Lara O silêncio do quarto era confortável, mas meu peito estava uma bagunça. A mansão parecia respirar em outro ritmo, alheia ao turbilhão dentro de mim. Me encolhi no sofá junto à janela, com os joelhos abraçados e o olhar perdido na paisagem. O céu de Dubai já estava começando a mudar de tom, um dourado suave se espalhava pelas nuvens, como se a cidade inteira estivesse sendo embrulhada num véu de calor e beleza. E ali estava eu, perdida em um pensamento que me perseguia há dias: e se eu tiver um filho com Khaled? Meus dedos acariciavam o tecido fino da camisola enquanto meus pensamentos giravam. A ideia surgiu desde o dia em que ele falou, com toda a segurança do mundo, que desfaria a vasectomia. Eu ri nervosa naquele momento, tentando escapar da conversa, mas desde então... não consigo mais parar de pensar nisso. Um filho. Um bebê com aqueles olhos escuros, com aquele ar de poder que o Khaled carrega até dormindo. Um bebê que talvez herdasse meu sorriso... ou minha covardia. Po
Narrado por KhaledDesde que me tornei o homem mais temido da minha família — e, talvez, de toda Dubai — aprendi que o perigo raramente vem vestido com sangue e faca. O perigo verdadeiro chega sorrindo. Servindo o chá. Dobrado no canto do quarto com um espanador na mão.Ranya.A mulher é discreta demais. Atenta demais. E embora tenha sido contratada para cuidar da limpeza da parte leste da mansão, ela vem aparecendo onde não deveria com uma frequência que me faz franzir a testa.Hoje de manhã, saí mais cedo do quarto, deixando Lara ainda adormecida. Ela parecia exausta da noite anterior — e de tudo que tem enfrentado desde que chegou à minha vida. Queria que ela descansasse, então me vesti em silêncio e desci para a biblioteca.Foi lá que vi Ranya.Parada diante de uma estante que já fora limpa no dia anterior. Estava com o pano na mão, mas os olhos fixos na porta entreaberta que dava acesso ao meu escritório. Onde, por acas
Narrado por LaraOlhei meu reflexo no espelho pela terceira vez em menos de dez minutos. O vestido dourado de seda fluía pelo meu corpo como uma segunda pele. O decote era elegante, mas ainda assim ousado o suficiente para fazer minhas bochechas corarem. Meus cabelos estavam soltos, com ondas suaves caindo sobre os ombros. A maquiagem leve deixava meus olhos mais marcantes. Eu estava bonita. Muito bonita.Mas também estava nervosa.Era estranho. Eu tinha convivido com Khaled tempo suficiente para saber que ele era um homem perigoso. Mas também... um homem de camadas. E desde a noite do hospital, ele tinha sido diferente comigo. Cuidadoso. Atento. Como se estivesse tentando me proteger de tudo, até mesmo dele.Hoje, ele tinha dito que queria me levar para jantar. Nada grandioso, só nós dois. Um momento a sós. Só que desde que ouvi a conversa dele com o pai, algo vinha martelando na minha cabeça: o bendito herdeiro.Ouvi uma batida lev
Narrado por LaraO restaurante escolhido por Khaled era elegante, mas discreto. Nada daquela ostentação exagerada que eu costumava ver nas redes sociais quando pesquisava sobre Dubai. Era um lugar com luzes baixas, velas nas mesas e uma vista ampla para a marina. A música ambiente era suave, instrumental, e o som das águas batendo nos iates ao longe dava a sensação de que o tempo havia parado ali.Ele puxou minha cadeira com a gentileza que poucas vezes demonstrava em público e se sentou à minha frente, vestindo aquele terno escuro que contrastava com o brilho das velas. Por um momento, tentei imaginar como alguém tão... intenso podia parecer tão calmo naquela noite.— Você gostou daqui? — ele perguntou, enquanto servia água na minha taça.— Gostei muito. É diferente do que eu imaginava.— Eu sei. Por isso escolhi esse lugar. Você precisava respirar. Precisava sentir que, apesar de tudo, ainda pode ter paz.A comida veio ráp
LaraO silêncio entre nós era denso, mas não desconfortável. A brisa morna do deserto, as lanternas balançando levemente, o cheiro doce do chá e o som sutil do vento acariciando a areia… tudo parecia conspirar contra a minha sanidade.Khaled se aproximou devagar. As mãos dele tocaram meu rosto com delicadeza, como se ele estivesse com medo de me quebrar.— Posso? — ele sussurrou, a voz rouca, controlada.Assenti. E foi o suficiente.O beijo veio calmo no começo. Terno. Mas com ele... nada ficava calmo por muito tempo.Ele deslizou a mão pela minha nuca, intensificando o beijo até me deitar entre as almofadas. O vestido subiu um pouco com o movimento. A respiração dele já quente contra minha pele.Khaled: Eu sonhei com você assim. Nesse deserto. Debaixo de mim.Minha pele queimava, mas não era por causa do calor do deserto.Ele levantou meu vestido até a cintura e tirou minha calcinha com lentidão.
Lara O cheiro de incenso suave ainda pairava no ar quando abri os olhos. A luz do sol invadia a tenda, filtrada pelos tecidos brancos que balançavam levemente com a brisa. Estava nua sob as almofadas, coberta apenas por um lençol leve e pelas marcas da noite anterior. Minha pele ainda ardia nos pontos em que ele me mordeu. Entre as coxas, a memória do corpo dele em mim ainda latejava. Khaled dormia com um dos braços jogado sobre a minha cintura, o peito nu subindo e descendo devagar. Mas era só aparência. Eu sabia que ele estava acordado — seu toque firme demais pra alguém adormecido. Passei a mão com delicadeza por seu peito, desenhando os contornos dos músculos, as linhas do abdômen. Ele continuava quieto. Mas a respiração dele mudou. A pele arrepiou. E a coisa toda entre nós começou de novo. Khaled (voz rouca): Acha que pode me acordar assim e sair impune? Lara: Eu só estava te ad
Narrado por Lara O caminho de volta foi silencioso, mas não desconfortável. Eu estava recostada no banco do carro, sentindo ainda o perfume das dunas no meu cabelo, a memória das estrelas gravada na pele. Olhava de canto para Khaled enquanto ele dirigia. Ele parecia relaxado, com uma mão no volante e a outra entrelaçada à minha, como se não fosse permitir que o mundo nos separasse nem por um segundo. Chegamos na mansão e tudo parecia calmo demais. A entrada estava iluminada suavemente, os empregados já recolhidos, as janelas fechadas como se o mundo inteiro tivesse parado para nos esperar. Subimos sem pressa, lado a lado. Quando ele abriu a porta do nosso quarto, a primeira coisa que fez foi caminhar até o banheiro. Ouvi o som do chuveiro sendo ligado, o barulho da água batendo forte no piso de mármore. Me virei devagar, encarando minha imagem no espelho. Ainda estava com o vestido dourado que usara no jantar. Os cabelos soltos, a maquiagem intacta. Mas meus olhos... meus olhos e
Alberto VasconcellosA ruína não chega de uma vez. Ela se insinua aos poucos, como uma praga silenciosa, destruindo tudo o que construí ao longo dos anos. Eu a vi se aproximar, tentei resistir, mas era como segurar areia entre os dedos. A Vasconcellos Import & Export, a empresa que levei uma vida inteira para erguer, estava falida.Foram anos de glória. Eu dominava o mercado de commodities, transportando produtos valiosos pelo mundo inteiro. Meu nome era respeitado, meus contratos eram disputados e meu império parecia inabalável. Mas o mundo dos negócios é cruel. Com a ascensão de novas potências econômicas, a concorrência ficou impossível. Empresas chinesas e árabes começaram a dominar o setor, oferecendo preços com os quais eu simplesmente não podia competir.Os contratos começaram a cair. Clientes antigos romperam acordos que existiam há anos. Investidores se afastaram. Fiz de tudo para segurar minha posição: peguei empréstimos, cortei custos, apostei em novas estratégias. Mas foi