HARRY RADCLIFFEALGUMAS SEMANAS ATRÁSO jantar havia sido marcado para um restaurante discreto, mas bem frequentado no Upper East Side — o tipo de lugar que servia pratos elaborados sem precisar gritar sobre isso em letreiros dourados. Reservei a sala privativa no andar superior porque queria evitar olhares, distrações e, sobretudo, os paparazzi que começavam a farejar os meus movimentos com Ruby.Rosie chegou primeiro. Usava um vestido azul-marinho simples, com o cabelo preso num coque meticuloso, sem um fio fora do lugar. Ela passou álcool em gel nas mãos pelo menos três vezes antes de se sentar e ajeitou os talheres três vezes seguidas antes de sequer olhar para o menu.— Harry — disse num tom baixo assim que se aproximou de mim, mas com um sorriso que eu sabia que era real. — Estou feliz por você, mesmo, essa garota parece alguém com quem… você pode respirar.Assenti. Não era do meu feitio fazer discursos emocionais — e ela sabia disso melhor do que ninguém. Rosie tinha essa calma

HARRY RADCLIFFEO céu estava encoberto por nuvens espessas quando estacionei o carro em frente ao portão de ferro do cemitério. A estrada até ali fora longa, quase quatro horas de asfalto cinza e pensamentos amargos. Saí do carro em silêncio, o casaco escuro apertado contra o peito enquanto atravessava o portão enferrujado. Não havia mais do que duas ou três pessoas naquele lugar, e isso agradava-me. Detestava cerimônias, flores frescas e mentiras piedosas sobre mortos que nunca foram santos.Faltavam algumas semanas para o casamento. Steffan estava a resolver coisas com fornecedores da Radcliffe's e Ruby estava em outro compromisso, provavelmente com Milena, cuidando de detalhes que exigiam uma sensibilidade que eu nunca tivera.Estacionei o carro rente ao portão de ferro envelhecido e caminhei sem pressa entre os túmulos, desviando dos relevos úmidos do solo, os sapatos afundando levemente na terra macia.Caminhei por entre os túmulos com a precisão de quem conhece aquele lugar. Sab