Capítulo Quatro

Meus olhos se abriram e me espreguicei. 

Olhei ao redor e Heron não estava no quarto, porém na mesinha de cabeceira tinha uma bandeja de café de manhã e um bilhete. Envolvi o lençol ao meu redor e peguei o bilhete. 

Desculpe-me não estar com você agora. Tive um imprevisto e precisei sair. 

Mas, espero que goste do café da manhã. 

Você é linda. 

                                                               Heron B.

Os. O sangue que está na taça é meu. Faça bom proveito, amor.

Sorrindo, coloquei a bandeja na cama ao meu lado. Havia pães, queijo, bolachas, suco, leite e como ele tinha dito uma taça de sangue. Tomei um gole e o sangue ainda estava quente. Provavelmente ele saíra uma hora antes de eu acordar. Será que tinha acontecido algo?

Eu esperava que não. 

Tentando tirar as preocupações da minha cabeça, tomei o resto do sangue e belisquei algumas coisas. Depois de comer, me retirei para o banheiro. Liguei a ducha e me refresquei na água quente e deliciosa. 

Depois de meia hora sai enrolada na toalha para o quarto. Quase gritei de susto ao ver Ruanda de costas para mim. 

- O que está fazendo aqui? – falei alto e brava. 

Ela se virou lentamente para mim e o bilhete de Heron estava em suas mãos. Rapidamente peguei o bilhete de suas mãos e o coloquei junto à bandeja de café da manhã. 

Ruanda me encarou ainda sem me dar uma resposta. 

- Diga agora o que está fazendo aqui?! – exclamei. 

- Sabe... Ele costumava fazer isso quando estávamos juntos. Muito típico dele. – ela riu e o Demônio dentro de mim rugiu. – Você acha que sabe o que está fazendo. Mas, garota... Você não sabe onde está se metendo. Primeiro é paparicada pelo papai, pega meu namorado e agora vai se tornar o braço direito.

Apertei a toalha ao meu redor e me aproximei dela. 

- Isso não é da sua conta. – Sibilei. – Heron não é seu namorado há muito tempo. Se Lucian gosta de mim mais do que de você, acho que é por que valor eu tenho mais que você. E se ele me escolheu para ser seu braço direito é por que ele quis. Talvez porque eu sou mais competente que você. – murmurei irritada com aquela criancice. 

Ela soltou um grito agudo de raiva e veio para cima de mim. Mas, antes que ela acertasse sua mão em meu rosto, me transformei e acertei seu estômago, jogando-a longe. 

As labaredas moldaram meu corpo e não só pelos meus olhos, como um incêndio. Acho que estava com tanta raiva que o fogo espalhou por cada centímetro de minha pele e a toalha se incinerou, porém nenhuma parte minha era visível, as labaredas ofuscavam qualquer coisa. 

- Pense duas vezes antes de me atacar, sua vadia. – peguei-a pelo cabelo e arrastei até o escritório de Lucian. 

Sabia que ele deveria estar lá, e o fogo ondulou ao meu redor, mas não queimou nada. A não ser o cabelo de Ruanda que estava enrolado em minhas mãos. 

Lucian abriu a porta e quase caiu para trás ao me ver transformada e arrastando Ruanda pelo cabelo.

- Se ela invadir meu quarto mais uma vez eu mato ela. – joguei Ruanda aos pés de Lucian e ele estava completamente incrédulo.

Andei calmamente de volta para meu quarto, e antes que eu entrasse, Kendra estava olhando para Ruanda caída e para mim transformada. Sua boca estava em um O perfeito. Ainda brava entrei em meu quarto, e sabendo que ela iria me seguir, deixei a porta aberta, indo para meu closet. 

Voltei ao normal, e claro, estava nua. Me troquei de volta, colocando saia de cintura alta preta e uma camiseta de seda preta, scarpin e  passei as mãos em meus cabelos tentando arrumar, pois secaram devido ao fogo de quando me transformei. 

Peguei uma escova e fiquei diante do espelho para tentar arrumar a bagunça desordenada que ele era. 

- Você deu um show agora. – Kendra apareceu na porta do closet. 

- Ela só teve o que mereceu. Fala sério, invadir meu quarto por ciúmes de Heron? Não mesmo. – falei e puxei meu cabelo para um rabo de cavalo alto. 

Me virei e Kendra estava vestida em uma calça jeans e camisa preta. Ela estava sorrindo. 

- Que foi? – perguntei constrangida e passando por ela. 

- Soube ontem a noite que alguém foi para o quarto com o Sr. Black e não saiu até o amanhecer. – ela riu. – Deveria dizer quem é esse alguém? 

Balancei a cabeça.

- Só estava precisando de carinho. E ele também, oras... – sorri.

                                    ***

                                                                                              Melahel

- O quê? – perguntei incrédulo para Alba. 

Estávamos do lado de fora de casa e ela me encarava séria. Minha amiga mais antiga esticou as asas e cruzou os braços. Desviei meu olhar dela e olhei para a casa que eu estava morando agora com Lexi temporariamente. Era uma cidade pequena, não muito longe da mata em que estávamos. 

Alba tinha aparecido do nada e pedido para falar comigo a sós. Lexi ficou desconfiada, mas não disse nada. 

- Isso mesmo, Melahel. Handora está assumindo o exército de Lucian e está namorando Heron. Handora... - ela pronunciou o nome como algo estranho. E era. Mas, eu sabia que quando aquelas almas negras se elevavam como verdadeiros demônios, eles eram batizados com uma nova identidade. Lúcifer, costumava ser Samael, quando ainda era do céu. 

E agora ela era uma deles. 

Eu amava Lexi, mas essa notícia de Handora tinha me abalado profundamente. Era claro que ela ficaria decepcionada comigo pelo que tinha acontecido, mas agora assume o exército de Lucian?

E pior, namorar Heron? Um maldito Demônio que tinha atiçado sua fome e a feito se transformar naquele monstro sanguinário e praticamente em outro Demônio também. 

Alba balançou a cabeça parecendo decepcionada. 

- Meu irmão, o que houve com você? Por que se distanciou de nós? Por que fez isso com Handora? – ela pegou meus ombros e me sacudiu.

Procurei em minha mente uma resposta e apenas uma veio. E toda vez que eu pensava era essa mesma e única resposta que vinha. Olhei profundamente para Alba. 

- Por que amo Lexi. – falei. 

- Você só pode estar retardado! – ela gritou brava. – Todos os outros estavam furiosos com você por que você os expulsou da caverna e disse que agora era só você e Lexi. Que deveríamos ficar agradecidos a você por ter nos soltado dos arcanjos do Céu. Mas, eu te conheço. – ela me olhou com amor nos olhos. – Algo deve estar acontecendo com você para estar assim. É Lexi? Ela fez algo com você? 

A ira me tomou. 

- Por que você culpa Lexi? Ela não tem culpa nenhuma. Ela me ajudou. Ela me fez enxergar a verdade. Ela me ama e eu a amo. Handora nunca me amou! Ela sempre foi um bicho cruel que me usou para chegar onde está agora. Veja até onde chegou. Está se tornando uma deles! – gritei. 

- Por que você a traiu, seu idiota! Você a fez se sentir mal! Você acabou com algum sentimento que ela poderia ter e tudo por que está agindo feito um retardado! Como pode, Melahel? – ela jogou as palavras para mim. 

Mas, eu sabia que se prolongasse a discussão eu iria fazer uma besteira. Decidi mudar o rumo da conversa e reduzir o tom de voz. 

- Como soube que ela fez isso? – murmurei. 

- Há dois dias houve uma festa na casa dos Demônios. Lucian a apresentou a todos como sua filha e em breve braço direito. – ela disse tentando se acalmar. – Sou um arcanjo, Melahel. É como uma rádio. Eu entro em sintonia às vezes para ouvir o que os anjos estão dizendo. Para ver se estão atrás de nós e eu ouvi sobre Handora. Ela está revolucionando toda uma era, você sabia? – ela me olhou, mas não tive coragem e desviei os olhos.

- E por que veio me contar? – falei. 

- Por quê? Por quê? – ela disse indignada. – Por que a culpa de tudo isso estar acontecendo é sua, Melahel. Tenho certeza que ela ficou em pedaços com tudo que você fez. Ela te amava mais do que tudo. Eu estava do lado dela e eu vi. 

A frieza me tomou com suas palavras. 

- Então é melhor que volte para o lado dela. Por que se veio com esperança de que eu fizesse alguma coisa, se enganou. Handora não faz mais parte da minha vida. – dei as costas para ela e caminhei para dentro. 

- Você ainda vai se arrepender muito do que está fazendo. – Alba disse e ouvi suas asas levantarem voo e logo eu estava sozinho. 

Suas palavras ecoaram dentro de mim e uma pequena parte de minha mente disse que ela estava certa.


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