Emma As garotas me olham com certa confusão, como se tivessem sido pegas no flagra sem nem saber do que estavam sendo acusadas. Me mantenho calma, tentando não transparecer o quanto estou frustrada com o caos desse dia, enquanto uma delas se levanta devagar, um pouco hesitante.— Senhorita Mitchell... — ela começa, com a voz quase engolida pelo nervosismo.— Não. Emma. Emma Collins — a interrompo com firmeza, cruzando os braços. — Braço direito de Giulia Mitchell. E vocês, garotas, por que ainda estão aqui? Já deveriam estar no sexto andar. Vamos, peguem suas coisas. Eu mesma vou acompanhá-las.— Não foi nossa culpa — respondeu outra, rapidamente. — A recepção barrou nossa entrada. A recepcionista se recusou a liberar os crachás, mesmo quando explicamos que éramos as modelos do ensaio.— Certo... — soltei, tentando manter o tom profissional mesmo com a irritação crescendo — Estão todas com os responsáveis?As cinco garotas à minha frente assentiram. Devem ter, no máximo, uns dezessei

Um mês depois...NarradoraAs festas de fim de ano já haviam passado, junto com o breve recesso dos funcionários da Black Corporation. Para muitos, foi tempo de descanso, viagens e reencontros familiares. Para Emma, foi tempo de doar. Ela optou por passar o Natal no hospital, mesmo que Thomas já não estivesse mais internado.Com o coração leve e um sorriso tímido, ela ajudou voluntariamente na ceia distribuída aos pacientes — um evento tradicional organizado todos os anos. Como se não bastasse, ainda comprou presentes para as crianças com a ajuda da Black Corporation, que fez questão de participar da ação solidária.Quem diria que até o temido Thomas Mitchell se deixaria contagiar por aquele espírito natalino? Longe dos flashes, da badalação e dos escândalos, ele apareceu de forma discreta para ajudar no trabalho voluntário. E para surpresa de todos, ele pareceu genuinamente se divertir. Foi uma experiência completamente diferente do que estava acostumado: ao invés de boates cheias de

Thomas Narrando— Não brinca com isso, Thomas.A voz de Emma saiu trêmula, e seus olhos brilharam de emoção. As lágrimas que ela vinha segurando por dias finalmente começaram a se acumular, ameaçando escorrer por seu rosto.— Eu não estou brincando. — Respondi com suavidade. — Vem cá… Vamos vê-las, está bem? Vamos passar um tempo com elas.Ela me olhou por um instante, tentando absorver a informação. Então, puxei-a para um abraço apertado, que foi retribuído sem hesitação. Senti seus ombros tremerem contra meu peito.— Agora enxuga essas lágrimas e põe um sorriso nesse rosto — sussurrei, afagando seus cabelos com cuidado.Descemos do carro, um pouco apreensivos. Nosso olhar foi direto para a casa de número 54. Aquilo... não parecia certo.A fachada era sombria, os matos altos tomavam conta do pequeno jardim da frente, sufocando os degraus de cimento rachado que levavam até a varanda. As árvores ao redor estavam secas, os galhos retorcidos como garras apontadas para o céu cinzento. Um

Emma narrandoE cá estamos nós, de volta ao hospital. As meninas precisariam ser internadas — os exames mostraram uma imunidade perigosamente baixa, uma anemia severa e o início de um quadro de pneumonia.Como elas já não estavam mais sob responsabilidade do hospital, seria necessário que um adulto permanecesse com elas durante a internação. Avisei a Thomas que eu ficaria, e ele concordou prontamente. Ele precisava voltar à empresa, havia muitas pendências a serem resolvidas.Entre elas, tratar diretamente com os advogados sobre tudo o que havia ocorrido e dar entrada no pedido formal de guarda provisória das meninas.A pedido de Thomas, Carson veio até o hospital. Além de nos manter atualizados, ele também foi incumbido de investigar a fundo tudo relacionado ao suposto “pai” das meninas. Sabíamos que a história estava mal contada — e que qualquer detalhe poderia mudar tudo.Não seria um caminho fácil, ainda mais considerando tudo o que aconteceu com Thomas no final do ano passado… se

Emma. — Você não falhou, em momento algum. Estávamos ambos no limite e dissemos coisas que não deveríamos. Me perdoa por ter te mandado embora daquela forma.As palavras escapam da minha boca como um sussurro envergonhado, mas verdadeiro. Meus olhos se fixam nos dele, naquela imensidão escura que sempre teve o poder de me desnudar. O olhar de Luke nunca foi qualquer coisa — sempre me atingiu como uma flecha, certeira, intensa e impossível de ignorar. E agora, diante dele, depois de tanto tempo, percebo que não importa quantas vezes eu tente me convencer do contrário... eu nunca consegui odiá-lo. Nem quando quis, nem quando deveria.Eu o mandei embora. E mesmo assim, ele voltou.— Você não precisa me pedir perdão, pequena — ele responde, num tom baixo, quase como se as palavras fossem frágeis demais para o mundo ouvir.Me aproximo. Nossos corpos quase se tocam e, mesmo sem encostar, o calor dele me atinge como uma onda. Tomo suas mãos nas minhas. Sinto a firmeza, o calor, o tremor sut