Sinto-me derretendo, como a neve no início da primavera. É como se meu corpo estivesse sendo aquecido por um sol latente e a chuva estivesse lavando o que restou e empurrando tudo para um rio sobressalente.
Sinto os olhos em minha pele liquefeita, minhas veias a mostra, minhas patas tentam fixar-se em qualquer coisa. O derretimento também as atingiu, elas só não conseguem lidar com esse fato.
Mãos afagam meu pelo, testam meu peso, me carregam de lá para cá em baldes pequenos e me remodelam em outro molde.
Então, sou estável outra vez, mas já não sou o mesmo de antes.
Tenho dedos e unhas, cabelos e pantorrilhas, joelhos, nariz e lábios. Sou comprido e visto roupas, uso perfumes e shampoo.
Corro sobre duas pernas, mal ouço o vento ao meu redor, luzes não são sinais de perigo, vozes, também não.
Eu falo, eu canto, eu danço e não sou capaz de rasgar a pelagem de um cervo com os de