Dimitri Blackthorn O beijo dela ainda queimava nos meus lábios quando o uivo cortou o ar agudo, distante, mas inconfundível. Não era um chamado qualquer. Era um aviso. Afastei-me devagar, os sentidos aguçados de imediato. O cheiro da floresta, o vento mudando de direção, o coração acelerado sem saber exatamente por quê. Scarlett franziu a testa. — Você ouviu isso, não ouviu? Assenti, me levantando da cama em um único movimento. Peguei a calça jogada no chão e a vesti, os músculos em alerta. Meu lobo já se agitava sob a pele, reconhecendo que algo se aproximava. Algo antigo. Familiar. — Quem é? — ela perguntou, a voz agora tensa. — Dimitri...? — Dimitri morreu — respondi, com um meio sorriso sombrio. — O que sobrou dele não vai deixar ninguém tocar em você. Saí do quarto em passos silenciosos, guiado pelo instinto. No corredor, os quadros da antiga alcatéia ainda estavam pendurados, mas a casa já não tinha o mesmo cheiro. Estava impregnada de passado, dor e de algo novo: San

Scarlett Hayes Um trovão apareceu ao longe, como se o mundo respondesse ao peso daquela revelação. Dimitri passou a mão pelos cabelos, os músculos tensos sob a camisa rasgada. Seu lobo estava à flor da pele, mas seus olhos, os seus olhos estavam em guerra. — Então, tudo o que vivemos. — sua voz falhou, presa entre a raiva e a dor —Foi uma sombra do que já foi? — Não! — respondi, dando um passo à frente, com o coração batendo tão alto que mal ouvia minha própria voz — Foi real. Tudo foi real, Dimitri. Se eu fui usada, não foi por vontade minha. E eu nunca deixei de ser eu, e não deixei de te escolher. Então, Séfora tocou meu ombro. — A escolha ainda é sua, Scarlett. Mas agora, você tem mais do que sua história. Tem poder. E ele vai despertar completamente quando fizer sua escolha. Não sobre amor, mas sobre quem você quer ser quando o passado tentar te consumir. Um vento frio varreu o salão de pedra onde estávamos. A presença dele, eu ainda podia sentir, era o Dean. As sombra

Scarlett HayesA cabana no alto da colina era cercada por árvores antigas, grossas, como se a própria natureza quisesse proteger o que havia ali dentro. Alec ficou de guarda a noite inteira, e Séfora não saiu do meu lado, um segundo sequer. Mas agora, era só eu e Séfora.Ela sentou ao meu lado na pequena sala aquecida pela lareira. Suas mãos estavam firmes sobre as minhas, e seus olhos, tão parecidos com os de Dimitri, me diziam tudo o que ela ainda não conseguia verbalizar.— Eu odeio isso — confessei, com a voz entrecortada. — Estar longe. Esperando. Sem saber se ele vai voltar.— Ele vai voltar — ela disse, com a convicção de uma irmã que conhecia o lobo que ele era. — Dimitri nasceu para lutar. Mas por você e pelo bebê, ele irá vencer.Suspirei e toquei meu ventre. O calor daquela nova vida me lembrava que havia algo crescendo ali. Algo forte. Algo que nem mesmo Dean conseguiria destruir.— Sabe, Séfora, eu não tenho ninguém. Nenhuma família viva. Nenhum sangue que compartilh

Scarlett HayesA voz masculina ecoou perto da porta, grave e carregada de ironia. Virei o rosto devagar, e quase perdi o fôlego.Ele era parecido com Dimitri. Idêntico, era alto, ombros largos, os mesmos traços marcantes. Mas havia algo mais frio, mais calculista nos olhos dele, um azul tão profundo que chegava a gelar a espinha. Um sorriso perigoso brincava nos lábios dele.—O que você quer?— minha voz saiu trêmula, quase como um sussurro.Ele avançou alguns passos, aproximando-se até ficar diante da cama. Eu quis recuar, mas a dor não me deixou.— Não preciso de nada, já estou com o que quero— ele disse, com aquela calma apavorante de quem tem certeza do próprio poder. — E, infelizmente, pra você, agora está em apuros, Scarlett.Engoli em seco. O irmão do Dimitri? Como assim? Ele não havia sido morto? Como poderia estar vivo?— O que você quer de mim? — consegui perguntar, sentindo as mãos suarem.Ele riu baixo, se aproximando ainda mais. Me encurralou, apoiando uma das mãos na cab

Dimitri Blackthorn O peito subiu e desceu com violência. As lembranças me atingiram como lâminas: o sangue, os corpos, os filhotes mortos, a insanidade dele. Eu não tinha escolha. Eu precisei bani-lo, depois de tanta destruição vinda dele. — Eu salvei nosso povo de você — cuspi, cada palavra sendo um golpe. Dean arqueou a sobrancelha, zombeteiro. — Salvar? — bufou. — Você me largou para morrer, Dimitri, matou o meu lobo, ou melhor, acreditou que matou. Mas eu sobrevivi. E agora, voltei para buscar o que me pertence. Um rosnado se formou no fundo do meu peito. — Você está morto para todos nós — afirmei, frio como gelo. Ele abriu os braços, teatral, sorrindo de forma quase carinhosa. — Pois bem, irmão. Considera isso uma nova vida, talvez eu seja como um gato que tem várias vidas. E como você tirou uma das vidas de mim, eu tenho minhas condições. Ele estalou os dedos. Um capanga entrou, trazendo um tablet, e girou a tela para mim. Scarlett. O coração parou de bater por um se