Capítulo 3

William dormia tranquilamente ao meu lado enquanto eu acariciava seu cabelo, reparando pela primeira vez no quanto suas orelhas eram grandes e pontudas.

Admirei o seu corpo, vendo como sua barriga subia e descia suavemente enquanto ele respirava. Pousei minha mão em seu peito e senti seu coração bater num ritmo constante, fazendo minha boca salivar mais uma vez.

Ele não era exatamente bonito, sua beleza era selvagem, máscula e pouco comum, mas seu sangue era realmente bom e despertava minha fome ainda mais.

William abriu os olhos lentamente e franziu o cenho quando me viu. Ele se sentou na cama e levou a mão ao pescoço, onde eu o havia mordido na noite anterior.

- O que foi? - perguntei preocupada.

William me olhou confuso por um tempo antes de me responder.

- Por um momento pensei que havia sido um sonho... - ele falou em voz baixa - É melhor eu ir embora.

- Agora? Por quê? - eu quis saber.

William me encarou e eu pude ver certo medo em seu olhar, e também arrependimento.

- Eu não deveria... Nós não deveríamos...

Ergui as sobrancelhas, aguardando sua explicação.

- Eu preciso ir embora. - ele disse convicto, se levantando para pegar suas roupas do chão.

O dia já havia amanhecido e nós estávamos na minha casa.

Me sentei na cama e observei enquanto ele se vestia rapidamente, evitando olhar para mim.

Eu não estava entendendo qual era o problema dele. Depois de tudo o que havíamos feito, no riacho e na minha cama, ele agora agia como se eu o tivesse obrigado, ou algo parecido.

Mas se era isso o que ele queria, por mim não fazia diferença. Seria até melhor se ele me deixasse em paz.

...

Mais tarde eu fui até o quintal para ver o jardim.

Eu gostava de ver as flores e de cuidar delas, achava-as magnificas, assim como tudo naquele mundo enorme que eu antes desconhecia. Era muito interessante ver a forma como a natureza agia e reagia a certas coisas, isso me deixava curiosa e ao mesmo tempo admirada.

De repente eu ouvi o som de passos atrás de mim, mas não precisei me virar para saber quem era, pois reconheceria o cheiro dele em qualquer lugar.

William se aproximou devagar e parou a poucos passos de mim.

- Oi. - ele disse em voz baixa.

- O que você quer? - perguntei, ainda de costas.

- Nada. Eu só queria me desculpar por ter ido embora daquele jeito.

- Se desculpar? - perguntei confusa, ao me virar.

- É... Bom, eu tenho a impressão de que te deixei chateada.

- Ah, você tem? - debochei - Não se preocupe comigo, eu vou sobreviver.

William revirou os olhos e sorriu.

Ele parecia estranho, estava um pouco pálido, e havia alguma coisa errada, mas eu não sabia dizer o que era.

- Já que é assim... - ele disse - Eu posso te fazer um pedido?

- Depende... - respondi desconfiada - O que você quer?

- Quero que me morda de novo. - respondeu sério.

Me afastei, totalmente surpresa com o pedido dele.

- Isso pode ser perigoso. Eu posso matar você, sabia?

- Está preocupada comigo? - zombou ele com um meio sorriso.

Revirei os olhos mais uma vez.

Realmente não devia fazer diferença para mim se ele morreria ou não, mas por algum motivo eu o queria vivo, ao menos por um tempo.

William inclinou a cabeça, deixando o pescoço à mostra, e eu engoli em seco, me lembrando da fome que eu ainda sentia.

Me afastei um pouco e segurei sua mão, levando-a em direção à boca. Se eu ia fazer isso, então preferia fazer de maneira que não o machucasse tanto, mesmo sabendo que as feridas iriam se cicatrizar logo depois da mordida - o que sempre acontecia, e eu não sabia o porquê.

Encostei minha boca em seu pulso e percebi que ele ficou tenso. Engoli em seco mais uma vez e o mordi.

Percebi que daquela vez foi mais fácil, como se meus dentes estivessem mais afiados, e eu não precisei fazer muita força para perfurar a pele dele.

William soltou um gemido alto e apertou meu braço com sua mão livre, fechando seus olhos e inclinando a cabeça para trás, totalmente entregue a um prazer que por algum motivo eu o fazia sentir - fazia todos sentirem.

Eu não havia reparado muito na primeira vez que o mordi, mas havia algo de diferente no sangue dele, talvez por ele ser uma mutação.

Precisei reunir toda a minha força de vontade para me afastar antes de fazê-lo desmaiar.

Senti algo estranho acontecendo com o meu corpo, e me surpreendi ao olhar para minha mão e perceber que minhas unhas estavam mais encurvadas e com a língua senti que meus dentes estavam realmente mais afiados.

William olhou para mim com as sobrancelhas erguidas.

- O que aconteceu com a minha mão? - perguntei assustada.

- Acho que o meu DNA se misturou com o seu.

Não entendi nada.

- Isso é permanente?

- Acho que não.

Respirei fundo tentando pensar.

Talvez fosse apenas como quando eu mordia pessoas bêbadas e sentia tontura. Se fosse só por causa do sangue então se eu me alimentasse de outra pessoa minhas mãos voltariam ao normal, em teoria.

Olhei para William e percebi que, de certa forma, ele também estava diferente, mais vívido, apesar de ainda pálido.

Me perguntei quais seriam os efeitos da minha mordida nele, já que ele era o primeiro que eu havia deixado vivo.

William se aproximou mais e me puxou pela cintura.

- Acho que seria ótimo repetir a dose de ontem à noite, não acha?

Sorri de volta para ele e mordi o lábio em expectativa.

Eu tinha muitas perguntas em minha cabeça e muitas dúvidas sobre ele e o sobre eu mesma também, mas naquele momento eu me deixei levar pelos instintos, como fazia quase sempre, e guardei as perguntas para outro momento.

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