Mundo de ficçãoIniciar sessãoO mundo perdeu o som no instante em que ouvi o nome dele. Igor Salazar. Morto. As palavras caíram sobre mim como estilhaços de vidro. O ar fugiu dos meus pulmões, e por um segundo achei que o próprio chão tinha desaparecido.
Vi o rosto dele na minha mente, aquele meio sorriso presunçoso, o jeito como ele ajeitava a camisa antes de enfrentar o mundo como se fosse dono de cada pedaço dele. O homem que carregava meio país no bolso… e que, por algum motivo que ninguém nunca entenderia, me escolheu. A mim. A simples assistente que ousou amar o que não devia.
Meus joelhos cederam. Não por drama, mas porque meu corpo simplesmente não sabia como existir num mundo onde Igor não respirava. O grito não saiu; ficou preso, queimando na garganta, enquanto meus dedos procuravam algo, qualquer coisa,para segurar. Não encontraram nada.
“Era pra ser eu.” A frase ressoou dentro de mim, pesada, inevitável. Ele sempre se jogava na frente, sempre fazia o impossível por mim. E agora… agora só tinha silêncio.
A dor não chegou como um golpe, veio como uma enchente. Um frio subindo do chão, se espalhando pelo peito, esmagando cada batida do meu coração. Tudo o que eu fiz, cada batalha que enfrentei contra a família dele, contra o mundo inteiro, virou pó num piscar de olhos.
E ali, tremendo, sem ar, eu só conseguia pensar nele atravessando a rua, no último segundo… e no porquê.
O mundo continuava girando, indiferente. Mas eu, naquele momento, desmoronei.
— Chega desse teatro! Suma daqui agora! — a voz cortou o ar como uma lâmina, antes mesmo que eu entendesse de onde vinha.
Um puxão violento arrancou meu corpo do chão. A mão dele se fechando no meu braço parecia ferro quente, arrastando-me para cima como se eu fosse um pedaço descartável de nada. Pisquei, meus cílios pesados ainda molhados pela dor, tentando focar o rosto à minha frente.
— O que pensa que está fazendo? — Minha voz saiu fraca, quebrada, mas cheia de incredulidade.
Christopher me encarou de cima, o sorriso torto e gelado estampado como uma ameaça.
— O que acha? — cuspiu. — Tirando você dessa família. Agora que meu irmão está morto, não existe motivo algum para continuar aqui.
O mundo ao redor parecia girar mais rápido do que eu conseguia acompanhar. O aperto no meu braço se tornou uma pulsação ardente, mas eu me firmei.
— Você não pode fazer isso! — minha voz ganhou força na dor. — Não pode me arrancar daqui sem que eu me despeça dele. Eu tenho esse direito.
A tensão no ar se partiu quando Daniel se aproximou, o olhar inquieto percorrendo a cena.
— Irmão, ela tem razão. Deixe-a se despedir. — A voz dele era baixa, mas firme o suficiente para penetrar o gelo que Christopher carregava.
Mas Christopher riu — um som curto, amargo, cruel.
— Não! — rosnou. — Por culpa dela ele está morto. Você ainda não entendeu a porra da situação?
As palavras dele me atingiram como um soco. O chão pareceu recuar um pouco mais, e o ar ficou ainda mais pesado. O ódio nos olhos de Christopher queimava, e naquele instante eu percebi: ele não queria justiça. Ele queria alguém para sangrar pela dor que não sabia como carregar.
E esse alguém… era eu.
— Anda, filho. Acabe logo com isso. Expulse essa interesseira daqui.
Me endireitei, arrancando meu braço da mão de Christopher com um movimento seco.
— Não precisam me retirar. — Minha voz saiu firme, surpreendentemente firme. — Eu mesma vou sair. Me solte.
Christopher abriu a mão devagar, mas não recuou. O olhar dele ainda queimava na minha pele.
Respirei fundo, sentindo o peito tremer, e encarei um por um naquela sala sufocante.
— Mas antes… uma coisa eu preciso deixar clara. — Minha voz oscilou, mas não quebrou. — Vocês todos — exceto poucos aqui que ainda parecem ter um coração — estão sendo injustos comigo. E eu DUVIDO muito que o Igor, vivo, aprovaria essa cena ridícula.
Vi o maxilar de Christopher travar. E foi exatamente nele que eu mirei.
— E quanto a você, Christopher… — dei um passo à frente, aproximando meu rosto do dele, sentindo o ar dele se chocar com o meu. — sempre me perguntei por que você me odiava tanto sem ao menos tentar me conhecer. Sem tentar ver como eu amava seu irmão. Sem perceber que eu nunca quis o dinheiro de vocês. Nunca precisei. Nunca pedi.**
Os olhos dele escureceram, mas ele não respondeu. Apenas esperou, tenso.
— Sabe o que eu finalmente entendi?
Ele ergueu o queixo, debochado.
— O quê?
Aproximei mais, até que a respiração dele tocasse minha pele.
— Que você não acredita que eu amava o seu irmão… porque você nunca foi amado de verdade.
O brilho nos olhos dele vacilou — por um instante mínimo, mas real.
— Você é respeitado. Temido. Obedecido. — Minha voz saiu baixa, cortante. — Mas amor? Isso você nunca conheceu. E por isso não consegue enxergar nada além desse gelo que você chama de coração.
Ele prendeu a respiração — raiva, orgulho ferido, algo mais que ele nunca admitiria.
— Talvez você nunca entenda o que eu e Igor sentimos um pelo outro. Não espero que entenda.
O nome dele saiu como uma sentença.
Ele respirou fundo, mascando as palavras antes de cuspir:
— Pois saiba que o sentimento é recíproco, Valentina. E se depender de mim, você não vai ver um centavo da herança do meu irmão.
Uma risada seca escapou de mim — amarga, desesperada, porém forte.
— E se depender de mim… você vai morrer sozinho.
O silêncio caiu pesado, sufocante — cheio de coisas que nenhum dos dois teria coragem de admitir.
Sem olhar para mais ninguém, virei as costas. Cada passo parecia rasgar meu peito aberto. Levei a mão ao coração, segurando o choro que ameaçava me derrubar, mas continuei.
Atrás de mim, senti o olhar de Christopher queimando minhas costas — raiva, dor, culpa, tudo misturado.
E eu saí dali sabendo apenas uma verdade incontestável:
— Eu sei. E acreditamos em você. — Ela segurou minhas mãos com firmeza, transmitindo confiança. — Não importa o que aquele idiota do meu irmão disse, você tem direito à parte do Igor. Daniel e eu faremos de tudo para garantir isso.
Um aperto estranho me subiu ao peito. Gratidão e uma pontada de tristeza se misturavam.
— Muito obrigada… de verdade. Mas o dinheiro realmente não me importa. — Meu olhar caiu no chão. — Tudo que eu queria, eu perdi.
Ela sorriu suavemente, como se entendesse cada palavra não dita.
— Tudo bem. Não vamos discutir isso agora. — Ela me passou um cartão com calma. — Fique com nosso número, continue trabalhando no mesmo lugar. Ninguém vai te tirar de lá. O resto… resolvemos depois. Só fique bem.
Ela me abraçou carinhosamente, e eu cedi, deixando escapar o choro contido. Pela primeira vez em dias, senti que alguém realmente se importava comigo.
Mas, do outro lado da rua, meus olhos não conseguiram evitar. Lá estava ele: Christopher, encostado na porta, braços cruzados, observando tudo. Um fantasma silencioso que parecia absorver cada detalhe da cena. E naquele instante, senti que a batalha entre nós ainda estava longe de terminar.
E AI GOSTARAM? Eu voltei gente e acreditem vem muitas faisca por ai rsrs







