02

– Não, fique tranquila – riu de novo – Quer geleia ou Leite Moça?

– Os dois.

– Serio?! Vai acabar ficando com dor de barriga desse jeito.

– Não me culpe por fazerem tudo tão gostoso! Agora passa aí o leite condensado.

Revirando os olhos, ele entrega o doce a morena de olhos castanhos.

– Então? Pronto para a nova escola?

– Não sei... Estou meio nervoso. E se eles me tratarem mal por causa da minha opção sexual? Ou por minha aparência?

– Relaxa cara... Até parece que você vai sair contando pra todo mundo que é gay. Se perguntarem, não tem que responder se não quiser. Somente se você confiar na pessoa... E se alguém ficar de implicância com você, vai levar uma surra minha!

O rapaz se calou, apenas sorrindo.

Estava feliz por ter uma prima tão gentil e que o defendia sempre. Os dois eram muito unidos, desde muito pequenos, e esse laço se mantinha forte até hoje!

Mas não era só sua opção que ele se preocupava.

Sua aparência era, digamos delatora demais. Tinha características andrógenas que, apesar de o deixarem extremamente bonito, sempre era algo que as pessoas podiam usar para o provocar e o magoar. Sua pele era pálida e quase nenhuma marca ou espinha, como se fosse de porcelana. Seus olhos eram castanhos claros e seus lábios tinham uma cor rosada e carnuda. Os cabelos com certeza chamavam a atenção, já que Abel o havia tingido algumas mechas vermelhas em sua franja loira ano passado. Ele sempre quis ter um cabelo colorido daquele jeito, pois o fazia lembrar-se de suas bandas de rock favoritas.

O visual, surpreendentemente, havia se encaixado perfeitamente nele, mas, apesar de gostar de sua aparência, tinha receio que seus novos colegas o achassem estranho demais.

Bem, tinha que ter paciência.

– Abel?

– Ah? Sim?

– Você está bem? Está tão calado hoje.

– Ah. Eu... Eu apenas sinto que hoje será um dia inesquecível.

– Porque acha isso?

– ... Apenas acho.

– Beleza então – disse meio receosa, achando estranha a afirmação do primo. Mas ela sabia que o primo não era de dividir tão facilmente os seus pensamentos profundos, então não insistiria nisso – Bem, é melhor nós irmos. Já deu seu horário.

– É mesmo – ele coloca a louça na pia e pega a sua mochila. Ambos vão até a garagem da casa de dois andares e saem no carro de Patrícia até o Colégio Domus Sapiens, na zona sul, onde Abel iniciaria um novo capítulo de sua intrigante vida.

O mesmo nunca imaginaria o que o destino estava lhe reservando.

***

Sete e meia da manhã.

O sinal toca na escola particular, e todos os alunos correm para entrarem em suas respectivas salas, antes dos professores entrarem.

Dante, no entanto, nem parecia nervoso em chegar atrasado.

Apenas andava tranquilamente pelo portão da escola até sua sala no segundo andar do prédio 3 da escola. O porteiro nem se deu o trabalho de o alertar do seu atraso, apenas o cumprimentando e dando alguns tapinhas nas costas do ruivo. Era mais que provável que levaria outro sermão do professor, mas o adolescente delinquente já estava acostumado com isso. Era quase uma rotina, que estava ficando até chata, diga-se de passagem. Apenas deu um suspiro pesado e subiu as escadas, indo até a sua sala do segundo ano. Lá dentro, os alunos já se arrumavam em seus costumeiros lugares, dos quais usavam desde o ano passado, e o professor da manhã falava sarcástico, ao ver o ruivo:

– Atrasado de novo, não é Dante?

– Bom dia para o senhor também, professor Kleber.

O professor apenas riu do seu aluno desleixado e pediu para que se sentasse. Dante gostava do professor de Artes, Kleber Lima, pois ele era bem tranquilo e legal, diferente de muitos outros professores dali, que eram mais sérios. Mas não que o professor não saiba ser duro de vez em quando, e talvez por essa personalidade tão serena que Dante o respeitasse mais que a maioria dos adultos, tirando seu irmão. De todo modo, o rapaz se sentou na terceira carteira na última fileira da sala do lado esquerdo, observando a sala toda sem muito interesse. Ele j**a sua mochila no chão, deitando sua cabeça em seus braços para descansar. A aspirina ainda não tinha dado efeito na dor de cabeça, e o mesmo sentia seu rosto arder e o estomago roncar de fome, mesmo que tivesse acabado de tomar café da manhã em casa.

Estava cansado e mal-humorado. Tudo de que ele mais precisava naquele momento.

– Bom dia classe – falou o professor, e todos o cumprimentam de volta – Antes de nós começamos a aula, eu gostaria que todos dessem boas-vindas ao aluno novo. Quer vim falar algo para seus colegas... Abelardo, sim?

– Sim, mas pode me chamar só de Abel – ele dá uma risada sem graça.

– Pois bem Abel, pode vir aqui se apresentar para seus coleguinhas? Não precisa ter vergonha – incentivou o professor com um sorriso simpático.

Abel, que estava calado em seu lugar devido lugar, não sabia se falava algo ou se simplesmente ficava como estava, quieto e na dele. Mas, ao ver que muitos o encaravam, quase que o incentivando a falar com seus olhares fixos e curiosos, viu que não tinha jeito. Então, apesar do mau jeito, ele se levanta e anda até a frente da sala.

Nessa hora, Dante vê o outro jovem pela primeira vez.

Sem dúvida, a primeira coisa que notou foi o cabelo. Que tipo de pessoa pinta o cabelo daquela cor? Apesar de que havia ficado muito bom no jovem e Dante não podia reclamar, já que seu cabelo era de um vermelho bem chamativo. E, olhando melhor o rosto do outro garoto, ele podia ver como ele parecia uma menina! Os olhos grandes, os lábios cheios e as bochechas redondinhas, tudo combinado num rosto em formato de coração. E aquela pele branca só o fazia parecer uma bonequinha de porcelana.

Era bonito, não podia contestar.

– Bem... Bom dia – disse Abel.

– Bom dia Abel! – disse a sala em unísso, dando pequenas risadas.

– Eu sou Abelardo Ferreira Gonçalves... Sou de São Paulo e moro na Barra Funda. Gosto de animes e de desenhar. E... Acho que é isso, espero me dar bem com todos.

– Muito bem – disse o professor – Obrigado Abel. Já pode se sentar.

Abel concorda e voltava a se sentar na sua carteira, abrindo sua apostila e seu caderno. De imediato, quando o professor começou a falar sobre alguns detalhes da aula, o adolescente sentiu alguém o cutucar nas costas. Ele estranhou aquilo na certa, mas pensou que seria alguém pedindo um lápis ou uma borracha emprestada. Quando se virou, viu um jovem, não muito maior que ele, sorrindo de orelha a orelha.

– Olá – disse o jovem de cabelos castanhos claros e olhos verdes, parecendo amigável.

– Olá.

– Meu nome é Danilo. Danilo Barbosa. Poderia me emprestar uma folha do seu caderno? Eu esqueci o meu em casa... – ele ri sem graça, coçando a cabeça.

– Ah sim! Sem problemas – Abel então retira uma folha de seu caderno do Diablo III e entrega para o colega – Aqui.

– Valeu. Hey?! Você gosta de Diablo?!

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