|6| VÁRIOS NADAS

  JADE STELLAR ESTAVA EM MIRIAD.

Yohanna Winchester estava em Miriad.

E eu não sabia dizer qual dos dois era pior.

Quem iria subitamente aparecer agora? A moça da propaganda de detergente do canal 9? O prefeito da Disneylândia? Um terrorista famoso? Não que Hanna Winchester não fosse meio terrorista quando ela queria. Ou quando não queria. Ou em todos os momentos em que respirasse.

Depois de concluir que eu realmente ainda não havia tido nenhuma espécie de morte cerebral, meu primeiro impulso foi fechar a porta com força e torcer mentalmente que eu estivesse tendo alucinações. Até a possibilidade de estar ficando maluca era completamente mais aceitável do que a veracidade da imagem de Hanna Winchester parada em minha varanda. E de Herman servindo como seu guia.

— Eveline Gringer!! Abra esta porta agora mesmo!!

Ah, Deus... ela realmente está ali.

— Não! Volte para o Rio de Janeiro! — eu gritei de volta, com as costas coladas na porta e pensando num jeito inteligente de lidar com aquilo.

Mas meus pensamentos foram interrompidos quanto a porta se abriu com um golpe poderoso, ou quando fui arremessada contra o chão a frente.

— Que diabos?

Quando levantei minha cabeça, Hanna Winchester estava à porta, com uma das mãos levantadas, como se tivesse aberto a porta apenas com a força do pensamento. Bile subiu á minha boca quando percebi as faíscas verdes saltando de seus dedos.

Voltei a deixar que minha cabeça caísse, tampando o rosto com as mãos.

— Ah, meu Deus! Você realmente está aqui! E tem coisas estranhas saindo de seus dedos que decididamente não sairiam dos dedos de humanos normais...

— Eu sei. Inacreditável, não é?

Bati minha cabeça contra o assoalho de pedra. Por favor, que isso seja apenas um pesadelo. Por favor, Por favor...

— Por favor, só... me diga que você não está mesmo aqui. E que você não tem nenhum traço Falange...

Ela riu, parecendo terrivelmente divertida com meu desespero sobre a situação. Hanna entrou, observando a casa por dentro e parecendo reprovar a decoração rústica com iluminação âmbar com os olhos. Depois disso, sua atenção voltou a se centrar em mim. Claro, uma coisa de cada vez. Era o máximo que seu minúsculo cérebro parecia compelido a conceder que ela processasse.

Não que eu achasse que ela tinha um.

— Respondendo as suas perguntas: Eu estou na sua casa. E eu tenho traços Falanges. — num gesto estranho, ela passou a palma de uma das mãos á frente de seu rosto, e por um momento, o ar passou a tremular a sua frente, como se eu estivesse tentando ver por de trás de vidro ou água. O ar se ondulando de forma ilusória como se suas moléculas estivessem se dissolvendo no calor de raios solares.

Então, o inesperado aconteceu: os olhos de Hanna de repente não eram mais azuis, mas engolidos em fendas escuras, repuxados dos lados com os olhos de um gato, as íris se tornaram negras como piche, seus lábios levemente arroxeados e o mais interessante de tudo: uma marca escura de um pentágono envolto em outro símbolo estranho apareceu em seu colo.

Deus... ela era... era... simplesmente...

— Porque eu nunca vi isso antes? — minha voz saiu perplexa, se debatendo em minhas cordas vocais como um peixe fora da água morrendo por sufocamento.

— Porque você e as outras pessoas só veem o que eu quero que vejam. — ela deu de ombros, voltando a fazer gesto à frente do rosto e voltando a ser a Hanna Cabeça de Fuinha de sempre — Sou uma Falange Conjuradora.

Eu rolei os olhos, voltando a bater a cabeça com força no piso. Deus... tem como isso ficar pior?

— Eu sempre soube que você era uma bruxa, mas isso é simplesmente ridículo!

— Ora, vamos... — ela rezingou passando por mim, os saltos finos de seu sapato derrapando de maneira engraçada no piso encerado de pedra enquanto eu tentava convencer meu cérebro a enviar a informação necessária à meus membros. Ficar caída no chão de minha própria casa enquanto Hanna inspecionava a mesma não era algo que eu achasse que quisesse fazer. — Acho que já passamos dessa fase.

— Que fase? — finalmente me sacudi no lugar, me jogando acima da melhor forma que consegui — Lamento destruir sua teoria banal, mas enquanto eu não chutar seu traseiro nós nunca vamos passar dessa fase.

Ela executou um movimento de lábios, ignorando meu comentário com um aceno de mãos enquanto continuava verificando os móveis cor de verniz.

— Só... deixe meu traseiro em paz.

— Você tem um!? — eu quase verbalizei surpresa — Ah, e deixe isso exatamente onde está! — eu xinguei, a observando puxar uma ponta da bela toalha chamuscada enfiada no grande lixeiro ao lado da pia.

Eu apenas esperava ter alguma ideia brilhante sobre o que fazer com ela depois.

— Uau! Mas que droga de cheiro de queimado é esse?

— Deve ser seu cérebro tentando trabalhar. Não que eu ache que você possa ter um capaz de fazer isso... — eu tomei a ponta da toalha de seus dedos, a socando ainda mais abaixo do grande cilindro de metal reluzente. Eu só esperava que tia Peg não tivesse um faro tão aguçado de cadela.

— Ótimo. Você tem problemas com meu traseiro e meu cérebro. O que mais? Se vamos fazer isso, ao menos vamos fazer direito... — ela me deu as costas, girando sobre os calcanhares e se encarregando de inspecionar o interior da pia e da geladeira.

— Sério? Tipo uma terapia? E quem disse que meus problemas estão relacionados apenas ao seu traseiro e cérebro? — eu fechei a porta da geladeira brutalmente, e sua mão quase ficou presa lá dentro. Urgh. A comida corria sérios riscos de apodrecer. — O meu problema é você.

Ela deu de ombros, voltando a ignorar meu chamado interior que invocava a sua ira de Fuinha.

— Ótimo. Então aprenda a lidar com isso.

— Eu não preciso aprender a lidar com você! — eu quase gritei, a perseguindo pelo cômodo enquanto ela continuava sua excursão — Droga! E mais importante: que diabos você faz aqui? E, Oh, Deus... me diga que aquelas malas não significam o que eu acho que significam!

— Caramba! Você é ainda mais frustrante do que eu me lembrava que fosse...

— Okay. Se eu sou frustrante, PORQUE DEMÔNIOS VOCÊ ESTÁ AQUI?

Ela finalmente parou em meio a sala que eu ainda não havia visto, e tentei não deixar a surpresa vazar por minhas expressões enquanto verificava que tínhamos uma sala de dar inveja: os estofados beiravam o cereja e o champagne, tal qual a decoração de meu quarto, um enorme e quadrangular tapete de veludo e colête estampado de símbolos Maoris adornava o chão de uma ponta a outra, e uma enorme lareira de ametista e obsidiana se erguia majestosa em estruturas de pedra viva e luzente, com duas espadas afiadas cruzadas em cima dela.

Espadas... pelo menos tenho algo para aniquilar o problema em alguns poucos instantes...

Mas, bem, eu tinha um problema loiro para resolver agora, e a decoração deslumbrante e Falange de minha linda casa teria de ficar para depois.

Hanna voltou a segurar a cintura de picolé bem em meio ao enorme tapete de couro peluciado, e eu só quis implorar para que ela parasse de furar a bonita peça com seus saltos horríveis e suicidas.

— Escute algo, Eve’s: eu sou uma Falange, quer você queira quer não, e eu tenho todo direito de estar aqui, da mesma forma que você tem. Espero que isso seja o suficientemente claro sobre isso.

— Não, você não tem o mesmo direito de estar aqui do que eu! E pare de me chamar de “Eve’s”!

Ela rebolou os olhos dentro das órbitas.

— Que seja. Posso até não ser uma Natural Elementar cheia de dons ou a preferidinha de alguma estrela idiota, mas ainda assim, eu sou uma Falange, e eu estou aqui porque Miriad aceita todas as Falanges que queiram estar.

Argumentos. Onde estão eles?

— Espere só até tia Peg chegar e ver você aqui. — eu disparei meu canhão, mas antes que pudesse escutar o bum, ela apenas deu de ombros.

— Foi sua tia quem me convidou.

Eu senti meu maxilar se desprender.

— COMO-É-QUE-É!?

— Eu só... — ela suspirou, se deixando cair em meios aos estofados, e um puro sentimento de derrota se estampou em todas as suas linhas faciais — Como você acha que eu sei de tudo? Desde pequena, Pégasus me ensinou sobre nosso mundo, Eve’s. E por mais que eu a odiasse por tudo, não pude negar a ajuda em entender todas as partes de mim que me tornavam... esquisita.

Milhares de respostas rudes e irônicas se alinharam em minha língua, batendo continência e esperando pelo “Fogo!”, mas tudo que consegui fazer, foi piscar diante de sua figura abatida. E de repente, eu estava cansada demais para discutir ou encontrar argumentos para chutar seu traseiro. E não era como se eu precisava de muitos.

— Eu não acredito que você está confessando que dizia todas aquelas coisas horrorosas sobre minha tia mesmo enquanto ela te contava sobre coisas que nunca contou a mim! Não acredito que você sempre foi tão... vaca como ela mesmo depois que te revelou tudo que sempre me privou de saber! Você é tão... desprezível!

Ela não respondeu.

Ao invés disso, se manteve centrada em manter sua atenção focalizada na lareira apagada, enevoada nos tons de cinza que ainda salpicavam o ar, as brasas amontoadas no fundo convertidas em pequenos pedaços escuros de carvão.

— Você não entende. Você e sua vidinha perfeita. Eu sempre tive problemas em lidar com tudo isso.

O suspiro balançou minhas estruturas.

— Sim, Hanna Winchester, essa foi a primeira coisa sensata que você disse em toda a história da humanidade: você tem problemas.

Ela voltou a emudecer, e eu voltei a encarar meu problema com os olhos esbugalhados. Ela era como um teorema de Pitágoras: eu sabia e conhecia o que era, eu só não sabia lidar com ele e encontrar um jeito fácil de solucioná-lo.

— Ela me convidou a vir. Antes de tudo acontecer. Antes mesmo de seu namorado chegar. Ela me disse que aqui eu encontraria paz, que me livraria da família arranjada que nunca me aceitou de verdade. Que eu poderia... começar de novo.

A surpresa dançou por mim, encontrando falhas em todas as minhas suposições, que foram por água abaixo assim que seu tom sincero e consternado me envolveu.

Levei os dedos a fonte, tentando clarear os pensamentos.

— Hanna, eu vou tentar mais uma vez: o que você quer “aqui”?

Ela levantou os olhos, deslizando-os pelos meus e deixando a determinação coroar suas palavras.

— Eu quero me tornar uma Falange Guerreira.

  — Tem de estar aqui... eu juro que o vi em algum lugar... — Edra Pinnbolrg assegurou enquanto dedilhava os milhares de exemplares de capa puída e empoeirada enquanto seus olhos terrosos se estreitavam no rosto pálido. — A Biografia de Evangeline não seria algo que eu não conheceria. Eu vi!

— Bem... continue procurando. — Dublemore se conteve em dizer, procurando em uma prateleira próxima a sua — Se estava aqui uma vez, deve ainda estar em algum lugar. Isso não pode simplesmente ter sumido de uma hora para a outra.

Edra parou por um momento, como se estivesse pensando sobre algo. Logo depois, seus olhos encontraram os olhos gelados de Dublemore, que a inspecionava por entre a fresta entre alguns livros. Dublemore rapidamente desviou o olhar, as faces coradas de repente. Edra fingiu não ter percebido.

― Sabe o que é idiota?

Dublemore não escondeu sua surpresa. Seus cabelos brancos amarrados num rabo de cavalo chicotearam suas costas enquanto ela endireitava a coluna.

― O que é idiota?

― Estamos tentando ser inteligentes. Sabe, tentando ter as melhores ideias para obter as respostas.

Dublemore pensou por algum momento.

― Não estou certa sobre ter entendido seu ponto de vista.

Edra suspirou, se levantando e a encontrando do outro lado da prateleira da enorme biblioteca. Ambas estavam na última galeria da biblioteca da Academia, e as mesas e cadeiras dispersas ao redor de ambas pareciam ter participado de um grande tornado, jogadas e desarrumadas. Mas de certa forma, elas tinham: alunos Falanges.

― Pense comigo: no que ainda não pensamos?

Dublemore hesitou.

― Hum... acho que em tudo, menos em uma resposta coerente.

― Não tente ser coerente. ― Edra atestou, balançando a cabeça em tom desaprovador ― Veja, vamos pensar de forma idiota por um momento. Qual seria o último lugar onde Zórem maluca esconderia uma biografia que ela queria que ficasse longe de Eve?

Dublemore piscou, cruzando os braços e se recostando na estrutura de madeira.

― Não tenho certeza.

― Exatamente. ― Edra se aproximou um passo ― Veja, o último lugar, seria em uma biblioteca pública.

― Mas todos dizem que viram...-

― Exatamente. Porque isso era o que Zórem queria que pensássemos, para que passássemos o resto dos dias ocupados, procurando e procurando entre livros e mais livros, o suficientemente distraídos com isso até que alguma coisa acontecesse. Não lhe parece óbvio? É quase como se ela soubesse o que íamos fazer. Que alguma coisa ia acontecer nesse meio tempo.

Dublemore piscou, seus olhos mais azuis enquanto acompanhava a teoria.

― Isso me parece razoável. Quando tirou essas conclusões?

Edra deu de ombros, desviando os olhos pela primeira vez.

― Mamãe teve visões. Nada muito explícito, mas ela está sentindo. Alguma coisa está a caminho, prestes a acontecer ou simplesmente se consumando. Ela tem estado assustada com as constantes ondas de mudanças no futuro. Eu só... liguei as coisas.

Dublemore engoliu, o mau agouro cortando caminho por seu peito enquanto ponderava as palavras da pequena garota a sua frente.

― Acha que isso pode ser relacionado à Eveline?

― Eu não sei. Realmente não sei a que se refere, mas a que mais poderia ser? O nosso mundo acabou de se recuperar de um grande transe... tudo está calmo demais. E você sabe o que costuma vir depois da calmaria...

Dublemore assentiu.

Se havia alguém para ter experiências bastante desagradáveis com esse tipo de metáforas... bem, ela era essa pessoa.

― Então... o que você sugere?

― Uma ideia idiota. Pense: estamos procurando apenas nas sessões proibidas. Qual seria o lugar mais idiota em que se procurar?

Os olhos de Dublemore se abriram mais, e ela rapidamente se desprendeu da estante, correndo velozmente em direção as escadas que desaguavam para as galerias inferiores, sem parar para se conter e pulando por cima do patamar, usando de suas habilidades para girar sobre as grades e cair na última galeria.

Edra a acompanhou, e isso a surpreendeu.

― É claro! Como não havíamos pensado nisso antes? As sessões livres! Quem sabe até as infantis...

Ambas se lançaram sobre as pilhas de livros infantis esquecidos numa pilha de arquivo morto nos pontos mais reclusos da última estante, e logo depois de alguns minutos, Dublemore gritou, assustando Edra ao seu lado.

― Aqui!

O encadernado era simples, uma capa marrom disforme e puída parecendo ter milênios de existência o revestia, e não havia nenhuma identificação na capa a não ser um pequeno nome manuscrito em caneta tinteiro na ponta direita inferior: EVANGELINE TRAVIS.

― Mas espere... Travis? ― Dublemore estranhou, passando os olhos e o dedo indicador acima das letras miúdas ― Que diabos? Eu achei que...

― Ora! Deixe disso! ― Edra tomou o acadernado de suas mãos, sorrindo misteriosamente ― Nós achamos. O restante agora é com Eveline e os demais.

Dublemore piscou novamente.

― Mas...

― Dubb... ― Edra se aproximou, a silenciando com o indicador enquanto levantava as sobrancelhas.

― O que eu disse a você sobre deixar de pensar com coerência? O que eu disse sobre ideias idiotas?

Sentindo o rubor se alastrar por suas bochechas congeladas, Dublemore engoliu, o formigamento familiar fazendo conexão com seu peito e trabalhando em todos os seus membros. Ele parecia se ativar automaticamente quando Edra lhe enviava aquele olhar.

― Eu... receio não ter compreendido.

Num movimento inesperado, no qual Dublemore jamais seria pega em outra ocasião, ela se viu sendo jogada sobre uma cadeira próxima, pouco antes da criatura semelhante a uma ninfa passar um joelho sobre suas pernas, sentando-se em seu colo e empurrando suas costas contra o encosto.

― Então permita-me explicar-lhe, garota da neve...

   ― Você... você... ― era tudo que eu conseguia repetir, meus olhos travados no ser abstratamente loiro amontoado em meu sofá. ― Você... quero dizer... O QUÊ?

Hanna Winchester não desviou seus olhos dos pedaços de carvão, e quase me senti ofendida por perder sua atenção para eles.

― Você me ouviu muito bem, Eve’s. Não preciso repetir.

― No inferno! Pare de malditamente me chamar de “Eve’s”! E você por acaso está ciente de que para se tornar uma Falange Gurreira, é necessário ter afinidade com algum dos elementos?

Eu tinha sua atenção. Seus olhos azuis se prenderam nos meus, as sobrancelhas curvas se arqueando como se ela estivesse esperando esse argumento.

― Não é bem assim. As Falanges Elementais são únicas obrigatoriamente regidas pelo senso a se tornarem Falanges Guerreiras. O Códice não diz nada sobre Falanges que não sejam Elementais se oferecendo para treinar.

Em face de tudo, eu só conseguia piscar. E porque eu não tinha enfiado um garfo em seu peito quando tive a oportunidade?

Deus... se eu dominasse o fogo agora eu totalmente queimaria seu traseiro.

― Você tem a mínima ideia do que está propondo? O que deu na sua cabeça, Hanna Winchester? O pouco de cérebro que você tinha escorregou pelo nariz em forma de gosma gigante? Você acabou de falar em aprender a lutar, arrancar vísceras, discrepar seres vivos. Sabe, sangue, sujeira e... mais sangue. E muitas unhas quebradas. Isso eu posso assegurar.

Seus olhos transmitiram pânico por uma pequena fração de segundos, que se diluiu rapidamente quando ela se levantou sobre os saltos, uma postura decidida a delineando contra a decoração âmbar de minha sala.

― Eu quero isso. Já tomei minha descisão, e nada do que você vá me dizer vai mudar meu ponto de vista. Eu cansei de ser isso, Eve’s! Não me trate como se me conhecesse.Eu caí muito, e com isso, aprendi a quebrar. Então, tive que aprender a ser como vidro quebrado: tive que aprender a cortar.Não tente me privar de realmente ser algo que eu quero ser pela primeira vez desde que descobri que tenho sangue Falange.

Não sei como aconteceu, mas quando dei por mim, eu já estava a guiando pelas escadas em direção a um dos quartos, ainda meio incerta sobre o que fazer com Hanna Winchester. Talvez seu traseiro de bruxa não funcionasse enquanto ela dormia, o que dizia que eu poderia tentar afogá-la com um travesseiro. Ou talvez...

― Seu namorado esteve por aqui. ― ela disse, e não foi uma pergunta.

― Ele tem um nome. ― repeli, incapaz de conter minha curiosidade só para mim e minha língua parada dentro da boca. ― E como você sabe?

Hanna deu de ombros quando olhei sobre os ombros, e tenho que dizer: a visão de suas malas flutuando atrás dela como cachorrinhos alienígenas cor de rosa enquanto ela me seguia era tanto bizarra quanto de dar arrepios.

― Eu sei lá. É estranho, esquisito e nojento. ― ela disse, se sacudindo como estivesse tentando se livrar de algo quando parei a frente da porta de um quarto vago ― Eu meio que... sinto ele em você. Ou você sentindo ele. Vocês por acaso não andaram fazendo... argh... aqui-

Eu me virei enfurecida.

― Quais as probabilidades de você ter algum AVC intestinal?

― Isso ao menos existe?

― Eu adoraria descobrir os possíveis resultados em você.

Hanna rolou os olhos.

― Me desejar um AVC intestinal não muda os fatos: eu sou sua irmã.

― Ok, obrigada por lembrar... eu quase havia esquecido. Posso vomitar agora?

Ela deu de ombros, suas malas ainda flutuando ao seu redor.

― Contanto que não seja em cima de mim. Agora, vocês fizeram não fizeram? Fizeram aqui-

― Não! ― eu cortei ― Nunca termine essa insinuação! Regra número 1: ― eu levantei um dedo à frente de seu rosto ― Você não fala de sexo comigo, tipo, nunca!

― Pelos bebezinhos conjuradores! Você falou essa palavra! A imagem totalmente se impregnou na minha mente e... ― ela levou as mãos ao rosto com uma careta. ― Ah, meus olhos! Eu realmente pensei nessa cena!

― Regra número 2: Não pense em cenas comprometedoras que envolvam a mim e a Eron! ― Eu ralhei, abrindo a porta do quarto com um chute.

― Deixe essa palavra de quatro letras longe de mim e tudo vai estar bem... ― ela resmungou, se enviando para dentro com suas malas e fechando a porta no meu nariz.

― Regra número 3: NUNCA FECHE A MALDITA PORTA NA MINHA CARA! Droga! Estamos na minha casa!

Hanna rezingou do outro lado.

― Ah, vá se catar, Eve’s. A menos que queira me ver pelada a mantenha bem assim.

Deixei que minha testa batesse sobre a madeira, o que eu geralmente era compelida a fazer quando Hanna Winchester estava por perto.

― Céus... essa vai ser uma longa e maldita temporada...

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