6 - Que escolha eu tenho?

- O que eu devo fazer agora? – perguntei, olhando nos olhos de Lohan.

Ele se levantou e pegou o pergaminho para ver as assinaturas.

- Por agora, não há mais nada a ser feito. – Ele sorriu para mim. Um sorriso normal, sem malícia, sem desejos ocultos. – Pode aproveitar a festa e depois vá para casa. Em dois dias alguém irá busca-la para leva-la para Montana. Muriel nos dará seu contato e seu endereço.

Me levantei. Browen e Muriel se levantaram comigo.

- Não preciso alertá-la para não fugir, não é? – Lohan olhou para o meu criador e depois para mim. – Espero que tudo ocorra bem, para que seu pai não precise escolher outra pessoa para tomar seu lugar.

Eu queria que Muriel escolhesse outra pessoa, mas eu não podia fugir. Ele me encontraria. E se eu pensasse em dar um passo sem a autorização dele, estaria condenando Alec.

- Estarei aguardando ansiosamente. – Tentei forçar um sorriso, mas sabia que se tentasse, iria começar a chorar e não iria mais parar por nada no mundo.

Lohan enrolou o pergaminho e o colocou dentro do seu sobretudo, em um bolso interno.

- Tenho certeza que sim.

Ele se despediu de mim, de Muriel e de Browen, então saiu da biblioteca com seus amigos e eles foram embora.

Browen saiu da sala e nos deixou a sós.

Deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto em silêncio.

Muriel se afastou de mim e foi buscar uma bebida para si.

- Aceita um drink? – ele perguntou, me fazendo encarar as suas costas com raiva.

- Enfie esse drink no seu...

- Olha a boca! – ele me interrompeu.

Funguei e passei a mão na ponta do nariz.

- Você disse que me amava – lembrei.

Ele se virou para mim com o copo mais cheio que o necessário.

- E eu amo, Alena.

Neguei com a cabeça, tão triste e decepcionada que não via a hora de ir embora com Alec para tentar esquecer aquilo por uma noite.

- Se me amasse de verdade não teria feito isso comigo. – Solucei e tapei a boca com as mãos por alguns segundos. – Eles vão me matar.

Caí sentada no sofá e Muriel veio até mim, deixando seu copo na mesinha das bebidas, sem se importar com sua dose de álcool.

- Eles não vão matar você. O tratado é para a sua segurança também – ele me garantiu, com uma das mãos nas minhas costas. – Eu nunca permitiria que eles te machucassem. Fiz isso porque sei que você é forte e vai aguentar isso de cabeça erguida. Vai fazer tudo certo, vai se casar com William e vai lhe dar um filho.

Abaixei as mãos do rosto para olhá-lo nos olhos.

- E se eu não conseguir? E se eu fizer algo de errado que o deixe zangado?

Ele secou as minhas lágrimas antes que borrassem a minha maquiagem.

- Eu mesmo o mato, e cada um que ficar na minha frente – ele prometeu.

- Mas então eu já estaria morta.

Uma promessa de vingança não era nada se eu morresse no fim daquele tratado idiota.

Uma lágrima escorreu até o meu lábio e Muriel o secou delicadamente. Eu fechei os olhos e senti meu corpo esquentar, como havia acontecido durante a nossa dança.

Mesmo com raiva, eu o desejava ardentemente. Eu podia chama-lo de pai, mas ele não era meu pai de verdade. Era apenas meu criador. Quinhentos anos mais velho que eu. Lindo e sedutor, até mesmo quando me mandava calar a boca.

Eu virei a cabeça de lado e o olhei nos olhos.

Ele estava olhando para os meus lábios, com tanto desejo quanto eu.

Eu toquei sua mão e a desci pelo meu corpo, sem tirar da minha pele. Sua mão desceu pelo meu pescoço e repousou sobre meus peitos, que subiam e desciam do decote com a respiração pesada.

- Alena – ele sussurrou meu nome e fechou os olhos.

Eu me inclinei e o beijei nos lábios, sentindo uma euforia se espalhar pelo meu corpo.

Sua voz havia se tornado doce e sensual, me chamando para ele.

Coloquei uma mão em sua nuca e o puxei para mim, aprofundando o beijo até que ele abrisse os lábios e nossas línguas se tocassem.

Ele gemeu de prazer e eu não sabia o quanto sentia falta daquele som até escutá-lo.

Sua mão foi para a minha cintura e ele me puxou para o seu colo.

Infelizmente a saia do vestido era grande demais e ele demorou muito para conseguir colocar a mão por baixo para tocar em minhas coxas.

Já havíamos nos beijado antes e nos tocado em algumas partes, mas nunca tínhamos feito sexo. Quinhentos anos juntos e aquele toque firme na minha coxa era o mais próximo do meu corpo que ele chegava.

Eu queria tê-lo para mim. Pelo menos uma vez antes de me casar com um lobo e ter um filho de um completo estranho.

Afrouxei a gravata de Muriel e senti suas mãos me detendo.

- Não – disse ele, com os lábios ainda colados aos meus. – Não podemos.

Apoiei minha testa na dele e lhe dei um pequeno selinho nos lábios.

- Poderíamos ficar juntos se você não tivesse feito esse acordo.

- Ainda assim seria errado. Eu criei você.

Saí de cima dele e me sentei no sofá ao seu lado.

- Você não é meu pai. Não há nada que nos impede além de você.

Ele ajeitou a gravata e suspirou.

- Eu vejo todos como meus filhos, mas você não está me ajudando a fazer o mesmo com você.

Ele parecia triste consigo mesmo.

Eu me levantei e arrumei a minha saia.

- Eu sempre gostei de você Muriel. – Não olhei em seus olhos ao lhe contar isso. – Preferia que outro vampiro tivesse me transformado. Assim eu poderia ficar com você sem restrições.

Ele se levantou do meu lado e tocou meu queixo, para que eu o olhasse.

O tesão fazia seus olhos verdes brilharem e ficarem da cor de um lago.

- Acredite, eu queria isso também. – Ele suspirou e beijou minha testa. – Quem sabe um dia.

Eu sabia que aquele dia nunca chegaria. Por mais que eu não envelhecesse, ainda poderia morrer de várias formas. Poderia morrer pelas garras ou pelos dentes de um lobo antes de ter a oportunidade de passar uma noite com quem eu realmente queria.

Muriel ajeitou a minha maquiagem até que eu estivesse apresentável novamente.

Eu parecia ter me acalmado um pouco, mas assim que saímos da biblioteca tudo o que havia acontecido voltou com força, junto com a vontade de chorar.

Alec estava do outro lado do corredor, andando de um lado para o outro.

Eu o abracei com força e enterrei minha cabeça em seu peito.

Ele encarou Muriel por cima do meu ombro, mas não disse nada, apenas me tirou dali.

Ao invés de voltar para a festa, fomos para a porta de entrada. Me devolveram meu sobretudo preto e saímos pela porta.

Benjamin apareceu com a limosine, ao pé da escada. Alec foi na frente e abriu a porta para mim, depois entrou e fechou a porta do carro.

Eu fui para o outro lado e coloquei a testa no vidro gelado da janela.

- Alena – chamou Alec. – Fala comigo.

Fiquei em silêncio, mas estiquei a minha mão sobre o banco de couro e alcancei seus dedos. Alec deslizou até o meu lado e colocou o braço sobre o meu ombro, me abraçando e me deixando chorar em silêncio.

Ele não fez mais nenhuma pergunta até chegarmos em casa.

Benjamin abriu a porta e saímos juntos.

Dorothea abriu a porta da casa e sorriu. Ela parecia cansada e o cheiro de produtos de limpeza indicavam que ela estava trabalhando, mesmo já estando tarde da noite.

Eu pedi que ela terminasse no dia seguinte e que fosse para seu quarto descansar. Ela obedeceu e trancou a porta antes de ir se deitar.

Eu finalmente havia parado de chorar, mas ainda não estava acreditando no que estava acontecendo.

Eu havia saído de casa horas antes como uma mulher solteira, e havia voltado naquele momento estando noiva de um desconhecido.

Alec me levou até meu quarto e ficou parado na porta com os braços cruzados.

Eu fui até o meio do quarto e olhei em volta, me sentindo como se fosse outra pessoa.

Suspirei e dei meia volta, sabendo que meu amigo queria dizer alguma coisa.

Ele deu um passo na minha direção e olhou nos meus olhos.

- Não pode ser verdade isso, não é? – ele balançou a cabeça de um lado para o outro, como se não quisesse aceitar.

Mordi os lábios e dei de ombros. Eu não queria voltar a chorar.

- É verdade, Alec.

Meus olhos lacrimejaram e eu pisquei rapidamente.

Ele descruzou os braços e pareceu se enfurecer.

- Isso não vai acontecer. Você não vai se casar com um lobisomem – ele disse fechando os punhos.

Sorri tristemente.

- Eu preciso fazer isso Alec. Ou então Muriel...

- Que se foda o Muriel. Eu não vou permitir isso – gritou ele.

Balancei a cabeça e fui até meu amigo, colocando as mãos em seus ombros.

- Alec, meu amor, eu preciso fazer isso. Muriel disse que vai lhe matar se eu não me casar com o lobisomem. – Olhei nos olhos azuis do meu amigo e quis que ele me entendesse.

- Eu não me importo com a minha vida. Não vou deixar você estragar a sua.

Ele colocou as mãos nas laterais do meu rosto e uma lágrima rolou pelo canto do seu olho.

Eu conseguia sentir a preocupação emanar dele. Sentia seu medo e sua raiva.

Sabia que ele faria qualquer coisa para me manter em segurança, nem que para isso ele tivesse que morrer.

A respiração dele estava rápida e irregular, seu coração batia rápido no peito.

Eu sequei suas lágrimas com as pontas dos dedos. Ele fechou os olhos por alguns segundos e quando abriu novamente, suas pupilas estavam dilatadas.

- Eu não quero perder você – ele sussurrou, fazendo minha pele se arrepiar com aquela intensidade no olhar dele. – Você é tudo o que eu tenho Alena.

Ele encostou a testa na minha e suas mãos desceram para a minha cintura.

- Eu não posso fugir e não posso me negar a fazer isso – falei, envolvendo o pescoço de Alec com os braços e inspirando seu cheiro profundamente. – Estou fazendo isso por você. Por mim. Para nos manter vivos.

O aperto em minha cintura ficou mais forte, possessivo. Fez partes do meu corpo implorarem pelo toque das mãos de Alec.

Eu estava noiva à poucas horas e já estava com tesão pelo segundo homem que chegava perto de mim. Eu era uma pessoa horrível.

- Não diga que está fazendo isso por mim – Alec pediu. – Eu não posso suportar a ideia de você estar deitada na mesma cama que um deles. Essa história de paz é falsa e todos sabem disso. Palavras bonitas não vão nos fazer esquecer a guerra que eles começaram. E eu não quero perder você nessa guerra também.

Me afastei alguns centímetros para olhar em seus olhos.

- Alec, o contrato que eu assinei hoje me protege deles. Os lobisomens não podem me ferir. – Passei a mão no pescoço do meu amigo, sentindo a macies da pele dele e tentando me convencer de que qualquer coisa entre nós seria tão estranha quanto com Muriel. – Eles virão me buscar em alguns dias para me levar para Montana. Eu estarei em segurança. Muriel disse que vai me proteger deles o máximo possível e eu posso me cuidar sozinha.

Alec me soltou, deixando os braços cair nas laterais do corpo.

- Muriel não poderá fazer nada quando você entrar no território dos lobos.

- Confie em mim então.

Ele suspirou e cerrou o maxilar com força.

- Eu confio em você de olhos vendados, mas não confio nos lobisomens.

Eu não queria pensar no que aconteceria depois que eu me mudasse para Montana. Eu queria poder aproveitar um pouco os poucos momentos que eu tinha como uma pessoa solteira e livre.

Eu não estaria noiva até William assinar os papeis.

- Os vampiros são mais velozes que os lobisomens – falei, olhando em seus olhos azuis. – Eu prometo, que se alguma coisa acontecer, eu saio correndo de lá tão rápido que eles nem vão notar. Eu venho direto para cá e fujo com você para onde você quiser ir. Poderemos fugir por toda a eternidade se assim quiser. Mas eu vou para Montana em alguns dias, você querendo ou não.

Ele desviou os olhos e respirou fundo, contendo a raiva.

- Eu só quero que você fique comigo até a hora chegar. Eu não quero ficar sozinha.

Agarrei as lapelas de seu paletó e enterrei a minha cabeça em seu peito, chorando em silêncio.

- Tente descansar um pouco. Sei que está cedo, mas foi uma noite perturbada – disse ele, colocando as mãos em meus ombros, descendo delicadamente meu sobretudo pelos braços. – Troque de roupa e deite-se um pouco.

O soltei e me afastei dando um passo para trás.

- Pode me ajudar a tirar o vestido? Dorothea já se deitou.

Ele cerrou o maxilar e desviou os olhos por um segundo.

- Não consegue tirar sozinha?

Deixei o sobretudo cair ao redor dos meus pés e fui até o espelho, levando as mãos às costas. Eu precisava desatar o vestido e depois o corpete que estava usando por baixo. Era difícil fazer isso sozinha.

Meus dedos se atrapalharam e eu suspirei, frustrada.

Alec ficou onde estava, de braços cruzados, me olhando falhar miseravelmente.

Ele revirou os olhos e passou a mão nos cabelos, vindo até mim a passos largos.

O olhei através do reflexo no espelho. Ele se posicionou atrás de mim e olhou em meus olhos enquanto tocava as minhas costas. Alec tocou o vestido e suas mãos se moveram rapidamente, rasgando o tecido vermelho.

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