- Oi baixinha! Como está?

- Oi bebê, estou bem e vocês? Algum problema?

- Não baixinha! Estamos bem, queremos que venha passar o final de semana conosco. Fala com o Ardhie, vê se ele pode trocar com você, se não estiver de folga.

- Eu estou. Só não tenho certeza se quero ir Henrique.

- Lavínia, eu quero que venha para cá, não quero que fique sozinha mana.

- Mano, eu posso ficar bem, sozinha!

- Irei falar com o Ardhie então...

- Para Rique, eu não sou criança. Posso lidar com tudo.

- Eu irei então, não quero você sozinha.

Ele desligou sem dar tempo de eu responder.

- Oi Nia. Podemos tomar um café antes de ir embora.

- Obrigada Greg, não quero.

Saí do laboratório acompanhada do Greg, seguida mais exatamente, ele falando sem parar. Cheguei na sala de informática.

- Meu irmão disse que irá te ligar, por favor, diz que irei ficar bem aqui e que ele não precisa vir... Me empresta seu carro para eu ir embora?

- Calma, eu converso com ele. E sim, empresto. Mas você está bem para dirigir?

- Claro! Posso dormir na sua casa?

- Minha mãe está lá. Quer mesmo ir, ela não deixará você dormir!

- Estou precisando dela, me dá as chaves, por favor.

- Tome, cuide-se.

Saí respondendo as mensagens para meu irmão, enquanto Greg ficou interrogando Ardhie.

- O que ela tem contra sair e tomar um café? Ela já teve namorado?

- Primeiro, ela não sai com ninguém sem conhecer bem. Segundo, ela já teve namorado, o Tiago, éramos muito amigos, nós cinco. Henrique o irmão dela, Junye a cunhada, Tiago, ela e eu. Até irmos para Nova York, a polícia liberou a cena do crime para nós. Quando entramos, fomos surpreendidos com um dos bandidos dentro da casa, que atirou certeiramente na cabeça do Tiago que morreu na frente da Nia, ela não foi baleada por causa de um agente que entrou na sala e atirou no bandido. Isso completará três anos, um ano depois na mesma data os pais deles foram assassinados. Então, explicado o motivo dela ser como ela é? Ela já foi mais acessível. Acredite!

- Isso explica muita coisa!

Chegando na casa do Ardhie, louca para deitar e esquecer da minha vida. Entrei e fui recebida com uma mesa cheia de coisas e um café do jeitinho que gosto. Esqueci de um pequeno detalhe bem importante, a tia só fala chinês e não entende nada de inglês. Droga eu sempre tinha alguém junto para traduzir quando eu me expressava errado. Mas vambora. Eu tentando falar chinês devia ser filmado.

- Querida, quanto tempo, você está ótima. O Ardhie me ligou e disse que estava vindo, quis fazer uma coisinha para você comer antes de dormir. Pode dormir na cama dele. Já troquei os lençóis.

- Obrigada tia, estava precisando de uma mãe!

- Eu disse que é só me ligar que estou vindo... E seu irmão?

- Está bem, trocamos mensagens hoje.

- Você e o Ardhie estarão de folga amanhã?

- Mais ou menos, eu estarei de sobre aviso.

- Podemos fazer um piquenique. O que acha Nia?

- Temos que ver com ele, por mim, seria legal. Vou subir.

- Mas você quase não comeu querida.

- Estou sem fome tia.

- Está bem, chamo você para o almoço, podemos almoçar com ele se quiser.

- Desculpa tia, acho melhor eu dormir direto, depois eu como alguma coisa quando acordar.

- Está certo não irei te importunar.

Boa parte das palavras eu imaginava que fosse, mas o contexto é esse, pelo menos é o que eu quero que seja. Ela sempre me tratou bem, todas às vezes, sempre muito atenciosa. Depois que meus pais faleceram ela chegou a viajar só para cuidar do meu irmão e eu. Meu irmão fala chinês fluente, então não tivemos problemas. Ardhie já estava em Las Vegas. Deitei e esqueci do mundo à minha volta, dormi. Acordei com meu celular despertando. Levantei, tomei um banho e desci. Tinha um bilhete na geladeira em chinês, claro que não entendi, tirei uma foto e enviei para o Ardhie traduzir para mim. Resumindo, ela foi no mercado e não era para eu sair sem comer. Enfiei alguns bolinhos em um saquinho coloquei na bolsa, tomei um café e deixei a xícara na pia para ela ver que eu havia sujado algo e fui trabalhar, antes ainda beijei um papel e deixei na geladeira, isso ela entenderia...

- Deixei o seu carro na minha vaga, alguém pegou a sua. Obrigada, pelo carro, a cama e principalmente pela mãe!

- Vou dormir sentindo seu cheiro esta noite então?

- Duvido, há essa hora sua mãe já trocou os lençóis, ela me ama, mas lembra, nada de reproduzir com ocidentais!

- Eu não tenho esse problema, minha mãe não se importa.

- Ai Greg, não!

- É! Não Greg. - Entra aquele “deus” que foi esculpido e pintado à mão livre de uma forma única, Patrick, ainda não havia trabalhado com ele. – Do que estão falando?

- De reprodução humana, longa história. Vou embora aproveitar minha mãe.

- Posso passar o final de semana lá?

- Claro, venho te buscar de manhã e passamos na sua casa para pegar suas roupas.  Ah, seu irmão me ligou, eu disse que cuidaria de você, assim será mais fácil! Bom trabalho para vocês.

- Bom, Nia, preciso que examine isso. - Me entregou vários HDs e pen drives. E Greg, venha comigo.

- Patrick, espere, onde está o equipamento principal, o note ou computador, eles até podem ter coisas aqui, mas, nos equipamentos eu posso conseguir e-mails, mensagens.

- Estão destruídos.

- Não tem problema, se não atingiu o HD, eu posso fazer algo ainda...

- Vou pedir para alguém trazer. Nia, aproveitando que estamos a sós. Você está linda! Nesses meses que está aqui, nunca tive oportunidade de falar com você. Mas o departamento teve um ganho muito grande com a sua contratação.

- Obrigada, mas acho que o Greg está pronto e te esperando.

- Certo, acabei de levar um fora. Ainda bem que você é discreta. Bom trabalho!

- Para vocês também!

É, pelo visto meu final de semana em “família” já era... Tenho muito que fazer aqui. Às vezes parece que sinto o cheiro do Tiago me rodeando, sinto suas mãos acariciando meus braços, das mãos até os ombros e dos ombros até as mãos, repetidas vezes quando queria alguma coisa. Ele me faz falta. E lá se vai um final de semana socada na sala de informática, enquanto escaneia eu vou dormir no sofá até uma boa alma chegar e me acordar para perguntar o que estou fazendo e eu responder que estava dormindo...