– Então você morou na Itália?
Damon perguntou com interesse genuíno e eu sorri enquanto estávamos almoçando todos juntos, exceto pelo capitão que não havia dado as caras desde o último exercício. – Sim, por sete anos. Respondi dando uma garfada em minha comida e Carlo suspendeu as sobrancelhas animado com aquela informação. – Então você parla italiano! Ele disse de boca cheia e eu afirmei fazendo um gesto de "pouco" com as mãos. – Non molto. "Não muito" respondi. Vi ele parecer mais animado ainda. Era entendível, já que conhecer alguém que fala nosso idioma em um lugar como esses é uma garantia de que teria pelo menos um pouco de sua terra natal consigo. – E que outras línguas você fala, tenente? Ravi perguntou curioso e eu dei de ombros. – Podem me chamar só de Marie quando não estivermos em campo. Disse com um sorriso amigável e suspirei emendando: – E eu falo inglês, italiano e alemão. Pontuei vendo eles parecerem bem interessados. Me senti um pouco bem, como uma criança que estava se enturmando em uma nova escola. – E vocês? Qual é a posição de vocês na equipe? Me esquivei do assunto, quanto menos perguntas sobre mim melhor. – Eu sou uma humilde combatente comum. Comentei com um sorriso sabendo bem que isso era apenas uma meia verdade, mas por hora era a única coisa que eles precisavam saber. – Eu sou especialista em conflito antiterrorista, Carlo é atirador de elite e Ravi é o cara dos explosivos. Damon explicou e eu fiquei realmente surpresa ao perceber que aqueles caras, que até então eram tão inofensivos e gente boa, eram realmente matadores assim como eu. – E suponho que você não seja uma combatente comum, ou você não estaria sentada nessa mesa com a gente agora. Carlo deu um sorriso ladino ao dizer aquilo e antes que eu pudesse inventar alguma outra coisa para sair daquela conversa, Dimitri apareceu se sentando ao lado de Ravi que permaneceu imóvel como uma estátua. – Parece que o nível realmente baixou, Carlo. Estão deixando qualquer um entrar no esquadrão hoje em dia. Com tamanha arrogância que certamente não caberia em um container, aquele homem que se dizia o capitão da nossa equipe me provocou mais uma vez e eu respirei fundo. Não vale a pena, Marie. Isso é causa perdida. – Se me dão licença, preciso de um banho. Me levantei pegando minha bandeja e dando as costas para a mesa. Narradora POV Naquela mesa ficou um silêncio denso e tanto Carlo quanto Ravi se retiraram deixando os dois irmãos sozinhos e ainda em silêncio até que Damon finalmente teve a capacidade de dizer algo. – Você está pegando pesado com ela, Niko. O gêmeo de cabelos mais curtos se pronunciou e Dimitri nem mesmo se deu ao trabalho de erguer os olhos para encarar o irmão. – Ela é um fardo pra essa equipe. Mulheres não servem para isso. Ditou o capitão com a mesma raiva de sempre incutida em sua voz. Que ele vivia sempre com raiva isso era algo normal, mas Dimitri estava sendo irracionalmente rude com a recém chegada e Damon não sabia por onde começar a ajudar a pobre garota. – Isso não é verdade e você sabe disso, Niko. Damon disse quase que em um suspiro, cansado da maneira teimosa que seu irmão vivia e ele parecia piorar a cada dia que se passava. – Para de me chamar assim, eu sou seu superior. Ralhou o outro terminando de comer e Damon soltou uma risada. – Conta outra, Dimitri. Damon se levantou deixando o irmão para trás, nem mesmo ele conseguia entender como pode alguém viver daquela forma odiosa o tempo inteiro. E agora ele estava preocupado com a recém chegada que certamente estava passando por muitos conflitos em sua mente por causa daquele idiota do seu irmão. Por sua vez, Marie tentava entender o que tinha de tão errado com ela para que o capitão estivesse a tratando desse jeito. Tudo bem que ela era mulher e que ele não queria mulheres em sua equipe, mas ele não poderia pelo menos manter a política da boa vizinhança e tratar ela com o mínimo de educação? – Marie, tá tudo bem? Ravi, o único que realmente havia percebido a maneira como ela tinha ficado chateada, se aproximou dela assim que eles voltaram ao dormitório. – Tá sim, Ravi. Obrigada por se preocupar. Ela disse educada enquanto fingia mandar mensagens para alguém em seu celular apenas para que ele não fizesse mais perguntas. De fato aquilo havia atingido ela, mas ela não estava triste e nem magoada, e sim com raiva. Com uma raiva ardente e feroz, que a impulsionava a querer tirar satisfações. Mas ela não podia fazer isso, iria contra a promessa que fez ao seu pai de "se comportar" e arrumar um problema com seu capitão no primeiro dia na nova equipe não era um bom exemplo disso. Como todo o resto do dia eles haviam sido liberados por causa de uma nevasca que havia começado, ela se manteve em sua cama lendo ou fazendo qualquer coisa que tirasse sua mente dos acontecimentos recentes. Carlo e Damon estavam jogando baralho no chão do dormitório e Ravi parecia assistir algo em seu celular enquanto Dimitri se mantinha calado e escrevendo algo em algo que parecia ser um caderninho. – Vem jogar com a gente, amore mio. Carlo convidou Marie com aquele seu mesmo sorriso encantador de sempre e a Tenente olhou para eles dois no chão por cima de seu livro. – Ah, eu não sei jogar... De fato ela não sabia, nunca havia se interessado por coisas assim. – Podemos te ensinar! Damon ofereceu e isso fez com que o olhar de Dimitri pairasse sobre aquela cena. E percebendo a maneira que o capitão havia olhado para eles com desprezo, Marie fez sua decisão rapidamente. – Tudo bem então. Ela desceu de sua cama se juntando a eles e aprendendo pouco a pouco aquele jogo com os dois homens que a tratavam como uma verdadeira irmã mais nova. Marie se sentia até mesmo um pouco deslocada ao perceber que estava se divertindo mais do que o habitual e que não era para ela criar vínculos emocionais com aquela equipe, mas Carlo era engraçado demais e Damon inteligente demais e Ravi gentil demais. – Ele tá roubando! Ravi apontou para Carlo que começou a discutir e tanto Marie quanto Damon riam daquela cena, e a noite teria terminado em paz e com um clima amigável se Dimitri não tivesse se levantado e chutado o baralho de cartas para longe, fazendo as cartas se dispersarem pelo quarto. – Silêncio, já tocaram o toque de recolher! Ainda abismados com a grosseria e com a maneira com que Dimitri estava estranhamente mais rude, os homens que estavam alí nem mesmo perceberam quando Marie havia levantado e ido até o capitão com sua raiva já descontrolada. – Com licença, Capitão, mas que o senhor pensa que é para tratar seus companheiros assim, hein?! A voz dela ecoou pelo quarto.