Felipe veio até mim com passos apressados.
Seus olhos estavam cheios de raiva, como se tudo aquilo fosse culpa minha.
— Ela merece isso! Esse carro foi feito por mim... Mas agora, quem tá com ele... é ela!
Assim que terminei de falar, ele perdeu o controle.
Me deu um tapa no rosto.
O ar ficou silencioso.
O estalo ecoou, e a marca dos dedos dele ficou na minha bochecha.
Ardia como fogo.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
Levei a mão ao rosto, olhando para ele, incrédula.
Senti um nó no peito, cheio de mágoa e dor.
Com a voz trêmula, o encarei e disse:
— Felipe... você me bateu por causa dela? Esse carro foi projetado por mim! Ela fez alguma coisa por ele? Ou só porque tá doente pode sair pegando tudo que é dos outros?
O rosto de Felipe congelou, como se nunca tivesse imaginado que eu o enfrentaria assim.
— Silvia, o que aconteceu com você? Cadê aquela mulher bondosa de antes?
— Você tem tudo! Dinheiro, status, liberdade... Deixar ela realizar um pequeno sonho, custa o quê?
Enquanto falava, pegou a Liliana no colo.
O rosto dela estava pálido.
— Olha o que você fez! Ela ficou tão nervosa que a doença piorou! Ela só queria sentir, pela última vez na vida, como é realizar um sonho... E nem isso você consegue aceitar?
Senti os dedos formigarem de raiva.
Olhei nos olhos dele e soltei uma risada fria:
— Claro que não aceito!
— Felipe, você sabe quantas noites eu passei em claro para construir esse carro? Trabalhei até o amanhecer. Minhas mãos ficaram cheias de graxa. Regulei motor, chassi, tudo… Esse carro é como um filho pra mim!
— E agora, você me diz para simplesmente... dar para ela?
— Se ela quer realizar um sonho, que corra atrás! Pegar o que é dos outros não é sonho, é roubo.
Felipe me olhou, pasmo.
Parecia não reconhecer mais quem eu era.
Por fim, soltou apenas uma frase:
— Você mudou.
E foi embora, carregando Liliana nos braços.
Fiquei tão revoltada que senti uma dor aguda no peito.
O coração disparou.
Caí no chão.
Com dificuldade, gemi:
— Fe...lipe... me ajuda...
Mas ele...
Nem olhou pra trás.
Quando acordei, já estava no hospital.
Um abraço quente me envolvia.
— Silvia, vou te levar para nossa casa.
Era Henrique.
Fechei os olhos.
Pela primeira vez, deixei toda a resistência cair.
Respondi em voz baixa:
— Tá bom.
Afinal… existe um instante na vida em que toda esperança queima até virar cinzas.