Sarah 

Encaro através da janela do ônibus aquela chuvinha fina cair levemente contra o chão e assim como a chuva, sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto e em minha mente, tudo que aconteceu na noite passada ainda está presente.

No meu corpo há sinais visíveis de tudo que passei e na minha mente, ainda me sinto como se estivesse vivenciando tudo aquilo de novo, e de novo, e de novo.

Depois de me agredir como um animal, o Mateus saiu novamente e sumiu... Naquele meio tempo uma vizinha que me escutou gritar veio ao meu socorro ao ver que ele já não estava mais ali, ao ver o meu estado e em como a Maitê estava assustada, ela decidiu nos ajudar e me ajudou a juntar todas as nossas coisas, me deu uma carona até a rodoviária mais próxima e me comprou uma passagem de ônibus... A dona Maria foi um verdadeiro anjo em minha vida e eu nunca vou me esquecer de como ela ajudou a mim e a minha filha, nunca.

Quando o traste Mateus chegar em casa, ele já não me encontrará mais lá e se Deus quiser, ele nunca mais me verá na vida.

Agora eu o dia já clareou completamente, já estando quase chegando em São Paulo e eu peço a Deus que me guie nessa nova fase e que ele cuide de mim e da minha filha... Como Ele sempre cuidou.

- Já chegamos, mãe?- Pude escutar a voz da minha filha chamando por mim e ao olhar em sua direção, vi que ela também encarava com afinco toda a paisagem.

Sorri ao ouvir sua voz, a abracei bem forte e a encarei com esperança no olhar.

- Ainda não, mas já já vamos chegar... A sua tia vai esperar por nós lá na rodoviária.- Contei a ele.

Os meus pais moram no interior de Minas, em um pequeno vilarejo bem próximo da cidade de Diamantina e a última coisa que eu quero é dar trabalho a eles e os preocupar, por isso decidi vir passar um tempo com a minha irmã aqui em São Paulo até a minha vida tomar um rumo e tudo e se acertar... Ela ficou muito feliz quando contei a ele que viria e saber que minha filha e eu seremos bem recebidas já enche o meu coração de alegria.

- A gente vai ficar na casa da tia Beca?- Ela me questionou com um sorriso alegre no rosto.

- Sim! Ela já deve estar esperando por nós.- Contei a ela.

Eu nunca tive coragem de contar a ninguém sobre tudo que sofri nas mãos do Mateus, mas tive que abrir um pouco da história para minha irmã quando pedir para ela me abrigar em sua casa e eu me sinto envergonhada em pensar que ela sabe de tudo que eu passei... Em toda a humilhação que sofri, mas sei que ela não vai julgar, porque ela sempre foi a minha melhor amiga em todos os momentos e sei que isso nunca irá mudar.

- Olha! Nós chegamos!- Anunciei enquanto olhava maravilhada para aquela cidade enorme.

Maitê pulou do meu colo ao me ouvir falar e imediatamente se animou com a ideia de ver a tia que ela já não via há muito tempo... O Mateus nunca gostou da minha família e ele me proibia de ter contato com os meus pais, minha irmã e não me deixava ter amigos, então eu estava literalmente sozinha no mundo e ele era a única companhia adulta que eu tinha.

- MANA! QUE BOM TE VER!- Pude ouvir o grito de felicidade da Rebeca assim que coloquei o pé para fora do ônibus e ela rapidamente correu em nossa direção e nos abraçou.

Quando eu senti o seu abraço, eu soube imediatamente que não estava sozinha e que ela estava alí por mim, pra mim e aquilo trouxe uma leveza e paz para o meu coração.

- Olha como a biscoitinha está grande,  linda e esperta! Da até vontade de morder... A titia pode te morder?!- Rebeca brincou com Maitê que caiu na gargalhada.

Como é bom ver a minha filha bem, feliz e despreocupada... Como é bom respirar sem medo do que está por vir, como é bom.

- Como vocês passaram de viagem? Correu tudo bem? Vocês estão com fome?- Ela desandou a perguntar enquanto pegava a Maitê de mim e me ajudava com as malas.

- Foi tudo bem, graças a Deus... Nós estamos cansadas da viagem, mas aliviadas de estamos aqui.- A respondi.

Rebeca pegou a minha mão ao me ouvir falar, apertou-a e me enganou com um sorriso grande e encorajador em seu rosto.

- Agora está tudo bem, mana! Vocês ficarão comigo e de agora em diante é vida nova... Tudo novo.- Ela disse com aquele sorriso em seu rosto e aquilo me fez sorrir também.