DESPREVENIDA

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"ALGUNS SENTIMENTOS NOS TORNAM FORTES AO LIDAR COM ELES E OUTROS NOS TORNAM FRACAS. TUDO DEPENDE DE NOSSA VONTADE EM DOMÁ - LOS."

Sou a Maya, uma garota cheia de sonhos, planos e que espera sempre o melhor das pessoas. Tenho cabelos loiros, longos e anelados, olhos castanhos claros e um corpo favorecido pela genética da minha mãe. Minha vida se baseia em escola, trabalho e casa. Não tenho muitos amigos,— na verdade só tenho um, que logo irei apresentar lhe. Gosto de ler e passear com meu cachorro, o Lord . Sempre vou a um parque perto de casa, lá brinco com ele e aprecio a paisagem. Não entendo o porquê de as pessoas não perceberem a maravilha de tudo que se tem à sua volta. São flores, lagos, animais, ar puro e porque não os sorrisos?   Ah, eu gosto de observar as pessoas, não para julgá-  las , mas para conhecer um pouquinho de seus sonhos, suas histórias e seus mistérios. Você nem imagina o quão prazeroso é ver a felicidade estampada no rosto das pessoas. Não precisar de motivos grandiosos para sorrir é a melhor coisa que se pode ter, a vida é tão simples, muitas vezes nós que complicamos. Vou falar um pouquinho da minha rotina...Moro sozinha em Chicago, já faz pouco mais de um ano. Quando meus pais se separaram, mudei de cidade— Eu  não quis escolher com quem ficar, então optei por morar perto do meu amigo John. Meus pais moram em Naperville, não é tão longe quanto eles dizem, gasto menos de uma hora, assim podemos manter contato, caso eu precise de cuidados maternos, — ao menos é isso que minha mãe acredita. Trabalho em um barzinho então consigo pagar minhas despesas, que não é muito, pois sou meio pão dura ou melhor economizo pensando em alguma urgência. Meus pais pagam o meu aluguel, essa foi a forma que eles encontraram de cuidar de mim . Eles se dão super bem e acredite ou não ainda são amigos, a separação não prejudicou a relação de pais e filha. Na escola não sou popular, a minha timidez me limite, então mantenho minha discrição, exceto por eu me parecer fisicamente com a patricinha Allana. Ela é a típica influenciadora de opiniões,— quem não lhe agrada, certamente será invisível, sua  personalidade é um pouco agressiva, capaz de tudo, absolutamente tudo para conseguir o que quer, não se preocupa com quem vai atingir, desde que não entre em seu caminho, ela não a verá como um obstáculo, deve ter herdado o jeito do seu pai, o Sr. Thomas Lennox. Ele é um executivo de sucesso, rico  e com uma conduta questionável, sua reputação o precede , e não é das melhores. Já fui confundida com a Allana algumas vezes e na maioria,  por algo de errado que ela fez, sempre passam a mão na cabeça dela por ser filha de um homem poderoso e caridoso com a escola. E eu, sou apenas mais uma na multidão – mas eu até gosto de ser anônima, isso me permite andar despercebida embora na escola essa seja uma desvantagem. Allana e eu, não conversamos muito, embora sejamos da mesma turma, temos interesses diferentes, no mais, me dou bem com todos.  Minha rotina é simples, eu sou simples, mas a vida gosta de complicar, só para temperar meu dia a dia.                   Acordo cedo para mais um dia de aula, depois de fazer alguns trabalhos exaustivos, tenho que estudar para as provas. Quero tanto que esse ano letivo acabe e eu possa descansar mais um pouco. Na verdade quero fazer alguma coisa diferente, me dedicar a algo que eu goste. Estou pensando em  pintar, não, escrever poesias ou quem sabe virar fotógrafa.  Ah, não sei o que quero fazer, só sei que preciso fazer algo para me distrair. Tenho que administrar melhor meu tempo, mas quero que seja algo que me dê prazer. Na escola estou sempre apressada pelos corredores, às vezes atrasada outrora fugindo de alguém que faça piadas quanto ao meu jeito. Ser diferente é bom, mas ser julgada pelo o que escolhemos ser é injusto e rude. Apesar que isso não me impede de ser quem sou, de vez em quando me sinto  cansada por ter que argumentar por meus direitos e escolhas. Não seguir um padrão de beleza ou não acompanhar a tendência de moda pode ser algo inaceitável na sociedade hoje em dia. E isso é lamentável. As pessoas devem ser o que querem, se sentir bem deveria ser a prioridade de todos, e não a aparência física. A cada dia que passa mais me sinto excluída dessa plataforma denominada mundo.  Bem, entro na sala de aula, me sento afastada — evito grupos e assuntos que não me dizem respeito. Vejo os meninos contando suas vantagens sobre o fim de semana e as meninas decidindo quem deve ou não ter a atenção delas, esse deve ser o preço da popularidade, e está aí algo que me recuso a pagar.  Cada um sabe o que quer para si, ao menos é o que pensamos, mas às vezes é tão difícil entender certas escolhas, por isso só cabe a mim respeitá-las. O professor Charles chega e depois de muito pedir silêncio começa a aula.

 - Bom dia alunos, vou separar a classe em turmas para a apresentação do trabalho . O primeiro grupo será...

Parei de prestar atenção no professor, ao ouvir o som da batida na porta. Um novato chega para minha classe – Eu não me importaria com ele se não visse uma luz, algo que desperta curiosidade e ao mesmo tempo desejo de estar próximo,parece estranho mas a sensação que tive ao vê-lo foi algo inovador e só mesmo tempo enigmática. Sinal que tenho que me cuidar , só pode ser sinônimo de problema. Sabe aquela garota  brega ao extremo para se encantar por alguém apenas por vê - lo pela primeira vez? Aquela garota que fecha os olhos e se imagina daqui a anos com o garoto por qual se apaixonou? Prazer, sou eu.  Mas não acredito em milagres, aquele clichê que o rapaz mais lindo da escola se apaixona pela moça esquisita , não cola comigo, essa é a típica história que não me encaixo, só que vontade não me falta. Seria mais simples e claro bem fictício, mas não custa sonhar neh?  Meu coração acelerou quando eu o vi. Seu olhar meigo, o sorriso galanteador, o cabelo negro perfeitamente penteado, ele é alto, seu físico é padrão, nada exagerado, mas que desperta desejos, até de forma inconsciente. Ele é o tipo de garoto que todos sabem quando chega por ter uma presença marcante e ser muito vaidoso — é o  típico garoto chocolate, você quer muito,  mas depois se arrepende da escolha. Mesmo assim, quando eu o vi, me senti aérea e com aquelas borboletinhas voando ao meu redor.rsrsrs

-Bem vindo novato, você chegou no dia da apresentação de trabalhos, espero que consiga se adaptar rápido. 

- Obrigado professor, farei o possível. —Ele respondeu e passou os olhos em todos, fazendo a seleção daqueles que seriam seus amigos, ao menos foi o que pensei.

A voz confiante demonstra que será mais um garoto que terá a atenção disputada pelas meninas. Quando veio em minha direção, meus olhos brilharam,  ele iria sentar-se ao meu lado — não estou preparada para ser a turista do novato, mas confesso que seria uma boa ideia. Até que um dos meninos acenou lhe mostrando um lugar para sentar e certamente para ser mais um integrante do futuro grupo ao qual jamais irá sair. Sentou-se perto do Erick, Stephan e do Carlos, então pude ouvir ele se apresentar. Oliver ! Esse é o seu nome que me fez perder o fôlego. Não consegui parar de pensar nele, de onde veio, se tem namorada, o que gosta de fazer, se tem manias...   Eu sei que estou sendo exagerada e até precipitada em dizer, mas ainda vou dar um selinho nesse garoto.         Após o término da apresentação, fomos para o intervalo. Eu sempre fico em um canto do pátio, onde tem uma árvore,— nada melhor que um breve silêncio para me afastar da correria do dia a dia, assim faço minha leitura tranquilamente. Embaixo de sua sombra consigo pensar e me revigorar. De longe observo Oliver se enturmar, ele sabe fazer amizades rapidamente. Continuo minha leitura, tento disfarçar o olhar em sua direção, mas falho. É como se eu estivesse atraída por ele, uma imã que me puxa para sua direção, essa fraqueza chega a me incomodar. Não que eu seja oferecida, mas sinto como se eu o conhecesse, como se nossas vidas tivessem que se cruzar. Infelizmente ele percebe e dá um sorriso de volta, o que me deixa constrangida. Levanto às pressas para me afastar, não quero passar a impressão errada, e nesse movimento, acabo esbarrando em uma bandeja com suco que vira tudo em mim. Eu que queria passar despercebida, virei o centro das atenções. Corri para o banheiro e fui me limpar. Além de voltar para sala com a roupa molhada, com cheiro de uva e manchada, eu estava envergonhada . Tive que aguentar as piadinhas da Allana — ela não me incomoda, mas a insistência em tentar ser  engraçada, sim, ela gosta de se sentir superior. Sentei e fui fazer uma leitura sobre a matéria da próxima aula, quando Oliver se aproximou de mim.

- Não fomos apresentados. Sou o Oliver e você? — Sentir seu perfume e ouvir sua voz rouca e provocadora ativou minha mente, fiquei pensativa por uns segundos.

- Ela é a virgem da sala — alguém gritou do fundo da sala, provavelmente um dos meninos da turma do qual agora ele faz parte.

 Eu não sabia onde colocar minha cara, não que eu seja virgem, mas esse é o comentário que rola, porque ninguém nunca me viu aos amassos pelos corredores. E nem vai me ver, gosto de ser discreta. Fiquei em silêncio, esperando que ele se retirasse, mas ele permaneceu em pé, na minha frente esperando minha resposta.

 -Parece que fizeram o favor de me apresentar antecipadamente. Sou a Maya, também conhecida como a piada da sala —respondi num tom de brincadeira, meu desconforto estava estampado em meu rosto, em seguida abaixei a cabeça. Ele sutilmente levantou meu rosto e elogiou meu nome, deu um sorriso e sentou-se. O professor chegou e iniciou a aula, eu só conseguia pensar na mão dele me tocando, parecia uma carícia. Assim os minutos passaram de forma veloz. Os meninos rindo, discutindo sobre futebol e meninas. E elas comentando sobre o novato e a festa de Halloween, que provavelmente não irei por não ter companhia, mas isso não é novidade, todo ano é a mesma coisa, meu amigo e eu sempre ficamos sem par.                    John é  meu melhor e único amigo. Não há segredos ou maldade entre nós, somos leais um ao outro. Nos protegemos de nós mesmos,— só assim para não fazermos tanta bobagens, ele cuida de mim e eu cuido dele. Ele me aconselha, briga, me ajuda na escola e passa muito sermão por esse meu jeito desastrada e um pouco sonhadora. Somos dois encalhados mal compreendidos. Ao término da aula, vou correndo para casa, só tenho tempo de tomar um banho, comer algo e descansar por alguns minutos, tempo que uso para ligar para meus pais — já que faziam semanas que eu não ligava.

- Oi mãezinha, como estão as coisas por aí? — tento passar tranquilidade e confiança, ela precisa acreditar que está tudo bem comigo, mesmo que não esteja.

- Oi filha linda da mamãe, aqui está tudo bem, e com você? Porque demora tanto para ligar, sabe que me preocupo com você.

-Estou bem mamãe, é que minha rotina é muito agitada. Assim que der passo uns dias com a senhora. Espero que esteja se divertindo sem mim. Agora tenho que ir, beijos — falo rápido para não dar tempo dela começar um interrogatório.

- Maya, não se esqueça do aniversário da vovó, ela sempre espera uma ligação sua. E se cuide minha filha, se cuide.— Sou péssima para lembrar de datas.

- Claro mamãe, ligarei para ela. Te amo — desligo com um aperto no coração, a saudades dói muito e não poder demonstrar me tortura mais ainda. 

Tento ligar para meu pai, mas cai na caixa postal, então pego minha mochila com o uniforme e saio para o trabalho. No caminho encontro Davi, um cliente do barzinho que trabalho. Ele é uma gracinha de pessoa. Certo dia confessou estar apaixonado por mim, mas depois falou que era por causa de uns drinks que bebeu — ele acha que se eu acreditar nessa paixão, vou me afastar dele, mas não o vejo como um pretendente. Uma das meninas do meu trabalho, disse que ele tem uma foto minha em seu celular, porém eu nunca vi, acho isso meio assustador. Mas isso tudo é coisa passageira, acontece com todas nós, atendemos ao mesmo cliente diariamente e eles pensam que temos preferência, mas é só gentileza, faz parte do nosso trabalho.             Fomos conversando até eu chegar, ele me faz dar boas risadas — conta histórias sobre a vida dele que poderiam dar um filme, às vezes de comédia e outras de terror,  de tantos problemas que já se meteu. Sinto ele muito sozinho e triste, parece que vive à espera de alguém, em busca de algo para lhe dar ânimo. E se for isso espero que encontre logo.

- Agora tenho que ir trabalhar, Davi. Quer algo?—  pergunto enquanto ando, não posso me atrasar.

-Que tal seu coração?— ele sorriu como se esperasse uma resposta positiva.

-Esse está congelado, vai demorar para servi-lo. —Respondi e caminhei em direção ao estacionamento.

Rimos e fui trocar de roupa para começar um longo e exaustivo expediente de trabalho.

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