Ao ser impedido de sair, Cardoso fez um escândalo, chamando a atenção das pessoas para ele. Mas, não demorou muito para outro grito chamar a nossa atenção novamente. Olhamos para a frente e Vanessa estava apavorada olhando para Cardoso. Fiquei momentaneamente sem entender, até que lembrei de minhas suspeitas. Iane e Lívia correram apressadas até ela e fizeram uma barreira na frente dela. As duas estavam fora de si. Só havia raiva em seus semblantes, enquanto Vanessa chorava copiosamente. — Se chegar perto dela seu miserável, acabamos com você! — Iane gritou para Cardoso. — Eu luto taekwondo a 15 anos e luto muito bem! — Lívia completou. — Posso saber o que está acontecendo aqui? — A Meritíssima perguntou confusa. — Esse homem... — Iane respondeu. — O que tem esse homem? — a juíza tornou a perguntar. — Tentou matar ela. — Iane explicou apontando para Vanessa. Suas palavras trouxeram um alvoroço no ambiente, e até eu que estava desconfiado, fiquei surpreso por tal revelação.

— Sentiu-se acolhida? Você teve a ajuda que precisava. — Ela tornou a negar. — Eles até me deram as vacinas e o coquetel anti-HIV. Os remédios me acompanharam por um mês e acabaram com meu organismo. Senti muita vertigem e dor de estômago, pedir férias antecipada, pois precisava cuidar dos meus machucados e entender o que tinha vivido. E ouvir das enfermeiras que talvez eu pensasse melhor antes de sair com qualquer um me machucou ainda mais. Me senti novamente violentada e isso me chocou ainda mais. Durante o mês tive diversas crises de pânico, chorava o tempo todo. Tentei me recompor para ir ao trabalho, mas, quanto mais tentava me segurar, pior era. Quando voltei a trabalhar achei que tudo tinha acabado. Eu trabalhava no almoxarifado, parei de usar o elevador, fazia o possível para não encontrá-lo. Mas ele tornou a me perseguir, dessa vez na minha casa. Novamente ele me forçou a fazer sexo com ele. Tentei fugir, mas ele me bateu, e no fim, me ameaçou, ameaçou a minha família. Eu di

— O que foi? — Perguntei não contendo o riso de felicidade. — Conseguimos. — Eu... Estou sem acreditar. Eu nunca pensei que tudo isso aconteceria. Foi melhor do que se quer imaginei — Se acostume em pensar em coisas boas, Maicon, porque elas sempre acontecem. — Falei lembrando de minha preciosa Ana Beatriz. — Sei disso agora. — Ele respondeu fitando Maria , que abraçava a senhora Vera, mas não tirava os olhos do Maicon. — O que fará agora? — Felipe perguntou depois de o abraçar. — Ainda não sei... Tudo que sei são dos meus planos para amanhã. — Emendou enigmático. — O que tem amanhã? — Retruquei rindo ao ver sua fisionomia se iluminar. — Tenho um encontro com a Maria Luíza! — Ele sorri. — Se importam? Preciso abraçar as mulheres da minha vida. — Fique à vontade. — Comentei voltando a rir. — Vai lá, garanhão. — Disse Felipe, fazendo graça. Depois que Maicon se afastou, eu e Felipe nos fitamos e nos abraçamos rindo. — Edw, sei que a vitória foi esperada, mas... —

BEATRIZ— Um empadão de frango pelos seus pensamentos, Bea. — A voz de Lourdes invade meus pensamentos. Sinto a sua presença atrás de mim, franzi meu cenho, tomando mais um gole do meu café preto.É a segunda, quarta vez que ela me pega assim, hoje? Tento lembrar, mas não chego a nenhuma resposta.— Meus pensamentos não valem isso tudo. — Retruquei a fazendo rir e negar com a cabeça.— Está desdenhando de si mesma, ou desdenhando seu empadão? — Me perguntou, indignada, sorri ao constatar a seriedade em sua fisionomia, mas preferi não responder, pois estava fazendo os dois. Às vezes eu caia nos velhos hábitos de me colocar "para baixo" e quando isso acontece, tento me lembrar das palavras de Maria..."Critique-se menos, Bea, aceite-se gentilmente, melhore seu relacionamento com você mesma!"Tento fazer isso todos os dias, mas melhorar meu relacionamento comigo mesma é um processo lento e contínuo, ocasionalmente acontece dias como hoje, em que acordo preocupada, ou até mesmo frustrada.

Eu sabia que garanti os direitos das mulheres profissionais do sexo ao trabalho, segurança e saúde é um assunto que Lourdes começou a pensar a respeito faz um tempo. Durante o tempo que ela trabalhou como profissional do sexo, ela viu tantas mulheres perderem suas vidas, humilhadas, massacradas, usadas como um lixo descartável, julgadas pelas escolhas que elas fizeram em um momento de dor, ou simplesmente, por opção. Lourdes acredita que a regulamentação da prostituição pode reduzir os riscos que os profissionais do sexo enfrentam no exercício de suas atividades, mas a sociedade sempre vai contra ao que "fere suas leis e bons costumes", julgam as escolhas do próximo, o que ele come, veste, o corpo, como ele fala, se comporta, a cor da sua pele e até mesmo o cabelo. Nada está bom o suficiente! Ninguém é bom o suficiente! Ficamos um bom tempo conversando sobre os planos dela para o futuro e os meus planos. Às horas passaram rápido, quando demos conta disso, às crianças já estavam em