— Nada demais. É que eu acabei de ouvir uma fofoca. Um cara se casou com a melhor amiga da namorada... sem que a namorada soubesse.
— Minha amiga disse agora há pouco, esse cara é um canalha. Coitada da namorada, enganada desse jeito...
Felipe, do nada, explodiu:
— Vocês não acham esse tipo de conversa muito idiota?
— E se esse cara tivesse os motivos dele? E se aquele casamento fosse falso, só pra realizar o último desejo de uma pessoa doente?
Vê-lo falar com tanta convicção me pareceu ridículo.
Tantos anos de relacionamento... e eu ainda não enxergo quem ele realmente é?
E aí, ele resolveu usar o truque que sempre funcionou.
Me abraçou.
Beijou minha testa.
— Silvia, o que tá acontecendo com você ultimamente? Tá sempre calada comigo...
— Não fica desconfiando por qualquer besteira. A gente passou tantos anos juntos. Você ainda não sabe o quanto eu te amo?
— Assim que eu resolver tudo com a Liliana, a gente casa, tá bom?
Enquanto falava, a mão dele deslizou por dentro da minha blusa, tentando tocar meu peito.
— Amor, faz tempo que a gente não transa...
— Desculpa. Não tô com disposição. E... hoje quero dormir sozinha.
Diante da aproximação dele, só consegui sentir nojo.
Empurrei Felipe, virei as costas e fechei a porta do quarto.
De manhã cedo, fui acordada por uma buzina aguda e insistente.
No pátio, estava estacionado o motorhome rosa, o mesmo que eu montei com as próprias mãos.
Sob o sol, a lataria brilhava como nova.
Agora... estava nas mãos de outra pessoa.
No volante, Liliana usava óculos escuros.
Sorrindo, sacudiu a chave no ar e gritou com uma voz afetada:
— Silvia! Gostou? O Felipe me deu de presente!
Olhando para ela, eu já nem entendia quem era aquela mulher diante de mim.
Liliana desceu do carro com saltos altos, caminhando até mim com o olhar cheio de orgulho.
— Sabia que o Felipe disse que eu combino mais com esse carro?
Ela passou a mão pela lataria brilhante, como se estivesse exibindo um troféu caríssimo.
Olhei para o motorhome e soltei uma risada fria.
Aquele carro foi meu projeto, minha criação.
Com ele, eu sonhei viajar o mundo.
E agora... ela quer tudo.
Foi então que Liliana, de repente, empurrou a chave na minha mão.
E gritou, caindo no chão num teatro exagerado.
Ao mesmo tempo, uma voz familiar surgiu atrás dela:
— Silvia! Por que você fez isso com ela?!