que teve alta, comecei a sair mais cedo do trabalho, só pra poder passar mais tempo ao seu lado.Queria dividir o dia a dia, preparar a comida juntos, fazer as coisas simples com você... O celular... Fui eu que quis comprar pra você. O colar também. Não foi compensação. Foi presente, foi de coração. Mas você... Você rejeitou tudo. Tudo.Gabriel falava sem parar.A voz tremia.As palavras saíam entre soluços, descontroladas, carregadas de uma emoção crua.A sala inteira ficou em silêncio.Aquele homem que antes era orgulho puro, se