A paisagem do lado de fora, banhada pelo pôr do sol alaranjado, parecia envolta em uma aura de calor e suavidade. Por um instante, parecia que todas as memórias do passado, todas as feridas, jamais tinham existido.Por entre uma leve névoa de fumaça, os olhos de Bruno, profundos e intensos, se fixaram em Helena。— Eu sei que você me odeia, sei que quer o Gonçalo de volta, mas o Gonçalo não pode. Helena, eu não sou machista, não é porque quero o filho homem para herdar a família Lima, nada disso. É simplesmente porque... O Gonçalo é a minha vida.Por quê?Porque agora, Bruno só tinha o Gonçalo.O tempo passou, os anos mudaram tudo. Dos três anos, Gonçalo passou dez meses na incubadora.Naquele acidente de carro, Bruno passou dois meses deitado em um leito de hospital. Quando começou a melhorar, transferiu seu quarto para o mesmo hospital onde Gonçalo estava. Todas as noites, arrastava seu corpo debilitado para ver seu Gonçalo.Um braço, ele não lamentava perder. Desde que Gonçalo contin

Bruno vestiu um roupão com uma das mãos e saiu do banheiro.Aquela noite de reencontro estava destinada a ser uma noite sem sono. Bruno, raramente tendo um momento de descanso, se permitiu pensar em Helena, mesmo com ela logo no quarto ao lado.Mas eles não eram mais marido e mulher. Perturbar o silêncio da noite seria ultrapassar os limites.Além disso, ela ainda o odiava.Na sala de estar, em frente à janela panorâmica, ainda estava o piano de cauda. Bruno foi até o bar, pegou uma garrafa de vinho tinto e se serviu de uma taça. Ele se encostou ao piano, saboreando lentamente o vinho enquanto olhava pela janela, perdido em memórias do passado.Certo e errado.Amor doce e amargo, e também dor.Bruno abaixou a cabeça e olhou para sua mão direita ferida. Ele tentou segurar a caneca e a levar aos lábios, mas sua mão tremia tanto que, por fim, a caneca transparente caiu no chão.O líquido rubro do vinho se espalhou pelo tapete bege, o manchando com uma cor viva e intensa.Bruno ficou parad

Helena voltou para casa.Agnes, preocupada com ela, não tinha dormido bem a noite inteira. Assim que a viu chegar, preparou pessoalmente um chá quente e se sentou para conversar.Ao falar de Gonçalo, Helena demonstrava uma mistura de alegria e tristeza. Ela disse à mãe.:— Apesar de ter nascido junto com Bella, ele é um palmo mais baixo que ela e tão magrinho. É evidente que ainda está faltando algo nele. Precisamos cuidar bem dele.Ao ouvir isso, Agnes também ficou emocionada e concordou imediatamente que deveriam cuidar melhor dele.Após uma breve hesitação, ela perguntou à filha sobre sua vida amorosa.Ela sabia sobre Rui. Na época em que estavam na França, ele a visitou várias vezes. Ele era um amante das artes, um colecionador, e tinha muitas conversas em comum com Helena.Antes de voltar ao país, Helena estava um pouco balançada. Mas agora, com Gonçalo, tudo certamente era diferente. Ela queria entender os pensamentos de sua filha.O aroma do chá preenchia o ambiente.O rosto de

Mansão Torrente.Quando o céu começava a escurecer, Helena levou Gonçalo de volta para casa.As altas figueiras, com seus galhos densos e folhagem exuberante, bloqueavam o céu e abafavam grande parte da luz que escapava da mansão. O céu azul-escuro espreitava por entre as folhas, projetando manchas escuras e irregulares.Helena desceu do carro e, com relutância, pegou Gonçalo nos braços no banco de trás. O pequeno estava suado, mas ainda exalava aquele cheirinho agradável de bebê.Helena o encheu de beijos, sem conseguir se despedir. No entanto, ela sabia que não poderia passar a noite ali novamente.Gonçalo também não queria deixar ela ir. Abraçava a mãe com força, enquanto seu rostinho, sob a luz do crepúsculo, parecia ainda mais branco e macio, irresistivelmente adorável.Nos degraus da entrada, uma figura alta estava de pé: era Bruno.Helena ergueu os olhos e encontrou o olhar dele. Ele parecia estar ali à espera, com algo a dizer.Helena acariciou suavemente a cabeça de Gonçalo e

Ao reencontrar Bruno, Helena se sentia tomada por uma mistura de emoções.As palavras da Sra. Rocha ainda ecoavam em sua mente: "Quando você teve complicações no parto e eu mandei o Bruno se ajoelhar, na verdade, foi só para extravasar minha raiva."Tantos anos se passaram, e o Bruno nunca mencionou nada.Bruno era alguém que sempre usava todas as cartas na manga para fazê-la ficar, mas, surpreendentemente, nunca falou sobre isso.Sob as luzes brilhantes, os olhos de Helena refletiam um vazio. A Sra. Rocha, sendo uma mulher astuta, percebeu imediatamente que Helena não sabia de nada. Consciente de sua indiscrição, pegou Joana nos braços e saiu apressada.No longo corredor, restaram apenas duas pessoas, o que tornava o ambiente ainda mais desolado.Bruno continuava como sempre, com um paletó jogado sobre os ombros. Seu rosto magro, iluminado pela luz, parecia ainda mais marcante, carregando o charme característico de um homem maduro.Ele caminhou lentamente em direção à Helena, e sua vo