KIERAN:
Eu olhava para Claris sentada ao meu lado no assento do passageiro. Desde a noite anterior, decidi que conduziria eu mesmo; era uma necessidade primitiva de controle. Não podia confiar essa tarefa a mais ninguém. Dirigi em silêncio pela estrada que serpenteava em direção à reserva dentro da cidade. Era o meu território, uma extensa área de floresta virgem que adquiri muito antes de a cidade se expandir tanto.
O complexo consistia em várias casas estrategicamente distribuídas, com a minha residência principal dominando o centro. Sabia que não era a melhor decisão instalar as três irmãs dentro do meu território, mas consegui estabelecer uma zona neutra onde os humanos poderiam habitar sem perturbar a matilha.Ao parar o carro, Claris acordou, piscando os olhos com confusão enquanto observava o ambiente desconhecido. — Onde estamSARAH:Não sabia o que se passava nos últimos tempos com o alfa Kieran; ele tinha me afastado de sua vida pouco a pouco, sem que eu soubesse o motivo. Gael garante que ele não disse que somos pares destinados. Então, não entendo o que está acontecendo. O beta Fenris afirma que não sabe de nada, apenas que o alfa lhe proibiu de ajudá-lo nos assuntos da matilha. Aconteceu algo que preciso descobrir. Trabalhei demais para me tornar sua Lua e, agora, quando achava que quase havia conseguido, ele me tirou de sua vida.—Você descobriu algo? Viu com quem ele saiu hoje? —perguntei a um dos espiões que havia colocado para seguir Kieran.—Sim, o alfa saiu com uma advogada, estava sozinho. Fenris e Rafe também saíram por sua conta com outras —disse em um sussurro—. Eles voltaram com suas companheiras e as colocaram nas residências onde mantêm os humanos;
CLARIS:Ria nos braços de Kieran, que havia se revelado uma companhia inigualável. Não restava nada dele daquele homem que entrou na sala de conferências e que parecia odiar a todos na primeira vez que o vi. Em seu lugar, estava um homem capaz de adivinhar cada um dos meus desejos mais íntimos e de me agradar. Isso me levava a querer desejá-lo cada vez mais, despertando em mim os instintos mais primitivos e fazendo-me sentir amada. Éramos dois desconhecidos que pareciam ter vivido toda uma vida conectados por algo que ia além do nosso entendimento. Através de seu olhar, eu podia ver que ele estava impressionado e que, na verdade, gostava de mim como mulher; o único detalhe que me incomodava era sua atitude possessiva. O tempo passou como um suspiro enquanto nos perdíamos em nossa bolha, afastados das preocupações do mundo exterior. Kieran, com seu olhar intenso e cativante, parecia entender cada um dos meus pensamentos, mesmo antes que eu pudesse articulá-los. Sua
KIERAN: Eu conseguia ouvir o coração de Claris batendo forte, imitando o tamborilar de um presságio que ainda não conseguia decifrar. Explorava com o olhar cada sombra que a luz da lua projetava sobre o chão. Meus movimentos, calculados, mantinham a graça sobrenatural do meu lobo, Kian, que vasculhava com seus olhos a natureza ao nosso redor. De repente, a avistamos: era Sarah, escondida entre os lírios do lado de fora da janela, e eu rosnei de forma ameaçadora. Sentimos Claris saltar assustada ao ouvir o alvoroço da loba ao escapar, ao ser descoberta por mim. Ela havia se aproximado e visto como a sombra de um lobo se perdia entre os lírios do jardim. —O que foi isso? —perguntou, abraçando-me com força—. Os lobos que você mencionou chegam até aqui? —Não há com o que se preocupar, Claris. Às ve
O BETA: O barulho na trilha fez com que eu levantasse a cabeça; meu lobo, Magnus, me avisou imediatamente sobre a intrusa. Deixei que ele assumisse o controle e corremos pela vegetação, apenas para nos depararmos com Roan, o lobo de Rafe. — Você conseguiu ver quem era? — perguntei assim que o vi. — Era Sarah. Ela estava vigiando a casa do alfa — respondeu, transformando-se em humano sem tirar os olhos da casa dos lírios —. Não sei por que Kieran começou a desconfiar dela, mas acho que também devemos desconfiar. Não é a primeira vez que a encontro espionando e observando todos. Fiquei em silêncio e recuperei minha forma humana. Sarah não era uma desconhecida; ela tinha crescido conosco e praticamente era uma filha adotiva dos alfas, os pais de Kieran. No entanto, desde que o alfa começou a dizer que estávamos r
CLARIS:Olhei para Kieran com alegria ao ouvir que minhas irmãs vinham, levantando-me de um salto. Estávamos deitados no tapete diante da lareira, algo que eu havia notado que ele gostava muito. Ele preferia o chão à cama macia ou aos sofás amplos. Para ser honesta, eu também gostava que ele não se comportasse como o perfeito cavalheiro que oculta seus hábitos para me agradar. Pelo contrário; ele me mostrava e deixava que eu decidisse se gostava ou não.Corri até a janela para ver se já estavam vindo, mas encontrei apenas a noite se estendendo como um véu de mistério. A luz da lua envolvia tudo e projetava sombras alongadas que me confundiam.— Estão muito longe suas casas? — perguntei, olhando para Kieran, que me observava com curiosidade.— Não, eu te mostrei ontem. Vamos dar um banho rápido enquanto eles chegam pela trilha
KIERAN:Não poderia ser uma coincidência; no meu mundo sobrenatural, isso não existia. Olhei para Fenris e Rafe, que pensavam o mesmo que eu. Continuei prestando atenção ao que diziam. A forma como falavam da mãe delas beirava o sobrenatural e me fazia sentir que nossas histórias se entrelaçavam irremediavelmente.— Talvez esta noite pudéssemos ouvir uma história —propus, esboçando um sorriso que mal disfarçava minha curiosidade em saber mais sobre o mundo delas—. Talvez alguma história que ela contasse e que vocês lembrassem.— Eu preferiria conhecer as histórias deste lugar —respondeu Claris de imediato—. Com certeza existem lendas fascinantes.— Vamos, meninas, com certeza existe alguma que vocês lembrem com carinho porque sua mãe a repetia —interveio Fenris, interessado como eu—. Clara, con
KIERAN:Aquela proposta acendeu uma chama em nossos corações, algo mais profundo do que o simples desejo de ajudar. O orphanato guardava tantos segredos, tantas crianças perdidas e anseios enterrados sob o denso folhear da selva, que parecia murmurá-las suas próprias histórias de união e reencontro. — Vocês realmente têm programas para ajudar crianças órfãs? — perguntou Clara, seu semblante iluminado nos fez lembrar por um instante da própria Lua. Então ela se virou para Fenris e segurou suas mãos —. Fenris, eu sei que só temos dois dias, mas eu ficaria eternamente agradecida se você me ajudasse a adotar uma criança que eu adoro. Sempre que eu ia àquele lugar, ele se agarrava a mim e pedia para eu não deixá-lo lá. — Clara! Como você pode pedir isso a um homem que acabou de conhecer? — a repreendeu Elena, olhando depois para Claris, que se abraçava e tinha os olhos cheios de lágrimas. — O que você tem, minha Lua? — corri até o lado dela e a abracei sem necessidade de resposta. Ela ti
KIERAN:Era verdade, viajamos para o ano em que a Loba Guardiã chegava à terra com a Empática e a Mística em seu ventre, mas isso não havia acontecido, ou pelo menos eu não as havia encontrado. Em seu lugar, apareceram essas três mulheres adultas que se pareciam com elas, mas sem lobos. Elas tinham histórias que coincidiam com meus desejos e minha saudade de recuperar o que havia sido perdido. —Você tem razão, Atka, mas não acha que é melhor irmos nos convencer? —perguntei, sabendo que ele compartilhava a mesma agonia que eu; éramos um. —Além disso, não nos custa nada ajudar aquelas crianças. —De acordo —aceitou, embora acrescentasse—. Mas estou achando muitas coincidências; acho que devemos pensar com frieza, Kieran. E se alguém estiver brincando com nossas emoções e desejos? Pode ser que, além de nós, exista outro ser sobrenatural que saiba o que nos aconteceu e que tenha feito tudo isso para que caiamos em uma armadilha. A ideia de uma armadilha me fez parar por um momento. Respi