TRÊS

Acho que o destino resolveu cooperar com o que eu disse. Permaneci de costas e comecei a me sentir mal. Meu corpo começou a tremer e a suar. Ele torna a falar algo e eu já não ouço. Me viro para pedir ajuda, mas minha mente apaga muito rápido.

•••

Ainda de olhos fechados, escuto pessoas falando ao meu redor. Resolvo abrir os olhos lentamente e vejo a Anne.

_Ei, que susto!_Ela quase grita._Você tá legal?

Olho em volta e vejo uma mulher me observando. Pela roupa, acho que é médica ou enfermeira. Sento na cama onde estava deitada e toco na minha cabeça.

_Olá, Srta. Becker. Sou Paola, enfermeira responsável pela enfermaria da escola. Você está sentindo algo?

_Não, nada demais. Só estou aérea._Minha voz sai baixa._Posso voltar pra aula?

_Já acabou as aulas, sua tontinha._Anne me entrega a minha mochila._Vamos, eu te acompanho até sua casa. Obrigada, Paola.

_Juízo, meninas!

Anne passa o braço por cima do meu ombro e então saímos da escola juntas. Eu ainda estou muito confusa.

_Onde você me encontrou, Anne?

_Na verdade não foi eu que te encontrei. Foi meu irmão. Ele me avisou que você estava caída na biblioteca, provavelmente teve queda de pressão.

Eu não consigo lembrar de nada. Só de entrar na biblioteca. Tenho que agradecer ao irmão dela por ter me encontrado e pedido ajuda.

_Gostaria de agradecê-lo.

_Sério, você não quer fazer isso. Ele não é amável, muito menos com novatos. Não sei porque ele te ajudou, mas eu agradeço por você.

Ok, vou ficar longe dele. Mas como? Eu nem sei como é seu rosto. Anne me acompanha até perto da minha casa e depois vai embora. Agradeci muito a sua gentileza. Olhei no relógio e já era 14:30pm. Minha mãe deve estar surtando. De longe, vi ela na frente de casa me esperando. Antes mesmo que eu chegasse ela vem correndo até mim.

_Filha, como você está?_Ela me abraça._Vem, me explica o que exatamente você sentiu. Ligaram pra mim de lá.

_Ah, mãe. Eu agora preciso de um banho e de comida. Prometo que te explico tudo.

Vou diretamente pro meu quarto, jogo a mochila no chão e vou tomar um banho. Primeiro dia de aula e eu dei vexame. A escola inteira deve estar sabendo da novata que desmaiou. Ótimo, Julienn! Maravilha! Você conseguiu chamar a atenção de todo mundo! Termino meu banho e desço pra comer alguma coisa.

_Seu almoço está na mesa, filha. Você pode dizer agora?

Encarei seu rosto e estranhei toda aquela preocupação. Já tive cólicas e dores adversas na minha antiga escola. Minha mãe nunca ficou tão preocupada assim. Conto tudo que lembro e também digo que se ocorreu alguma coisa a mais eu não consigo lembrar. Ela fica mais estranha ainda.

_Você teve contato com alguém, filha? Sei lá, amigos?

_Conheci uma garota, a Anne._Bebo um pouco de suco._Mas acho que foi queda de pressão mesmo. Não se preocupe, mãe.

Ela beija minha testa e avisa que vai sair. Dei de ombros e voltei pro quarto. Assisti alguns capítulos de uma série qualquer e adormeci.

•••

Acordo com uns barulhos lá em baixo. Levanto, calço a sandália e desço vagarosamente. Da metade da escada, consigo ouvir minha mãe falando com alguém.

_Você não tem como esconder isso dela por muito tempo, Janine. Se você voltou pra cá é porque precisa de proteção e ajuda._Uma voz desconhecida diz.

_Eu não queria que ela soubesse. Talvez o feitiço ajude-a por mais tempo e...

_Como seu líder, ordeno que conte isso antes que ela chegue a maior idade, Janine. Ela vai sofrer muito se passar por isso sozinha._Ouço a porta principal ser aberta._Mandarei ficarem de olho nela. Até logo.

Quando a porta é fechada, subo os degraus em passos leves e me tranco no quarto. Quem visitou a minha mãe? O que minha mãe está escondendo de mim? Será que ela está com problemas com a polícia? Eu estou ofegante. É uma adrenalina espionar sem ser vista. Lavo o rosto e desço atrás de comida.

_Descansou, filha?_Ela pergunta e eu assinto._Vou pedir pizza pro jantar. Acabei me atrasando.

_Ok.

Ela telefona e eu fico tentando adivinhar o que ela está me escondendo. Vou esperar mais um pouco pra que ela me conte. Caso ela não diga nada, eu a interrogo. Estou muito preocupada. A pizza chega e comemos falando sobre coisas banais. Nesse fim de semana vamos visitar meus avós maternos. Minha mãe nunca me trouxe para conhecê-los, nunca perguntei o porquê. Não sei muito sobre meu pai, só que ele morreu vítima de câncer. Não temos nenhuma foto dele.

_Por que só agora eu vou conhecer meus avós?

_Ora... Porque eu..._Ela pisca muito os olhos e eu sei que ela vai mentir pra mim._Porque eu trabalhava muito lá na Flórida e não tinha tempo. Também os meus pais estavam com raiva de mim por ter engravidado de você.

Assenti e subi pro quarto. Escovei os dentes e deitei. Vi que fui adicionada no grupo da sala, mas nada sobre o acontecido foi comentado lá. Amém. Pelo menos posso assistir as aulas sem a chance de ser zoada por um desmaio. Adormeço rapidamente.

•••

Coloco a mochila nas costas, beijo minha mãe e saio de casa. Hoje acordei um pouco mais disposta. Mesmo sendo início de semana ainda, algo me fez cantar hoje. Subi no ônibus e sentei no mesmo local de antes. Dessa vez não coloquei os fones. Apenas fiquei apreciando a paisagem. Algum tempo depois vejo Anne se aproximar de mim. Ela senta ao meu lado e me dá bom dia.

_Melhor?

_Sim, bastante._Respondo sorrindo.

_Que bom! Ao chegar na escola, te apresento a Karolla. Ela sempre vai de carro.

Assinto e assim seguimos em silêncio. Um cheiro estranho chegou até mim, um cheiro agradável. Franzo a testa estranhando. Será o perfume da Anne? Ou de qualquer outra pessoa aqui? Resolvo me calar e seguir o destino em paz. Para que aborrecer Anne pra perguntar apenas o nome do seu perfume viciante? Não me importo com isso.

^^


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