A noite caiu sobre o pântano como uma praga silenciosa. O fedor de coisa morta era sufocante, penetrava nos pulmões com cada respiração. Dentro daquele quarto escuro e abafado, Alade estava deitada, o corpo imóvel, os olhos abertos — mas a mente presa em um turbilhão.As palavras de Colen ainda ardiam em sua memória. A ameaça era real. Vampiros e lupinos lado a lado, sedentos por sangue e poder. Se invadissem Montanha de Ouro, destruiriam tudo o que seus pais haviam construído. Mas havia outra coisa que a deixava inquieta. Uma visão que se repetia como um castigo...Aaron.Acorrentado, nu, exposto, oferecido como banquete para aquelas criaturas. E ele... não lutava. Seu olhar era calmo, resignado, quase... entregue. Aquilo a deixava doente.E ainda assim... o pior era admitir que mesmo acorrentado, mesmo cercado de luxúria macabra, ele ainda era o homem mais irresistível que já havia visto. Seu corpo perfeito, o olhar dominador, a forma como os lábios se curvavam em desprezo — e dese

Astar e Alade se afastaram o máximo que puderam da aldeia em ruínas, cruzando destroços como sombras silenciosas. A floresta, embora à vista, parecia sempre distante.Exaustos, pararam ao lado de uma velha casa abandonada. Astar não perdeu tempo — vasculhou o local com olhos de predador. Quando voltou, os ombros rígidos denunciavam que não havia mais ninguém por perto.Alade não resistiu. Lançou-se em seus braços, o peito arfando, o coração apertado.— Deuses... eu pensei que nunca mais veria você — sussurrou com a voz trêmula, quase infantil.O irmão a envolveu num abraço forte, ancorando-a em meio àquele mundo em colapso.— Aposto que nunca ficou tão feliz em me ver.— Não. — E os dois riram, ainda que a dor rondasse a alegria como uma sombra persistente.— Como me encontrou?— Embarquei num velho barco clandestino — começou ele, ofegante —, aconteceram umas coisas... acabaram ficando pelo caminho. E eu vim sozinho. Cheguei faz quase duas semanas. Quando vi essa aldeia, percebi...

A náusea de Alade naquela manhã fria era mais do que física Os olhos estavam fundos, sem sono, sem paz, sem respostas. A única coisa que queimava nela era a incerteza: Astar ainda estava vivo?Quando a maçaneta girou com um rangido, ela se virou em sobressalto. Um lupino que jamais havia visto antes adentrou sem cerimônia — A senhora deve me acompanhar.Sem responder, Alade apenas assentiu. A garganta seca demais para palavras. Desceu as escadas lentamente. A sua frente, havia Um salão escuro, velho, coberto por tapeçarias empoeiradas. No centro, uma mesa longa. Repleta de comida — carnes fumegantes, bolos enfeitados, frutas frescas, jarros de vinho. Um contraste grotesco com o horror que ainda pingava das paredes daquela mansão maldita.Antes que pudesse se sentar, a voz cortante de Colen atravessou o salão.— Calminha. — O som seco da bengala contra o chão ecoou como um trovão. Colen surgiu da penumbra, caminhando lentamente como uma cobra se aproximando da presa. — É falta de e

Alade não dormiu naquela noite. O corpo rígido de Aaron a envolvia como uma prisão quente, os braços dele apertando sua cintura com uma posse instintiva, animalesca, como se quisesse impedi-la de escapar até nos sonhos.Mas não era o toque que mais a atormentava.Era o nome."Mena."Ecoava como um sussurro maldito em sua mente. Um sussurro que arrancava pedaços de sua paz.Quem era ela? Por que ele a confundira com aquela mulher?Seus olhos vagaram pelo rosto adormecido de Aaron.Tão sereno. Tão humano naquele instante. Era quase revoltante.— Não pode ser amor... — murmurou consigo mesma. — Você é incapaz de amar. É um monstro...Mas algo dentro dela não conseguia parar de se perguntar...E se fosse?A luz do amanhecer ainda não tocava as paredes de pedra quando ela se esgueirou para fora da cama, movendo-se como uma ladra.Seguiu até o banheiro, e lá ficou pensativa. Precisava descobrir a verdade sobre Mena. E rápido.Minutos depois, Ele havia acordado.Aaron levantou-se, aparenteme

Assim que Alade se pôs de pé, sentiu uma fisgada no estômago. A náusea veio como uma onda rápida.Heleana já a esperava do lado de fora, com os braços cruzados e um sorrisinho entediado no canto dos lábios pintados.— De novo enjoo? — perguntou num tom quase cantarolado.— Sim. — Alade respondeu sem emoção, tentando disfarçar o desconforto.Mas Heleana sorriu. Um sorriso afiado, venenoso.— Deveria ver o curandeiro de Colen. Ele pode ajudar... com a gravidez.Alade a encarou como uma flecha pronta para disparar.— Eu não estou grávida.— Não? — Heleana fingiu surpresa, inclinando o rosto com um brilho perverso nos olhos.— Não! Já se passou um mês que estou aqui. E nenhum sinal aparente de gravidez.A vampira levou a mão ao queixo, pensativa, como se apreciasse o sabor da dúvida.— Tem certeza? Seu período já veio? Você sente enjoo todas as manhãs, e... — seus olhos desceram lentamente até a barriga de Alade, como uma carícia incômoda — está um pouco mais gordinha. Não sei se reparou.