– Srta. Vieira? Sou o assistente do Presidente Mendes, o Presidente Mendes está te convidando, venha comigo, por favor.
Ao ver Nilton, Daniela primeiro se surpreendeu, mas logo abaixou o olhar, disfarçando o reconhecimento.
Da última vez, ela havia ido tratar alguém a pedido de Calisto, e esse homem havia atendido a porta.
“Ele é o assistente do Ramon?”
“Será que aquele homem ferido era Ramon?”
– Srta. Vieira, por favor. – Nilton insistiu, notando sua relutância.
Daniela conteve seus pensamentos e disse:
– Tenho que ir trabalhar.
Era uma recusa clara.
Ela não queria ver aquele homem.
– Srta. Vieira, pense bem. Sua posição atual irritou o Presidente Mendes. Perder o emprego é o de menos, sua carreira como médica pode ser arruinada.
Era uma ameaça clara.
Daniela apertou os punhos com força. Seu pai só lhe deu o dinheiro para a cirurgia, e as despesas do tratamento e cuidados de sua mãe dependiam de seu salário. Ela não podia perder o emprego, nem abrir mão de sua carreira como médica.
Ela não teve escolha a não ser acompanhar Nilton!
– Espere um momento, vou ligar para o hospital e pedir licença.
Dito isso, ela subiu as escadas, pegou um bisturi na gaveta e o colocou na bolsa, para se defender.
Depois de se arrumar rapidamente, ela desceu.
Logo, ela foi levada a um local de entretenimento.
Daniela nunca havia estado em um lugar assim.
Havia casais se pegando por todos os lados, e mulheres fofocando em um canto...
– Ouvi dizer que o homem com quem Ramon faz negócios no andar VIP é muito tarado e tem gostos bizarros.
– Será que é o mesmo de antes, que quase matou uma das garotas?
– Sim, é ele mesmo. Dessa vez, não sei quem vai se dar mal, mas espero que não seja uma de nós. Ouvi dizer que a última garota, mesmo tendo sobrevivido, ficou incapaz de ter filhos, não sei o que fizeram com ela...
Daniela sentiu um arrepio, especialmente ao ouvir o nome de Ramon na conversa delas.
Ela estava um pouco nervosa, com as palmas das mãos suando frio.
Logo o elevador parou.
Nilton viu que ela estava pálida e, com bondade, a lembrou:
– Você sabe muito bem como se casou com o Presidente Mendes. Agora, se você assinar o acordo de divórcio, poderá evitar este compromisso de hoje.
De fato, a família Mendes devia um favor à família Vieira, e esta havia imposto algumas condições. A família Mendes não podia recusar, mas se a Daniela aceitasse o divórcio por vontade própria, encerraria toda aquela questão.
Daniela olhou para Nilton, seu corpo tremendo levemente. Se ela pudesse recusar, não teria entrado na família Mendes.
Muito menos teria dado a Ramon a chance de forçá-la agora.
Ela respirou fundo e seguiu Nilton para fora do elevador.
Nilton franziu o cenho, sem dizer mais nada, e a levou para um luxuoso salão privado. Na penumbra, ela logo avistou Ramon sentado no sofá, ao lado de um homem.
– Ora, ora. – Assim que ela entrou, atraiu os olhares do homem desconhecido, que a examinou de cima a baixo sem pudor. – Não é nada mal, essa pele branca como porcelana, essa cinturinha fina. Aposto que é bem macia sob as minhas palmas.
Ele gesticulou para Daniela, dizendo:
– Venha se sentar ao meu lado.
Daniela olhou para Ramon. Ele estava recostado, as pernas cruzadas com elegância, o rosto todo oculto na escuridão. Ela não conseguia vislumbrar nenhuma expressão sua.
O homem se levantou e colocou o braço sobre o ombro dela de maneira atrevida.
Ele olhou para Ramon e comentou rindo:
– De onde você tirou essa? É muito mais bonita do que aquelas garotas de programa maquiadas demais. Essa aparência ingênua e natural é exatamente do meu gosto.
Ramon não disse nada e não impediu o comportamento do homem, o que parecia ser uma permissão tácita.
Daniela sentiu um frio no coração. Ela apertou com força a alça da sua bolsa.
– Você bebe? – O homem perguntou, deslizando a mão pela cintura dela.
Ela se afastou, enojada com aquele homem, e recusou:
– Não bebo.
– Não tem problema, eu te ensino.
Dito isso, ele encheu um copo até a borda e o aproximou da boca dela.
Ela virou o rosto para se esquivar, mas o homem a puxou para seus braços. Ela se debateu:
– Me solte...
– Me acompanhar nesses compromissos também faz parte do seu dever. – Ramon se inclinou para a frente, seu perfil ficando mais nítido à luz. Seus olhos estavam tranquilos, mas o cenho carregado lhe dava um ar hostil. – Se não consegue, é melhor ir embora!
Ela pensava que ele não gostava dela, que no máximo a tratava como lixo ou como se ela fosse invisível.
Mas nunca imaginou que ele pudesse ser tão desprezível.
– Eu bebo. – Ela cedeu, afastando o homem.
Pegou o copo que ele lhe oferecia e, após uma breve hesitação, virou todo o conteúdo de uma vez.
Era a primeira vez que Daniela bebia.
A bebida queimou sua garganta até o estômago.
Ardida e picante.
Ela franziu as sobrancelhas, numa expressão provocante aos olhos dos outros. O homem não se conteve, perguntando;
– Presidente Mendes, posso levá-la daqui?
Daniela se assustou e quis fugir. Quando levantou o rosto, seus olhos encontraram o olhar profundo e sombrio de Ramon. Ela parou, percebendo que era isso que ele queria: humilhá-la.
Rapidamente, Ramon desviou o olhar, dizendo:
– Fique à vontade.
O homem sorriu com os olhos brilhantes e logo abraçou Daniela, desta vez ela não resistiu. Em seguida, eles saíram do salão privado.
Nilton se aproximou, dizendo:
– Se deixar a Srta. Vieira ir embora com o Fausto... Temo que sua ingenuidade fique comprometida, ela...
“Embora o chefe queira que ela recue diante dessa situação e aceite a se divorciar por vontade própria, não era para que ela realmente perdesse a virgindade para outro homem, certo?”
Ramon se serviu de uma dose de bebida, virando tudo de uma vez. Seu olhar estava sombrio ao responder:
– Você acha que ela é tão pura assim?
Nilton ficou profundamente chocado, seus olhos se arregalaram. Então, a família Vieira não era apenas gananciosa, a mulher que eles entregaram para o Ramon também não era decente?
Ele ficou imediatamente indignado, lamentando ter tido um pouco de compaixão por Daniela.
Agora, via que ela não a merecia.
– Ela sabe que nós estamos causando pressão nela de propósito, mas mesmo assim não quis tomar a iniciativa de pedir o divórcio. Parece que ela não vai abrir mão facilmente. – Disse Nilton.
Será que ela queria se agarrar à família Mendes na cara dura?
– Presidente Mendes...
– Vamos embora. – Ramon o interrompeu, com expressão calma, obviamente não querendo ouvir mais nada sobre Daniela.
Nilton foi sensato e não falou mais nada, foi na frente abrir a porta do salão privado.
Dentro do carro, as cenas da mulher indo embora com Fausto Ribeiro voluntariamente passavam pela mente de Ramon.
“Ela sabe o que vai acontecer e mesmo assim quis ir?”
“Aquela mulher...”
– Volte.
Nilton ficou por um momento confuso, mas logo entendeu, virando o carro de volta ao clube.
Porém, não encontraram a pessoa lá, disseram que ela já havia saído.
O rosto de Ramon ficou sombrio e ele ordenou que Nilton fosse à mansão.
Mas ela também não estava lá. Obviamente, Daniela ainda não havia retornado.
– Vá procurar a...
Antes que Ramon completasse a frase, a porta se abriu e a voz de Daniela soou:
– Dona Berta...
Ela não era acostumada a beber e apenas uma dose já a havia deixado um pouco embriagada. Se não fosse pelo seu habitual autocontrole e sua frieza profissional, ela realmente não conseguiria voltar.
No entanto, viu Dona Berta parada ali, sem coragem de se aproximar.
– Dona Ber...
Quando ela estava prestes a chamar novamente, finalmente notou o homem parado na sala.