Você Mentiu Pra Mim.
Você Mentiu Pra Mim.
Por: Arielysantos
Carolina

"Eu te amo, meu amor."

Acordei em um sobressalto, o grito preso na garganta, o corpo ofegante, sem ar. E era sempre assim. Olhei o relógio no criado-mudo: 3h27 da manhã. A madrugada ainda me esmagava. Abri a gaveta, peguei o frasco, retirei os dois comprimidos e os engoli de uma vez. A água desceu gelada, mas não acalmou a alma. Arrumei o travesseiro, me deitei novamente e fechei os olhos. Desejava, desesperadamente, voltar para aquele sonho. Desejava voltar no tempo, sentir seu cheiro mais uma vez, ouvir sua voz.

Que cara é essa? Nem parece que, há poucas horas, conseguiu vencer o Cortes no tribunal.

O que você quer? Estou ocupada.

Minha voz saiu mais ríspida do que o planejado.

Nossa, que bicho te mordeu?

Parei o que estava fazendo. Olhei para Fernanda Soares. Ela uma grande amiga, mas com uma completa falta de noção. Ela não sabia bater na porta?

Por que a pergunta? Estou normal. É o meu jeito de sempre.

Claro, o mau humor de sempre, mas hoje está pior.

Para de enrolar e fala logo o que você quer!

Tá vendo? Parece que não dormiu. Está com uma cara péssima, sem falar que está distante.

Estou ocupada, Fernanda. Fala logo para o que veio!

Tudo bem. Vim te convidar para a inauguração da nova boate na sexta-feira. Ouvi dizer que o lugar é incrível.

Não, obrigada. Eu detesto multidão, detesto barulho. Vá você. Chame a Monaliza ou o Theo. Eu não vou.

Ok, Carol, não vou insistir. Mas saiba de uma coisa: viver presa nesse escritório e no seu apartamento não vai mudar o passado.

Vi Fernanda sair da minha sala com um olhar de tristeza. Queria ser forte. Queria poder apagar meu passado da mente e seguir em frente. Queria deixar a dor e a angústia para trás, mas não conseguia. Por isso, me jogava no trabalho. Era a única forma de continuar.

Passei o dia trancada na sala, trabalhando incessantemente. Olhei para o relógio na parede: quase nove da noite. Sempre assim: a primeira a chegar, a última a sair.

Saí do escritório e caminhei pelos corredores vazios. O eco dos meus passos parecia me seguir. No elevador, as portas se abriram no térreo. O arrepio me subiu pela espinha. Olhei para todos os lados, mas não vi nada. Corri para o meu carro, liguei o motor e saí dali, sentindo o alívio de estar na rua novamente.

Na manhã seguinte, a assistente de Tenório me interceptou.

Bom dia, Carol. O Sr. Tenório pediu para que, assim que você chegasse, fosse à sala dele. Ah, e não se esqueça da reunião com a Srta. Vasquez.

Bom dia,respondi, apressada. Obrigada. Quero ver o que ele quer. Se a Bianca Vasquez chegar antes, leve-a para a sala de reunião.

Você está bem?

Sim, por quê?

Está com uma feição tão cansada.

Estou bem. Apenas perdi a hora com alguns processos e dormi pouco. Já volto."

Caminhei em direção ao elevador. As lembranças da noite, o medo que ainda sentia, faziam cada célula do meu corpo tremer. Sacudi a cabeça para afastar os pensamentos ruins.

Bom dia, Sônia! O Sr. Tenório me chamou.

Bom dia, querida. Pode entrar.

Bati na porta e ouvi sua voz autoritária.

Bom dia. O senhor me chamou?

Bom dia, sim. Sente-se. Primeiro, quero parabenizá-la pelo belo trabalho na defesa da Srta. Vasquez. E quero lhe dizer para ter cuidado. O Cortes é um homem perigoso, não vai deixar barato o fato de você tê-lo vencido no tribunal. Mas não foi para isso que a chamei aqui. Imagino que conheça a construtora Lutero?"

Sim.

Pois bem, o Marcos é quem cuida da área jurídica da construtora, mas ele está fora. Só volta daqui a duas semanas. O Felipe Lutero, o CEO, me ligou e precisa de um substituto. Quero que você assuma o lugar dele pelas próximas semanas.

Claro, farei o meu melhor.

Certo. Esteja lá amanhã cedo. O Lutero é difícil de lidar, boa sorte.

Obrigada.

Saí da sala e encontrei Bianca. Falamos sobre o processo e o dia passou tão rápido que nem percebi. Arrumei minhas coisas, saí da empresa e dirigi para casa.

Tomei um banho, preparei um lanche e me sentei na varanda. Olhei para a noite escura e pensei em lutar contra a dor, em não me deixar dominar por ela. Mas não consegui. As lágrimas desceram pelo meu rosto, os soluços saíram da minha garganta. Abracei meu próprio corpo, chorando sozinha, com o coração sangrando e a alma incompleta.

No dia seguinte, cheguei em frente ao imponente edifício. Pareci uma boba, admirando a beleza daquela arquitetura.

Bom dia! Poderia me dizer qual o andar da presidência?

A recepcionista me olhou de cima a baixo. "E você, quem é?"

Sério? Essa é a pergunta que uma recepcionista deve fazer? Não que seja da sua conta, mas sou Carolina Mendez, advogada do Sr. Tenório."

"Último andar. Porta cinco. Vai direto para a sala da presidência."

Pensei em dar uma boa lição naquela mulher, mas estava atrasada. Olhei meu reflexo no espelho do elevador, ajeitei meu vestido e meu blazer. Por algum motivo, estava nervosa. As portas se abriram. À minha frente, uma mulher morena, a secretária do presidente, digitava furiosamente no computador.

Bom dia. Em que posso ajudar?

Sou Carolina Mendez...

A advogada!

Sim.

Só um minuto, vou avisar o Sr. Lutero que está aqui.

Ela ligou para ele e vi sua expressão mudar. Ele deve ter dito algo de que ela não gostou.

Pode entrar. Boa sorte.

Caminhei até a grande porta com a placa dourada: "Presidente Felipe Lutero". Senti um frio na barriga ao pronunciar o nome. Bati na porta e ouvi um "entre". O perfume forte e marcante me envolveu.

Meus olhos se fixaram nele. Felipe Lutero. um homem de olhos verdes que me hipnotizaram. Minha respiração acelerou. Eu não conseguia descrever o que estava sentindo.

Bom dia, Sr. Lutero. Sou Carolina Mendez, a advogada que irá acompanhar-lo nas próximas semanas.

Bom dia, Srta. Mendez. Sente-se, por favor.

Enquanto ele falava sobre as responsabilidades e desafios, eu me esforcei para manter a concentração, mas era quase impossível ignorar a presença poderosa de Felipe. Seus olhos brilhavam, e sua voz grave me envolvia. A cada palavra, a confusão de emoções dentro de mim só aumentava.

Quando finalmente saí da sala, ainda senti a intensidade daquele encontro. Tentei me focar em minhas novas responsabilidades, mas era difícil ignorar a nova e inesperada sensação que o encontro com Felipe havia despertado em mim.

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