Capítulo 07

Marcela Andrade

Quais são as chances do homem que você gosta, estar te tratando como uma rainha? Poucas claro! Rafael nos últimos quatro dias depois do que aconteceu comigo decidiu ser meu companheiro de todas as noites. Que companheiro maravilhoso! Passávamos horas coladinhos no meu sofá de dois lugares, assistindo filmes. Naquele momento estávamos bebendo cerveja enquanto conversávamos assuntos aleatórios. Deixei de tomar as porcarias que o médico receitou, não me fez muito bem, então cortei.

Nunca antes estivemos tão próximos daquele jeito, precisou algo ruim acontecer para o melhor vir. Eu não queria saber de nada além de aproveitar sua companhia. Talvez fosse o momento de dar uma investida, tentei deixar de lado o nervosismo e olhei nos seus lindos olhos. Meu coração acelerou tanto que pensei que não conseguiria, demonstrar meus sentimentos por ele. Suspirei tocando sua face carinhosamente, sem desviar nossos olhares. No momento que senti sua mão quente tocar a minha, acreditei em uma possível declaração.

— Mah, acho que você está embriagada. — disse ele, tirando minha mão do seu rosto. Como? Digo, ele não tinha entendido ainda? Resolvi então esclarecer tudo para que entendesse.

— Eu quero você, Rafael! — afirmei, fitando seus lábios atrativos. Para a minha decepção ele pulou do sofá. Foi como se eu tivesse falado alguma coisa de errado, sequer consegui fechar a boca. Meu corpo travou no sofá e eu mal conseguia respirar.

— Marcela, somos apenas amigos, pensei que isso estivesse claro! — ele disse, demonstrando um tipo de repulsa por mim.

Fiquei envergonhada por ter pensado que talvez ele gostasse de mim também. Eu era apenas uma amiga? E por que ele sempre me tratou tão bem? Demonstrou tantas vezes sua preocupação por mim. Tudo que acreditei foi uma grande mentira? Era difícil de acreditar.

— É por que sou acima do peso? — questionei, com os olhos lacrimejando. — Responde! Eu sei que é isso!

Ele pareceu incomodado e em dúvida do que dizer, por alguns segundos desejei ouvir algo diferente, distante da palavra amigos. Eu não estava bêbada o suficiente para suportar um fora.

— Desculpe. — foi tudo que ele disse antes de sair pela porta do meu apartamento.

Ser rejeitada por um amigo era uma dor em dobro, talvez sentisse pena de mim, por essa razão demonstrava ser prestativo. Taquei na parede a latinha de cerveja e surtei, chutando a mesinha de centro.

— Por que ninguém pode me amar? Eu preciso ser magra pra ser desejada? — questionei-me caindo de joelhos em cima do carpete roxo.

Recordei de um dos piores momentos que passei na minha vida...

Eu tinha dezessete anos e estava completamente apaixonada, pelo garoto mais lindo da minha rua, porém, ele era um cafajeste e eu só descobri isso depois de perder minha virgindade com ele no quarto de sua casa.

— Fala sério! Para de chorar, garota! — gritou puxando-me de cima da cama. Ele era um pouco mais alto que eu, corpo atlético e um moreno de arrancar suspiros. Chorei porque depois de fazermos amor, ele deixou claro o que isso significava, no caso, não significava nada.

— Por que mentiu pra mim? — perguntei fitando o chão. Tudo não passou de uma diversão, ele não queria nada comigo. Prometeu que depois que fizéssemos amor estaríamos juntos de verdade, assumiríamos um relacionamento para todos. E eu caí na sua boa lábia, virando mais uma que passou pela sua cama.

— Você é uma gorda muito burra! Acreditou mesmo que fossemos ter uma relação? — questionou enquanto ria do meu corpo. Puxei a coberta da cama para cobrir meu corpo nu. Ele não parava de sorrir de contentamento. E eu me senti uma imbecil que nunca deveria ter confiado nele.

— Não faz isso, por favor, eu realmente gosto de você! — afirmei, derramando lágrimas amarguradas. Entrei em total desespero, então, implorei para que pensasse melhor.

O que ele fez depois? Debochou de mim e me fez sair pela janela de seu quarto sem roupas, apenas enrolada com a coberta suja de sangue. Desde aquele dia ele nunca mais olhou na minha cara, fiquei um bom tempo condenando minha escolha ruim, mas nada poderia ser feito. Eu me arrependi muito de ter caído nas suas garras.

O amor verdadeiro existia somente nos livros de romance. Rafael foi mais uma decepção que entrou para minha grande lista de fracassos. Caminhei até o quarto e em seguida joguei-me de bruços sobre a cama de solteiro.

— Por que sempre faço tudo errado? Nunca vou aprender? Nenhum homem vai querer estar comigo porque sou gorda. — murmurei, com o rosto enterrado no travesseiro. Chorei até pegar no sono.

Acordei no dia seguinte com parte do meu corpo para fora da cama. Minha cabeça parecia estar dentro de uma panela de pressão. Quando fiquei de pé senti minha perna direita doer. Saí do quarto indo para o banheiro, escovei os dentes e joguei água no rosto. Evitei encarar o espelho, pois sabia que provavelmente meu rosto estivesse péssimo. Saí caminhando até à sala depois de fazer um xixizinho.

Bati os pés com força no piso frio e grunhi. Tudo estava bagunçado e eu era a única que teria que colocar tudo no lugar. Comecei pegando as latinhas de cerveja e indo colocá-las no lixo da cozinha. Voltei para sala querendo chorar porque lembrei do jeito que Rafael fugiu de mim. Coloquei a mesinha de centro no seu devido lugar. A campainha tocou chamando minha atenção, estranhei porque ninguém havia telefonado para avisar que eu tinha visitas. Olhei para o relógio da parede e era quase meio-dia, era sábado e não tinha planejado nada com Talita.

Minha amiga tinha escolhido um péssimo dia para me visitar. Caminhei até à porta e segurei na maçaneta. Quando abri a porta pensando ser Talita, tive uma surpresa e tanto.

— Senhor Fonseca. — disse franzindo o cenho. Não era uma miragem na minha frente, realmente ele estava ali e de um jeito que nunca pensei que um dia fosse vê-lo, sem seu clássico terno azul. Ele usava uma camisa pollo vermelha e calça jeans preta com rasgos desfiados nas pernas, usava também um tênis. Bernardo Fonseca, usando tênis, não era uma coisa que se veria todo dia.

Pisquei os olhos repentinas vezes até ter uma atitude. Tentei fechar a porta, mas ele me impediu. Não queria que ele entrasse, pois não era bem-vindo.

— Por que não me ligou? Pensou que era brincadeira o que está no contrato? Não era! — falou rude aproximando-se. O cheiro forte do seu perfume não demorou nada para impregnar tudo.

Eu simplesmente paralisei e ele empurrou-me para o lado, adentrando sem permissão o apartamento. Passei os olhos pelo seu corpo e parei em sua mão esquerda que segurava uma mala preta de rodinhas. Me perguntei de onde tinha surgido aquela mala, talvez tivesse focado demais no seu corpo, por isso não a vi antes. Uma mala e um homem como ele na minha frente, significava que ele tinha mudado de ideia, entretanto, eu não iria junto com ele para nenhuma viagem maluca de trabalho.

— Estou de repouso, não vou viajar com o senhor! — disse com firmeza, aproximando-me dele.

— Você não leu o contrato que te enviei! — rosnou, dando um passo à frente. — Nos finais de semana, vamos passar juntos!

Era brincadeira, certo? Ele sabia meu endereço porque tinha no meu currículo da empresa, porém, ele não tinha direito algum de entrar sem ser bem-vindo para zombar de mim.

— Eu assinei o contrato, pode confiar um pouco em mim? Não vou fugir de trabalhar finais de semana para o senhor gratuitamente. — expliquei e continuei. — Não precisava vir até aqui para zombar de mim desse jeito!

— Você fez um acordo comigo, Marcela. Avisei para ler, mas você não quis! Custava ler a porra da cópia do contrato? — ele ficou tão bravo que conseguia enxergar as veias do seu pescoço saltarem. — Sou seu hóspede aos finais de semana até nosso acordo encerrar. Trouxe algumas roupas para deixar aqui. Onde fica meu quarto?

Meu Deus! Era sério! Bernardo Fonseca ficaria sim, no meu apartamento, finais de semana. Errei feio ao assinar um contrato sem ler, por consequência não ficaria em paz com sua presença indesejada.

— Só tem um quarto. — informei, colocando uma das mãos na cintura e continuei. — O senhor, vai dormir no sofá!

— No sofá? Quem pensa que sou? Um cachorro?

Juro que quis respondê-lo com um sim, todavia, não queria confusão.

— Não vou te dar meu quarto!

— Você não tem escolha, caso não faça minhas vontades, terá que me pagar uma multa de seis mil reais!

Seis mil reais? Por que fui tão tola em enfrentar aquele homem poderoso? Não passou pela minha cabeça que isso tornaria minha vida um caos. Meus finais de semanas não seriam os mesmos convivendo com o diabo chamado Bernardo Fonseca.

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