POV do CalvinFazia dez minutos que eu estava encarando o endereço dela no celular, tentando reunir coragem para sair do carro. Era ridículo. Já enfrentei aquisições corporativas e emboscadas em salas de reunião sem pestanejar. Mas isso? Isso parecia mais difícil.O prédio da Stevie se erguia diante de mim, bem diferente do mundo elegante e polido ao qual estou acostumado. Não era chamativo, mas era a cara dela. Honesto. Real. Como tudo o que ela faz, era autenticamente genuíno, sem pedir desculpas por isso.Eu não tinha um grande plano, nem um discurso ensaiado. Tudo o que eu sabia era que não podia continuar assistindo de longe, esperando que as coisas se resolvessem sozinhas. Eu precisava dizer algo.Não. Eu precisava dizer tudo.O corredor cheirava levemente a carpete velho e comida para viagem. Um lembrete de que o mundo da Stevie não era isolado pelo luxo como o meu. A porta dela era pintada de um bege sem graça, com um número de latão ligeiramente torto acima da abertura do olho

POV do CalvinA ligação chegou justo quando eu estava revisando um relatório financeiro no meu escritório. Era a Serena, e percebi imediatamente pelo tom seco da voz dela que havia algo errado.— Calvin, temos uma situação. — Ela nem se deu ao trabalho de cumprimentar.Recostei-me na cadeira e deixei o relatório de lado.— Que tipo de situação?— Uma situação séria. O vazamento do lançamento global… Parece que pode ter vindo do apartamento da Stevie.As palavras me atingiram como um soco no estômago, mas mantive a voz firme.— Isso não faz sentido. A Stevie nunca faria isso.— Eu sei. — Ela suspirou. — Pelo menos, eu acho que sei. Mas as evidências apontam para o endereço de IP dela. Discutimos por causa disso e... não terminou bem.Passei a mão pelos cabelos e já fui me levantando.— Vou falar com ela. Mas estou te dizendo, Serena: não há a menor chance de a Stevie colocar sua empresa em risco assim. Deve haver outra explicação.— Quero acreditar nisso. — Ela respondeu baixinho. — Mas

POV do CalvinA vibração do meu celular me tirava da concentração, o zumbido ecoando contra a superfície de vidro da minha mesa. Era mais um alerta, sem dúvida ligado ao vazamento na Étoile de Collin. As manchetes não davam trégua: “Escândalo Abala Lançamento Global”, “Etoile de Collin Está Perdendo o Brilho?”Eu não trabalhava lá. Não tinha nenhum interesse direto na empresa. Mas ver Serena e Stevie sendo arrastadas pela lama, principalmente Stevie, era como tentar ficar parado enquanto o mundo ao redor pegava fogo. Impossível.Passei a maioria da semana puxando fios nos bastidores, fazendo ligações e usando todos os recursos à minha disposição. Não porque precisava, mas porque queria. Porque não suporto a ideia de Stevie carregando ainda mais peso quando já tem tanto sobre os ombros.Naquele dia, eu me encontraria com uma especialista em gerenciamento de crises com quem já tinha trabalhado antes. Olivia era perspicaz, direta e uma das melhores no que fazia.Ela chegou ao meu escritór

POV da StevieA lente parecia estranha em minhas mãos no começo, como se me julgasse por negligenciá-la por tanto tempo. Girei o anel de foco para frente e para trás, tirando fotos de coisas aleatórias no meu apartamento: a pilha de roupa suja que eu ainda não tinha lavado, a tinta descascada no parapeito da janela, o vaso de margaridas murchas que o Calvin me enviara na semana passada.Não era nenhum trabalho revolucionário, mas, caramba, como era bom criar de novo.Durante semanas, eu tinha me sentido à deriva, sem rumo e presa dentro da minha própria cabeça. Entre a briga com a Serena, o circo da mídia e essa coisa toda de me tornar mãe, parecia que alguém tinha tirado a “Stevie” de dentro de mim e deixado só a casca. Mas naquele dia, com a câmera nas mãos, senti um lampejo de algo que não sentia fazia tempo: eu mesma.Baixei a câmera e olhei para as imagens na tela. Estavam cruas e bagunçadas, mas havia algo nelas que parecia… real.— Nada mal. — Murmurei para mim mesma, sorrindo p

POV do CalvinA mansão Lancaster parecia mais fria do que o habitual naquele dia, mas não era devido ao clima. Os tetos altos e os pisos de mármore polido amplificavam a tensão que sempre pairava no ar quando a família se reunia.Não era um jantar casual, tampouco uma reunião de fim de ano. Era uma “discussão preocupada”, como minha mãe havia colocado ao me convocar por um e-mail que mais parecia uma intimação. O momento não podia ser mais inoportuno.Entrei no escritório, onde meus pais e meu tio já estavam sentados. Minha mãe, como sempre elegante e severa, mantinha as mãos postas com perfeião sobre o colo. Meu pai, mais silencioso, mas igualmente imponente, se recostava na cadeira, com uma expressão imperturbável. Meu tio, por outro lado, não perdeu tempo.— Calvin. — Começou ele, com a voz afiada. — Precisamos conversar sobre o rumo que as coisas estão tomando. Sua vida pessoal está se tornando um problema.— Bom dia para você também. — Respondi, fechando a porta atrás de mim.— Nã