***Narradora***
No dia seguinte Tereza pega a pequena Sofia e as duas descem indo direto para a cozinha onde a jovem é repreendida pela cozinheira, pois como Alexandre ainda estava tomando o café iria se incomodar com o barulho da filha.
— Ah, para com isso, Josefa, vou deixar a menina trancada no quarto, porque ele não gosta de barulho de criança, eu heim.
— Só estou falando porque ele vai reclamar.
— Deixa reclamar, não estou nem aí, cara mal-educado, acredita que me chamou de ladra ontem a noite?
— Nossa, mas por quê?
— Porque estava pegando algo para comer a noite.
— Liga não, ele é assim mesmo.
E como era de se esperar, Sofia começa a falar alto, ainda mais com as canções de Tereza para convencê-la de comer, então logo Alexandre chama Josefa que vai até lá.
— Posso saber que barulho é esse aí? Estou tentando tomar meu café em paz.
— É a Sofia cantando senhor, Tereza esta dando o café da manhã para ela.
— Manda aquela babá vir aqui.
Josefa de cabeça baixa caminha de volta para a cozinha, pouco tempo depois Eugênia aparece toda sorridente por ouvir a neta cantando e sorrindo, mas ao se sentar na mesa percebe que o filho não estava muito satisfeito.
***Narrado por Tereza***
E não foi que o homem se irritou mesmo em ouvir a filha cantando? Josefa entra na cozinha se tremendo toda dizendo que o patrão tinha me chamado.
— Por quê?
— Eu disse que ele iria se irritar.
— Mas é um babaca mesmo, cuida de Sofia, por favor eu já volto.
Caminhei até a sala de jantar e logo que entrei ele estava sentado com aquela cara fechada dele, dona Eugênia acabado de descer, pois ainda servia seu chá.
— Me chamou senhor?
— Leva a Sofia para o quarto, ou para com essa cantoria, estou tentando tomar um café, mas com esse barulho não dá.
— Alexandre...
— Me desculpa dona Eugênia, eu respondo pode deixar, olha senhor, Sofia é uma criança, deveria ter se preocupado com isso quando sua esposa engravidou, crianças fazem barulho, se não quer ouvir sugiro que o senhor vá para o quarto, com licença. E me desculpe novamente dona Eugênia.
Eu sei, foi muito arriscado da minha parte, eu poderia perder meu emprego, mas fala sério irritado porque a menina estava feliz? Onde isso gente, eu não tive meu pai e aquilo me irritou de verdade, voltei para a cozinha, me sentei e continuei de onde estava inclusive com a cantoria.
***Narrado por Eugênia***
Quando Tereza respondeu para Alexandre quase engasguei segurando o riso, ele ficou tão vermelho de raiva que quase pude ver fumaça sair por seus ouvidos rsrsrs, em seguida ele deu um murro na mesa derrubando a louça, ia se levantar, mas o impedi.
— Senta Alexandre, a moça está certa, minha neta não será mais trancada no quarto por sua causa, está incomodado, pega seu café e vá.
— Eu sou o dono dessa casa, sabia?
— Eu também.
Mas não iria continuar a discutir com ele, apenas peguei minha xícara e fui para a cozinha, me sentei com Tereza e Sofia, que estavam combinando de ir ao quintal, achei aquilo maravilhoso, pois Sofia quase não ia brincar no playground e os brinquedos ainda pareciam novos.
***Narrado por Alexandre***
Não acreditei que aquela mulher teve coragem de me responder daquela forma? Claro, não deixaria isso passar despercebido, tomei meu café e fui para o escritório e pedi a Josefa que pedisse que a babá fosse até lá.
— Tereza, certo?
— Sim, senhor.
— Sabia que posso te demitir por falar comigo daquela forma?
— Sabia que posso denunciar o senhor por não tratar bem sua filha? Não faço por que dona Eugênia não merece.
— Você é muito atrevida, sabia?
— E o senhor um péssimo pai.
— Já chega, está demitida.
— Então, desculpe te informar, mas, eu não trabalho para o senhor, quem me contratou foi sua mãe, então peça a ela que me demita, agora me dê licença, pois tenho uma linda menininha me esperando.
— Moça volta aqui eu não terminei.
A atrevida saiu e nem se importou com o fato de eu ser o dono da casa, mas acredito que devido aos gritos minha mãe resolveu interferir, eu ainda estava na porta quando a vejo se aproximar do escritório, então entra e se senta na poltrona a minha frente.
— Excelente contratação viu dona Eugênia, essa babá não me respeita.
— Que aconteceu dessa vez?
— Eu a demiti e ela disse que não trabalha para mim.
— Que maravilha, essa moça merece um aumento só por isso, amei.
Depois daquilo o melhor a fazer era ir trabalhar, peguei meu paletó e avisei que não teria hora para voltar, mas minha mãe nem deu importância, aquela foi a primeira vez que alguém se atreveu a me desafiar daquela forma.
— Pelo jeito agora minha mãe está feliz, eu mereço viu.
***Narradora***
— Sabe Josefa, eu gostei dessa moça, sabia? É a primeira que temos nessa casa que não se curva para Alexandre.
— Sim, mas não acha que por esse motivo teremos muitas brigas também?
— Quem sabe ela não consiga fazer ele mudar o comportamento e prestar atenção a filha. Enquanto não ultrapassarem os limites, não vou intervir.
Tereza leva Sofia para brincar no quintal, pois no final do dia teriam que sair para comprar material escolar e fazer a matrícula de sua faculdade, com certeza não seria fácil, já que Tereza não falava o espanhol, mas estava decidida a seguir em frente.
— Tereza, preparada para voltar a estudar?
— Muito ansiosa, só espero conseguir entender o que falam rsrsrs, mas não vou desistir senhora, sou grata por tudo que tem feito.
Após o almoço elas vão para a cozinha onde Tereza pergunta se Sofia já havia comido brigadeiro e a menina diz que nunca, inclusive Josefa pergunta o que era.
— Sério, que nunca comeram brigadeiro?
— Aqui a gente só cozinha o básico querida.
— O que é brigadeiro?
— Você pode me ajudar se quiser, mas é um doce muito gostoso de chocolate.
Sobe os olhos de Josefa elas fazem o doce, em seguida Tereza coloca um banco para que Sofia pudesse ajudar a lavar a louça, a pequena estava tão feliz como se já conhecessem, era uma ligação muito forte em tão pouco tempo.
Tereza tinha muita paciência com a pequena como Eugênia nunca imaginou, ficou na porta vendo enquanto liam histórias para dormir após o jantar, Sofia ria por Tereza às vezes não entender o espanhol e ajudava a babá com as palavras.
— Agora melhor dormir, mocinha, amanhã tem aula.
— Promete que não vai embora?
— Eu mal cheguei rsrsrs
— Promete.
— Eu prometo, princesa.
Ao sair Tereza encontra com Eugênia na porta que estava comovida com o que escutou, as duas descem para tomar um chá antes de irem dormir e entrega para Tereza cadernos que comprou para começar sua nova rotina.
— Eu nunca vi Sofia tão feliz assim, acho que é a primeira vez que ela se dá tão bem com uma babá, só não deixa que Alexandre te humilhe, qualquer coisa quero que venha falar comigo ouviu?
— Senhora, me perdoe se fui mal-educada, mas não vou permitir que ninguém destrate uma criança, sei o que é crescer sem um pai e uma mãe, apesar de minha avó ter feito o máximo que pode.
— Percebi isso e te agradeço.