Emma. Os latidos insistentes de Scott me puxam de volta à realidade, como um despertador inconveniente em plena madrugada. Destravo a porta e abro devagar, como quem teme o que vai encontrar do outro lado. Poderia muito bem ter um infarto agora, mas, sinceramente? Talvez eu prefira adiar um pouco mais esse destino.A sala está um verdadeiro cenário de guerra. De cabeça para baixo seria pouco — parece que um furacão passou por ali com sede de caos. O sofá, antes bege e limpo, agora está coberto de tinta guache. Uma invenção da Giulia para estimular a criatividade das meninas... A criatividade e a minha paciência.Lívia está no canto, tentando juntar uma quantidade absurda de brinquedos com a expressão de quem já desistiu da vida. Enquanto isso, Hope e Victória, em um misto de euforia e delinquência infantil, correm de um lado para o outro com Scott — o filhote de Dobermann que mais parece uma bola de energia — participando com orgulho da bagunça generalizada.Entro devagar, rezando pa

Narradora. Aquele fim de semana, para Emma, foi como um vislumbre de uma vida perfeita — daquelas que ela nunca ousou sequer sonhar. Ao lado de alguém especial, com duas filhas encantadoras e um cachorro sapeca, tudo parecia ter saído de um sonho bom. Se algum dia ela havia imaginado viver algo assim? Podemos dizer que não. O sábado passou preguiçoso, e Emma aproveitou cada segundo. Desde o café da manhã até o momento em que ela e Luke se tornaram modelos das gêmeas para uma sessão de moda improvisada. Entre risos e poses desajeitadas, as horas simplesmente evaporaram. Teve também uma tarde ensolarada na piscina do prédio, com direito a muitas travessuras, e uma noite de filmes — onde os quatro se espremeram no sofá, dividindo pipoca, mantas e carinho. Pela primeira vez em muito tempo, Emma se pegou agradecendo aos céus. Não apenas por tudo o que lhe fora devolvido… mas também pelo que ela sequer sabia que precisava. O domingo não foi diferente. Ela despertou com um café da ma

Emma. — Um dos principais motivos pelos quais estou em Chicago é por causa dos meus filhos. — A voz de Marrie cortou o ar pesado da sala. — Você e Giulia precisam saber a verdade sobre nossa família. Uma verdade que escondi por toda a minha vida. E também o verdadeiro motivo pelo qual Roberto te despreza tanto.Ela fez uma pausa, encarando Thomas, que apenas assentiu em silêncio, indicando que ela continuasse.— Pois bem, meu filho... — Ela inspirou fundo, como se puxasse coragem do próprio passado. — Quando jovem, fui forçada a me casar com um homem que nunca amei, por conta de um contrato arranjado pelos seus avós, muito antes de eu nascer. Esse homem era Robert Laurent Garcia. Acontece que, naquela época, eu já estava apaixonada por outro homem. Um homem maravilhoso, que me tratava como uma verdadeira princesa. O nome dele era Timothé. Timothé Laurent Garcia. O irmão mais velho de Robert.As palavras dela pairaram no ar como poeira antiga sendo levantada. Eu podia ver Thomas tenta

Emma. Saí da ala de recreação no terceiro andar depois de me despedir das meninas e me certificar de que tudo estava bem com elas. Logo após deixar a sala do Adam, decidi passar ali antes de seguir para o escritório, onde Wanessa estava entretendo as gêmeas com alguma atividade lúdica.Desde que vieram morar conosco, elas têm se saído muito melhor em situações sociais. A timidez ainda aparece de vez em quando, mas agora elas interagem, conversam, e até fazem piadas. É reconfortante ver o progresso. Estamos apenas esperando a audiência para conseguirmos a guarda definitiva. Por enquanto, optamos por não colocá-las na escola — o ano letivo já está terminando, faltam cerca de três meses para as férias de verão. Como aqui as aulas começam em setembro, seria um estresse desnecessário para elas.Assim que as portas do elevador se abrem no térreo, sigo direto até a máquina de café. Já eram dez e quarenta da manhã, e sim, eu sei que tecnicamente já deveria estar na terceira xícara, mas vamos

Emma. — Você. — Matthew voltou o rosto em direção a ela, com os olhos carregados de rancor. — Por cinco anos, eu me martirizei achando que você havia morrido por minha culpa. A nossa mãe me culpou pela sua morte, sua vagabunda. Ela morreu sem olhar na minha cara... por sua causa. Morreu de desgosto depois da sua suposta morte, e até o último suspiro, ela me odiou. Disse que eu havia matado a garotinha dela.Sua voz tremeu, mas não perdeu a fúria.— A nossa mãe tirou a própria vida porque não suportou a dor de te perder. Enquanto isso, você estava por aí, viajando pelo mundo, fingindo que nada tinha acontecido.O estalo seco cortou o ar. Amanda levou um tapa tão forte que sua cabeça virou, apoiando-se numa das mãos, atordoada.— Você não é minha irmã. É uma prostituta. A minha irmã morreu naquele acidente de carro. — ele finalizou, com um frio na voz que parecia congelar tudo ao redor.Matthew então virou as costas e saiu do escritório, batendo a porta com força.— Sua desgraçada! Por