O resto do dia passou como um borrão, entrando um cliente atrás do outro, até o horário de fechamento da cafeteria.
Quando o relógio bateu 18:00 horas cravadas a Heather quase arrancou o avental e se jogou na cadeira do salão principal, que ficava na frente do caixa.— Porra! Havia me esquecido o quanto era corrido em época de confraternização de fim de ano. — ela reclamava enquanto eu terminava de fechar o caixa. Contando nota por nota para ver se batia com o valor em sistema. Era a parte que eu menos gostava de fazer.Enquanto a respondia, senti seus olhos sob mim, me avaliando e eu daria tudo para saber o que se passava na cabeça dela. Não me imaginava me envolvendo com a Heather, por mais que as vezes batia aquela atração. Eu sabia que nosso envolvimento não daria certo, no fim ela sairia magoada e eu pediria demissão da cafeteria, pois não teria clima para continuar trabalhando no mesmo local.Ethan Carter não era homem de uma mulher só.Terminei de fechar o caixa e no caminho para a saída resolvi oferecer uma carona a ela. Sabia que a volta de Manhattan para o Brooklyn era longa, ainda mais nesse horário. Ela ponderou se aceitava ou não, dava para ver a dúvida em que ela estava só pelo vinco se formando entre suas sobrancelhas.— Ta bom. Eu aceito! — ela pegou suas coisas da mesa e veio em minha direção.Assim que virei a chave na ignição e liguei o rádio, a voz do The All-American Rejects tomou conta do ambiente, enquanto cantavam Dirty little secret. Dei ré para pegar a 7th avenida sentido a casa dela.Ela cantarolava a canção enquanto seus dedos tamborilavam sob sua perna. Com a capota aberta, o vento batia em seus cabelos recém desfeitos do coque de trabalho e o cheiro de baunilha mais a brisa da noite, invadiam novamente meus sentidos, deixando meu corpo entorpecente pelo aroma. Era como um balsamo para os Deuses.Abri a camisa até a altura do abdômen, deixando a mostra uma parte da águia que eu tenho tatuada no abdômen.— O que significa essa tatuagem que você tem no peito? — ela se virou para mim, curiosa com o desenho.— Águia significa coragem e força. Ela é considerada a “rainha dos céus” ou “rainha das aves” e na mitologia grega é o símbolo de Zeus. O mais poderoso dos Deuses. — olhei de canto para ela. Ela tinha os olhos concentrados em mim, ouvindo cada palavra que eu dizia. — Então resolvi tatuar, não tenho muitas tatuagens com significados. Boa parte delas eu fiz porque achei bonita, quando você faz uma acaba viciando e querendo mais. — soltei uma risada baixa.— Ela parece ser muito bonita. — ela tinha o lábio inferior preso nos dentes e um meio sorriso sexy na boca, fui obrigado a desviar o olhar dela, para tentar diminuir a tensão sexual que estava sentindo.— E essa aqui? — fui pego desprevenido ao sentir seus dedos passarem levemente pelo meu antebraço, me causando um arrepio por todo local. Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando afastar a sensação de mim. Seus dedos ainda pairavam sob a extensa tatuagem que eu tinha ali.— Isso é um microfone prop, mais conhecido como vintage, um microfone antigo. Tatuei pois sou apaixonado por música desde novo. — eram três tatuagens ligadas uma na outra, o microfone, um desenho de um coração, como na anatomia mesmo e um caminho de cifras musicais que pegava a parte superior do microfone e quase dava a volta ao redor do meu braço. — Por isso as três tatuagens, tem o mesmo significado.— Bonito o desenho... — ela finalmente tirou os dedos dali, deixando uma sensação de formigamento sob a pele.O que está acontecendo com você Ethan?Assim que passamos pela ponte de Manhattan a voz de Bruno Mars ecoou pelo carro, cantando Young Girls. Heather começou a tamborilar os dedos novamente enquanto cantava cada estrofe. E pela primeira vez eu notei o quanto sua voz era bonita, como um canto de sereia a hipnotizar qualquer pessoa. Suas bochechas coraram ao notar que estava sendo observada por mim, ambos desviaram o olhar no mesmo instante. Meus lábios subiram num sorriso sereno enquanto eu a contemplava ainda cantando, só que dessa vez ela tinha o rosto virado para o lado de fora do carro.Recostei a cabeça no banco, ainda sem entender o que de fato estava acontecendo naquele momento. Tentei ocupar a cabeça com outros pensamentos que não fosse sobre ela. Mas como uma tortura, toda vez que eu tentava a brisa trazia seu doce cheiro de baunilha para minhas narinas, me lembrando que ela era alguém do qual eu nunca poderia ter. Meu estilo de vida não me permitia isso.Estacionei o carro na frente da sua casa com o relógio batendo 19:00 horas.— Obrigada pela carona Ethan. — ela agradecia, seus braços estavam recostados na porta e sua camisa estava com os dois primeiros botões abertos, deixando seu decote visível e a pequena parte de sua lingerie preta bordada também. Respirei fundo e desviei os olhos dela, olhando para cima. Eu já conseguia sentir uma leve ereção pressionando entre a calça.— Foi um prazer Heather... — ela se afastou do carro e eu apertei fundo o pé no acelerador, cantando pneus e deixando ela para trás. Junto com seu cheiro e sua língua afiada.