Vincenzo
Vincenzo
Por: Gil Fox
Capítulo 1

Isa

Acabei de sair de uma cirurgia longa e tensa, meus ombros doloridos, minha mão doía, minhas pernas tremiam, tudo que queria era um chocolate, um banho quente, uma massagem feita por mãos masculinas, enquanto estivesse nua em uma cama gigante com ele também nu e bastante alegrinho.

Faz quanto tempo que não transo? Perguntei-me enquanto fechava os meus tênis.

Se nem me lembro disso, é porque a situação estava séria. Mas vamos lá, saí da escola e embarquei em um ano de estudos para fazer vestibular, passei na USP e foram mais cinco anos dentro de uma sala de aula, residência, especialização, mais residência, mais estudos e finalmente estou aqui, trinta anos, nenhum filho, com uma casa que ainda estava pagando, uma moto linda demais que iria usar para minha grande aventura, mochilão por todo o país, e um gato que me adotou. Sem filhos e sem marido. Não porque eu não queria, acho que oitenta ou noventa por cento das mulheres deseja filhos, mas eu ainda não tinha achado o cara certo.

— Doutora. — Saí dos meus devaneios quando um lindo enfermeiro apareceu na porta do vestiário. O local onde estava comum para toda a área onde ficavam os armários e lugares para se parametrizar antes de uma cirurgia, além da porta de entrada tinha mais duas onde ficavam os banheiros masculinos e femininos com chuveiro e sanitário. — Preciso que você dê uma olhadinha em uma de minhas pacientes.

— Um minuto que já vou até a Neo. — Sorri para o homem alto, muito alto, acho que ele beirava aos dois metros, o que era muito bom, me sentia pequena e feminina perto dele, já que com meu um metro e oitenta isso era digamos que quase impossível.

Voltando ao deus na minha frente, o cara arrancava suspiros por onde passava, já tinha ouvido falar do enfermeiro bonitão da neo-natal.

Comecei a varrer meu olhar para ele, seu corpo magro, porém atlético, peitoral largo, braços musculosos, dizem que ele tinha uma tatuagem no braço, nunca vi sem o jaleco, então não sei, rosto quadrado, sorriso de matar, olhos e cabelos castanhos, um conjunto de parar o trânsito que não vazia minha calcinha vibrar, o que era uma pena. — Me adiante o assunto.

— Precisamos de um acesso venoso central, as veias da minha princesa não estão cooperando. — Se o fato dele ser bonitão não fazia as mulheres suspirar, acrescente o carinho e dedicação com bebês pequenos que mal cabia na palma da mão grande dele?

— Quanto tempo ela tem na unidade? — Peguei meu outro pé do tênis é o coloquei fechando o velcro a seguir, desde que vi a Arizona de Grey’s Anatomy usando um par com rodinhas eu quis um também, adoro andar pelos corredores com ele e já fui chamada a atenção várias vezes, o que não liguei nem um pouco.

— Fez um mês, a pequena nasceu de trinta semanas é está lutando cada dia. — O orgulho no seu tom de voz não me passou despercebido. Devido a profissionais como ele que desejei ser médica, quando eu era a paciente tive oportunidade de conhecer os verdadeiros super-heróis.

— Muito bem, vou ter que só dar uma olhada no meu paciente é já vou para lá, prepare tudo para mim, por favor. — Ele acenou em concordância e saiu do lugar.

Terminei de guardar minhas coisas na grande mochila Rosa com preto que levava praticamente a minha casa dentro. Sério, se eu fosse um animal seria a tartaruga, ou melhor, um canguru, me avaliei como sendo elétrica de mais.

Parei na frente de um espelho e me olhei. Saca, não era tão mal. Tinha um corpo cheio, porque adorava comer e odiava academia, então confesso, preciso perder uns quilos, não muitos, não gostava da minha aparência magra demais, tinha o tom de pele uma dois tons acima do enfermeiro que acabou de sair, meus cachos estavam presos em elástico, precisava urgentemente de um dia de salão, como cabelo afro dava trabalho, minha nossa! Tamanho de seios? Ok, nem muito grandes, nem pequenos uma leve caída, quadril largo, pernas compridas, bunda de médio tamanho, ou seja, eu era um puta mulherão.

— Sou foda — falei para a imagem no espelho. De dentro de uma bolsa que já tinha deixado na pia, tirei um batom vermelho, amava aquela cor, passei em meus lábios carnudos, soltei meu cabelo que armou o black. — podia ter nascido com os cachos da minha mãe, amo você juba de leão, mas tu me dá um trabalho danado. — gargalhei enquanto pegava minhas coisas e sai deslizando pelo local, adorava meus tênis de rodinha.

Preenchi a papelada do paciente a qual acabei de operar, me despedi da equipe e fui ver a princesa no quinto andar. Fiquei me perguntando o porquê de minha calcinha não vibrar com o bonitão do enfermeiro, o cara era lindo e mais alto do que eu. Se fosse solteiro seria uma ótima escolha, mas a emoção não estava ali. Talvez eu seja lésbica, nenhum cara me chama a atenção, prefiro ficar em casa a sair em mais um encontro.

Comecei a pensar sobre aquela ideia de gostar de mulheres e a descartei no instante que as portas se abriram no segundo andar e um homem de terno entrou.

Minha nossa senhora das médicas encalhadas, o cara era perfeito. Não, ele não era tão lindo quanto os modelos de revista ou atores de televisão, uma beleza que não tem o que explicar, talvez o terno abrigava seu grande corpo, os braços e as pernas esticavam a costura da roupa de tanto grossos que era os membros, peitoral largo, rosto quadrado bem barbeado, olhos castanhos, cabelo curto com mechas claras e escuras, pele dourada. E as mãos grandes pareciam muito com as do enfermeiro.

Me peguei imaginando elas em minha bunda, apertando enquanto ele me pressionava contra a parede e atacava minha boca.

— Preciso de sexo.

— Como? — O homem olhou para mim com cara de espanto, foi aí que notei que pensei alto. Senti meu rosto esquentar.

— Preciso de ce… cebola — emendei. — Estava distraída fazendo a lista de supermercado, minha geladeira está vazia, não tem nadica de nada para comer, o que é bom por um momento, é só pedir comida, não vou precisar cozinhar, nem lavar louça, acho que os pratos deveriam ser todos descartáveis, panelas também, ariar panela é um oh. — Acho que o cara me achou uma doida, ele me deu aquela olhada de quando estamos na TPM e alguém mostra uma barra de chocolate em nossa frente.

Me mexi e lá estava a calcinha vibrando, uhhhh não era lésbica, afinal de contas, eu só precisava de um moreno gostoso em um terno. A porta do elevador abriu em meu andar, sorri para ele e sai deslizando.

— Moça. — Dei meia volta e parei a poucos metros, ele saiu do elevador e me encarou com aquela cara de diretor que ia dar bronca em aluno, algo super sexy nele. — Você não pode andar de patins no hospital, isso não é lugar de brincadeiras.

— Primeiro, é um tênis. — Apontei para o meu pé. — Segundo, não estou brincando, só indo mais rápido para onde tenho que ir e depois correr para o mercado comprar cenoura. Terceiro, tem uma veia saltando na sua testa, cuidado para ela não explodir é você ter um aneurisma, dica de médica, relaxa se não, não encaixa.

— Pensei ser cebola e não cenoura. — O cara cruzou os braços, o que deixou mais evidente seus músculos. — Isso é um ambiente hospitalar e…

— Mano, nem sei quem você é, mas deixa eu te contar algo — Voltei deslizando até ele é sorri quando cheguei. — Nem meu pai conseguiu me tirar de cima dos meus tênis, não vai ser um Zé alguém que conseguirá.

— Você quiser dizer ninguém.

— Não. É alguém, mesmo, você tem cara de diretor chato que pega no pé dos alunos, estou supondo que trabalha aqui pelo crachá no seu pescoço, então é alguém. — Dei uma volta nele e voltei a deslizar pelo corredor verde água clarinho. Parei por uns instantes é virei para ele, dei uma  piscadinha. — Ele só é dono de tudo isso aqui, então não perca seu fôlego, não vou tirar meus tênis. — Joguei beijo para ele e continuei meu caminho até o final do corredor onde ficava a porta de entrada da UTI neonatal.

Na entrada havia um lavatório, peguei o elástico em meu pulso e voltei a arrumar a cabeleira, coloquei a roupa protetora, composta por um jaleco descartável, touca e uma proteção para meus tênis. Entrei no ambiente climatizado e um tanto escuro. Os barulhos das máquinas ligadas em várias baias eram ouvidos por todo lugar.

Não gostava muito de entrar naquele lugar, na verdade, eu odiava trabalhar com criança, pois me lembrava da minha infância e no quanto o hospital foi o meu lar. Acho injusto, crianças ficarem doentes, elas não tinham nem aproveitado a vida e sua sentença de morte estava antecipada.

— Doutora. — O enfermeiro bonitão me chamou de um berço em minha frente. Caminhei para lá e ao chegar próximo avistei um bebê enrolado. — Essa é a nossa princesa Diana.

— Um nome bem forte para uma guerreira. — Ele concordou sorrindo. Peguei seu prontuário e dei uma olhada na evolução médica e no pedido para o cateter. — Muito bem, vamos começar.

— Deixei tudo pronto para senhora.

— Me chame de Isa, senhora é só a minha mãe. — Fui me preparar, outra passada no lavatório, lavei as mãos, sequei com um pano estéril, coloquei outro jaleco azul também sem contaminação, o enfermeiro veio amarrar ele em minhas costas, enquanto colocava a luva.

Comecei a trabalhar com agilidade e eficiência, apliquei um leve anestésico no local, tive que me segurar para não chorar com a mocinha, fiz o meu trabalho o mais rápido possível para não a machucar. Depois que terminei peguei a pequena Diana nos braços. — Desculpe-me, pequena. — Dei um beijo em sua testa e a coloquei de volta.

— Obrigado, Isa. — Não consegui sorrir para ele. Peguei o prontuário e caminhei para o posto de enfermagem, para fazer meu relatório do procedimento.

Precisava sair dali com urgência, o choro da menina lembrou o meu, quando eu estava no lugar dela, os médicos me furando, a dor, os rostos tristes dos meus pais, tinha sete anos, mas sabia que ia morrer, só queria que parassem e me deixassem ir. Eu estava tão cansada de lutar e ser guerreira como todo mundo pedia para eu ser.

Respirei fundo e finalizei meu trabalho. Dei tchau para todos e peguei minhas coisas, saí da neo-natal correndo como se o diabo estivesse atrás as de mim. A pressa era tanta que não vi por onde andava até colidir contra alguém.

— Te peguei. — A voz rouca do moreno do elevador chegou aos meus ouvidos. Olhei para cima e vi olhos sérios me analisando.

— Eu… eu… — As lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. Fazia muito tempo que não tinha uma crise dessas. Agarrei-me nas lapelas do terno dele e comecei a chorar encostada ao seu ombro, minha bolsa foi ao chão e a estranho me abraçou. Seu cheiro másculo, uma mistura do odor dele com o perfume amadeirado, invadiram minhas narinas e me embriaguei nele. Não demorou para meu cérebro doido sair do loop de medo para ir para o loop de excitado, nada como um homem cheiroso para nos distrair.

— Se você está chorando só para que eu não brigue com você por estar andando de patins pelo hospital, não vai se safar disso, mocinha. — Olhei para cara séria dele, e mostrei a língua.

— Cara, relaxa. — Dei um passo para trás, ele ainda me segurou por meus braços. — A vida é curta e você precisa viver ela plenamente. — Respirei o ar infestado pelo perfume dele, naquele momento usei suas palavras para mim. — Então vamos curtir. — A minha diabinha deu um pulo digna de Daiane dos Santos.

Quando eu tinha quinze anos e estava a ponto de desistir da minha vida e do meu corpo doente, uma enfermeira me fez fazer uma lista de coisas que eu ia fazer quando saísse do hospital. Um dos itens era beijar um garoto, refazendo a minha lista naquele momento coloquei o item, beijar um homem desconhecido e gostoso no corredor de um hospital. Era a oportunidade perfeita ou desculpa perfeita para beijá-lo.

— Carpe Diem. — Peguei a gravata dele, nas minhas mãos e o puxei próximo a mim, eu tinha que ficar nas pontas dos pés, o homem era maior que eu. Diabinha estava dançando de alegria e o anjo arrancando os cabelos dizendo para eu parar de ser doida. A diabinha pulou em cima da anjinha e deu carta-branca. Sorrir e colei meus lábios nos do desconhecido.

Senti o gosto de menta, como se ele estivesse acabado de chupar uma bala. No começo ele não teve reação, estava quase desistindo quando ele me puxou para si e me apertou, levando a mão até minha cabeça e a outra em minhas costas, seus lábios abriram e sua língua invadiu minha boca dominando a situação. O homem sabia beijar. Levei as minhas mãos aos seus cabelos colando nossos corpos ainda mais, parecia querermos nos fundir um ao outro.

Soltei um gemido quando tudo terminou. Abri meus olhos e olhei para os dele, que mudou levemente de tonalidade, parecendo mais claros.

— Carpe Diem. — Repetir antes de pegar minha bolsa do chão e sair deslizando pelo corredor. Antes de chegar aos elevadores, dei meia volta e continuei de costas. Ele estava lá parado me olhando embasbacado, joguei um beijo para ele e voltei a olhar para frente. Eu e minha diabinha estávamos rindo como loucas.

Sim, eu iria curtir a minha vida.

***

Capítulo alterado devido alguns erros na escrita!

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