CAPÍTULO 5
— Nada demais. É que eu acabei de ouvir uma fofoca. Um cara se casou com a melhor amiga da namorada... sem que a namorada soubesse.

— Minha amiga disse agora há pouco, esse cara é um canalha. Coitada da namorada, enganada desse jeito...

Felipe, do nada, explodiu:

— Vocês não acham esse tipo de conversa muito idiota?

— E se esse cara tivesse os motivos dele? E se aquele casamento fosse falso, só pra realizar o último desejo de uma pessoa doente?

Vê-lo falar com tanta convicção me pareceu ridículo.

Tantos anos de relacionamento... e eu ainda não enxergo quem ele realmente é?

E aí, ele resolveu usar o truque que sempre funcionou.

Me abraçou.

Beijou minha testa.

— Silvia, o que tá acontecendo com você ultimamente? Tá sempre calada comigo...

— Não fica desconfiando por qualquer besteira. A gente passou tantos anos juntos. Você ainda não sabe o quanto eu te amo?

— Assim que eu resolver tudo com a Liliana, a gente casa, tá bom?

Enquanto falava, a mão dele deslizou por dentro da minha blusa, tentando tocar meu peito.

— Amor, faz tempo que a gente não transa...

— Desculpa. Não tô com disposição. E... hoje quero dormir sozinha.

Diante da aproximação dele, só consegui sentir nojo.

Empurrei Felipe, virei as costas e fechei a porta do quarto.

De manhã cedo, fui acordada por uma buzina aguda e insistente.

No pátio, estava estacionado o motorhome rosa, o mesmo que eu montei com as próprias mãos.

Sob o sol, a lataria brilhava como nova.

Agora... estava nas mãos de outra pessoa.

No volante, Liliana usava óculos escuros.

Sorrindo, sacudiu a chave no ar e gritou com uma voz afetada:

— Silvia! Gostou? O Felipe me deu de presente!

Olhando para ela, eu já nem entendia quem era aquela mulher diante de mim.

Liliana desceu do carro com saltos altos, caminhando até mim com o olhar cheio de orgulho.

— Sabia que o Felipe disse que eu combino mais com esse carro?

Ela passou a mão pela lataria brilhante, como se estivesse exibindo um troféu caríssimo.

Olhei para o motorhome e soltei uma risada fria.

Aquele carro foi meu projeto, minha criação.

Com ele, eu sonhei viajar o mundo.

E agora... ela quer tudo.

Foi então que Liliana, de repente, empurrou a chave na minha mão.

E gritou, caindo no chão num teatro exagerado.

Ao mesmo tempo, uma voz familiar surgiu atrás dela:

— Silvia! Por que você fez isso com ela?!
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