Solange sentiu uma tensão no coração, como se uma magia de paralisia a houvesse atingido, congelando-a na posição curvada em que se encontrava. "O momento chegou tão rápido assim? O que eu devo fazer? Devo recusar delicadamente, agir de forma ambígua ou repreendê-lo com palavras justas?"
Em um piscar de olhos, inúmeros pensamentos cruzaram a mente de Solange.
Mas a mão de Durval já havia tocado em seu peito, deslizando levemente pela gola da sua roupa, ele disse com um sorriso:
- Tem um fio de cabelo aqui, melhor não deixar cair na comida.
Solange respirou fundo, aliviada, e seu corpo tenso finalmente relaxou.
Com um certo nervosismo, ela disse:
- Desculpa, chefe, tenho perdido bastante cabelo recentemente.
- Não tem problema. - Durval falou despreocupadamente enquanto começava a apreciar a tigela de macarrão à sua frente.
Solange se endireitou, o coração ainda acelerado, incerta sobre o que dizer ou fazer em seguida.
Após algumas garfadas, Durval subitamente ergueu a cabeça:
- Está gostoso, você já comeu?
- Ainda não. - Respondeu Solange.
- Então vá fazer uma tigela para você, sua habilidade na cozinha é notável. - Durval a elogiou novamente.
Solange acenou rapidamente com a cabeça e correu para a cozinha. Durval observou sua silhueta com um sorriso discreto.
Logo depois, Solange também preparou uma tigela de macarrão para si, e ambos terminaram sua refeição em silêncio.
Depois de limpar a mesa, Solange sentou-se ao lado de Durval. Seu roupão noturno não era suficiente para ocultar sua beleza deslumbrante.
Tomando um gole de chá, Durval perguntou:
- Como estão indo as coisas com o Grupo HT?
- Já fechamos o contrato esta tarde. - Ao falar de trabalho, Solange se tornou outra pessoa, objetiva e decidida. - Cinquenta bilhões já foram transferidos para o Grupo HT, mas as pessoas que enviamos agora compõem a maioria do conselho da empresa e também temos a maioria das ações. Em alguns dias, teremos o controle total sobre o Grupo HT.
Durval assentiu:
- Bom trabalho.
- Eu já instruí nossos membros no conselho do Grupo HT para monitorarem secretamente suas finanças e fiscalizações sob o pretexto de supervisão de fundos. Considerando a situação financeira do Grupo HT, é quase certo que haverá irregularidades. - Disse Solange.
Durval olhou para Solange com surpresa.
"Essa mulher não apenas antecipou minhas intenções mais profundas, como já havia se preparado para elas. Ela é realmente uma joia rara."
Nesse momento, Solange estava sentada com grande confiança e compostura no sofá, uma mudança notável em relação a sua inquietação anterior.
Durval ponderou por um momento e falou lentamente:
- Se sabemos que o Grupo HT tem problemas, por que ainda investir nele?
- Chefe, essa é uma espécie de segredo aberto na indústria. Todos os negócios têm seus problemas, grandes ou pequenos. - Solange falou com confiança. - Mas com o poder financeiro do Consórcio do Cabo, nós definitivamente podemos ajudar o Grupo HT a superar suas dificuldades e crescer rapidamente. Além disso, os problemas que eu mencionei podem ser resolvidos depois que interviermos. Mas conforme suas instruções, já modifiquei o plano original.
Durval acenou com a cabeça em aprovação:
- Você fez um excelente trabalho.
- Obrigada, chefe. - Solange inclinou a cabeça humildemente.
- Amanhã, às oito, mande um carro para mim. - Durval mudou de assunto; estava claro que ele não tinha mais perguntas para Solange.
Ouvindo isso, ela perguntou prontamente:
- O senhor tem alguma preferência para o carro?
- Algo discreto. Não quero que minha identidade seja conhecida. E, daqui para frente, não me chame de chefe. - Durval instruiu.
Solange parecia um pouco desconcertada e perguntou:
- Como devo chamá-lo então?
- Durval ou senhor, tanto faz. Só não me chame de chefe.
Solange ficou sem palavras. Se ela ousasse chamá-lo de Durval, estaria basicamente pedindo para ser demitida.
Depois de um momento de reflexão, Solange sugeriu:
- Que tal eu chamá-lo de chefe quando estivermos sozinhos e de senhor quando estivermos na presença de outros?
- Ok. - Durval concordou sem pensar muito. - Onde vou ficar?
Ao ouvir isso, Solange mordeu o lábio inferior e disse suavemente:
- Os quartos do andar inferior são para hóspedes. Os quartos do andar superior são melhores; eu também moro lá.
Durval sorriu e disse:
- Vou ficar no quarto de hóspedes então, já que estamos sozinhos aqui.
Solange corou e respondeu:
- Vou levá-lo até lá.
Durval se levantou e seguiu Solange até um dos quartos de hóspedes. Ele deu uma rápida olhada ao redor e disse a Solange:
- Tudo bem, você pode ir descansar agora. Não precisa se preocupar comigo, apenas faça o seu trabalho.
- Entendi, chefe. Boa noite.
Solange se retirou. Durval explorou o quarto espaçoso de mais de cem metros quadrados e começou a meditar na sala de estar.
...
Às sete da manhã, Durval abriu os olhos pontualmente, se sentindo revigorado após uma noite de meditação.
Depois de se arrumar, ele foi até a sala de estar e encontrou Solange já esperando por ele.
- Bom dia, chefe.
Solange fez uma reverência. Durval acenou com a mão e disse:
- Não precisa ser tão formal daqui em diante. Estou um pouco desconfortável com isso.
Solange não se abalou e apresentou uma chave de carro:
- Chefe, seu carro está esperando do lado de fora.
- Um carro de nicho, bom. - Durval pegou a chave e acenou com a cabeça.
Solange murmurou:
- É um Phaeton.
- Phaeton? - Durval pareceu surpreso. - Isso não custa quase um milhão de reais?
- É um Phaeton top de linha, duzentos e cinquenta e seis mil reais. - Solange informou.
Durval franziu a testa e disse:
- Não te pedi para ser o mais discreto possível?
Solange ficou sem palavras por um momento. Como que o chefe não tinha a mínima noção do seu próprio valor, ou da força do seu Consórcio do Cabo?
Claro, ela não ousava expressar esses pensamentos. Respondeu baixinho:
- Chefe, este já é o carro mais discreto da empresa.
- Tudo bem. - Durval respirou fundo. - Vá cuidar dos seus assuntos. Não precisa se preocupar comigo.
Solange assentiu:
- Está bem, chefe. Até mais.
Dizendo isso, Solange pegou sua bolsa e caminhou em direção à saída. Vista de costas, o seu traje profissional azul-celeste realçava suas curvas voluptuosas. Os saltos altos faziam com que ela parecesse ainda mais alta, e o balanço dos quadris exalava a aura de uma mulher madura. Era uma figura e tanto, com uma presença impecável.
Durval sorriu e seguiu para fora, dirigindo seu Phaeton em direção à área urbana.
Às oito da manhã, assim que Durval chegou ao departamento de divórcios, recebeu uma ligação de Lorena.
- Já chegou ou vai continuar se escondendo? - Lorena não soava nada menos que uma mandona, do outro lado da linha.
Durval trancou o carro e respondeu calmamente:
- Estou aqui na porta.
Desligou o telefone e, ao chegar à entrada, encontrou Lorena e Murilo esperando.
Vendo que Durval tinha realmente aparecido, ambos pareciam aliviados.
Durval sorriu e disse:
- Vamos então.
Lorena bufou e tomou a dianteira, caminhando em direção ao interior do edifício.
Sem filhos e sem divisão de bens, o processo foi extremamente rápido.
Meia hora depois, os dois saíram do departamento civil com os documentos de divórcio em mãos.
No portão principal, Lorena exibiu o certificado de divórcio para Murilo, exclamando:
- Murilo, estou livre!
Murilo abraçou Lorena e os dois se beijaram apaixonadamente.
Durval sentiu uma pontada de náusea, mas ainda assim conseguiu dizer com um sorriso:
- Vocês estão livres agora, podem até se casar.
- Quem você pensa que é para se meter? - Lorena olhou para Durval com desprezo. - Murilo e eu vamos ter um casamento grandioso, com todos os notáveis da Cidade X presentes. Só depois é que vamos oficializar. Agora suma daqui, seu inútil.
- É? Não se esqueça de não chorar depois.
Durval soltou uma gargalhada.
Murilo, furioso, avançou em direção a Durval, gritando:
- Está querendo apanhar, é?
Nesse momento, os dois seguranças de Murilo também avançaram, cercando Durval.