Dállia abriu o pacote com o computador, não esperava por aquele cuidado. — É rosa.— Você gosta de rosa.Ela amava, principalmente aquele rosa perolado. O que mais a encantou foi o aplique com uma dália sobre a tampa do equipamento, passou a mão sobre a flor e foi como se ouvisse Tank a chamando de minha flor enquanto a possuía, a voz rouca, o jeito como ele a olhava, era tudo perfeito. Sentiu as lágrimas brotarem, mas se controlou. — Quer um café? Tank ficou olhando para ela por alguns segundos antes de conseguir responder, a voz saiu falhada. — Que.. queroDállia sabia que ele estava com medo, tinha visto aquela expressão tantas e tantas vezes. Russo chegava bêbado e Tank mudava, por mais que fingisse força o rosto ainda era de um menino. Se lembrou de uma cena antiga, algo que ainda a marcada. O rapaz havia levado um soco apenas por ter chamado Russo de pai. O rapaz estava com um amigo, o soldado tinha ido procurá-lo para falar algo sobre um campeonato, queria que Tank parti
Ele queria pedir para ficar, ela queria que ele não fosse embora, mas nenhum dos dois falou. Tank segurou o rosto da menina entre as mãos, os olhos estavam brilhantes com as lágrimas que brotaram sem permissão. — Eu vou trazer você de volta pra mim.Deu um beijo nos lábios da menina, era para ser breve, mas o impacto daquele toque o fez ficar mais alguns segundos. Precisou de todas as forças que tinha para conseguir partir, mas se queria tê-la de volta, começaria respeitando a vontade dela.Dállia assistiu o seu amor partir, teve vontade de gritar para que ele voltasse, de correr atrás dele, mas também se conteve. Queria que Tank tivesse a vida que ele sonhou. Uma mulher para casar, alguém de quem ele não sentisse vergonha por amar. Se virou para entrar e quase trombou com Amara. —AAAAÍ! VOCÊS SÃO LINDOS JUNTOS. — Para.Desviou da cunhada e começou a arrumar os presentes que tinha ganhado. — É sério, Dállia! Sabe quando o meu irmão comprou presentes para uma namorada? NUNCA! E
Os vícios são hábitos difíceis de se livrar, Tank estava acostumado a flertar, mesmo que não tivesse nenhuma intenção real de ficar com alguém.Um hábito construído na adolescência, na tentativa desesperada de provar ao pai que não era gay.Ouviu tantas e tantas vezes aquela acusação que passou a odiar qualquer coisa que o fizesse menos masculino. Nunca raspava totalmente a barba, jamais penteava os cabelos e só arrumava a casa e cozinhava quando ninguém podia ver.E com Luz, ele fez de novo.— Oi, deusa.— Olha, estou aqui por uma aposta. As meninas do clube disseram que eu precisava falar com você. Tipo um castigo. Só me deixam entrar se eu passar por isso, então pode fingir? Por favor.Tank olhou na direção que Luz apontou, virou o rosto meio constrangido, todas já tinham passado pela sua cama e agora o usavam como castigo.— Deve ter sido tão ruim para elas quanto foi pra mim.— Quê?— Nada, senta aí. Por que quer andar com aquelas garotas?— São minhas amigas e todo mundo importa
Luz ficou em silêncio, estava deslocada. Queria ir embora, mas não sabia se já podia, talvez as meninas não acreditassem.Tank continuou bebendo, não falou uma única palavra e ela resolveu puxar assunto, achou estranha aquela caixa enorme sobre o sofá, talvez fossem jogos. Poderiam passar o tempo no videogame.Gostava de “Resident Evil” um jogo que consistia basicamente em matar zumbis, com certeza Tank também gostava, homens gostavam daquelas coisas.— Você joga?Perguntou enquanto abria a caixa e o rapaz se transformou, o silêncio se tornou uma explosão sem nenhum sentido aparente.— DEIXA ISSO AÍ!Ela se assustou, quase pulou para longe da caixa.— SUA MÃE NÃO TE ENSINOU A NÃO MEXER NO QUE NÃO É SEU?Luz encolheu os ombros, falou baixinho com os olhos cheios de lágrimas.— Não tenho mãe. Desculpa, eu vou embora.Tank ficou perdido, não quis ser grosseiro, com dois passos alcançou a menina e a segurou pelo braço.— Hei, Luz. Desculpa vai. Não deveria ter gritado com você.— Está tud
Dállia amava aquelas flores, mesmo sem perceber a ansiedade a fez acordar cada dia mais cedo, corria para a porta e sempre encontrava uma dália e um bilhete.O jeito dele ainda era o mesmo, conhecia aqueles bilhetes, antes Tank enviava com o almoço dela, agora com as flores e ela guardava todos.Quando a saudade apertava, ela relia.1º bilheteMinha flor.Acordei e pensei em você.É dificil escreve, mas mais dificil é fica sem você.Tô aqui. Sempre.2º bilheteMinha flor,você é minha paz que eu não mereçu.Mas mesmo errado, eu quero tudo teu.Eu volto pra ti. Sempre volto.3º bilheteBom dia, Eu não consegui dormir, estou com saudade.mas teu cheiro ta em mim.É você que me mantem em pé, flor.Eu te amo feio, mas é de verdadi.Ela tinha dezenas daqueles papeizinhos nas mãos, mas um dia eles pararam de chegar, as flores e os bilhetes. Não tinha mais nada além da notícia de que Tank estava namorando.Não soube o que sentir, deveria ficar feliz, era isso que queria desde o começo, mas
Amara estava feliz, mas Tank praticamente não conseguia ver a irmã, não percebeu nada, os dias passavam entre coisas que não queria fazer e estudos que até gostava.Dylan era um bom professor e Nick participava das aulas com ele.Mas depois dos treinamentos o rapaz saía apressado, tinha trabalho a fazer.Quase não dormia e isso o fez errar.Não deveria ser nada fora do comum, um traficante local não fez os pagamentos aos policiais que davam cobertura e apesar dos avisos o dinheiro não chegou as mãos que deveria.— Só apaga e deixa no meio da calçada. Vai servir como aviso.— Estou indo.Enquanto dirigia estava pensando em Dállia, em como ela dobrava a perna e se sentava sobre ela quase como uma criança arteira. Ele a levava para o trabalho com um peso gigante no peito.A queria em casa, com ele e não naquele lugar, ainda assim, sentia falta dos momentos dentro do carro.Duraram pouco, tudo tinha terminado rápido demais e isso era difícil de aceitar.Ao menos seria um trabalho rápido,
Nick ouviu o amigo, mas preferiu fingir que não, ainda achava absurdo que Tank não percebesse o quão ridículo era tentar comprar uma mulher.— Tá, e além de tomar banho na minha frente o que você queria?Tank apontou para a mesa e Nick segurou o pedaço de papel.— Coloca no tapete da casa dela, eu faço isso todos os dias, mas hoje.— Tá já sei. Nisso eu ajudo.Nick sacudiu o pedacinho de papel e tentou alertar o amigo.— Isso não se compra, mas tem valor.— Uma flor— Que ficou surdo também?— Eu disse valor.— Coloca uma flor também.Nick relaxou os ombros, ajudou o amigo a se deitar no sofá, Tank não queria dormir no quarto sem ela.Quando saiu aproveitou para pegar várias flores e um doce na casa de Júlia. Os doces que a madrinha de Nick fazia eram imbatíveis.Deixou no tapete da casa um ramalhete de flores, uma cesta com doces, bolos, tortas e pudim. E o bilhete.Torceu para que aqueles dois deixassem de ser teimosos, o tempo é precioso demais e Nick sabia disso, havia perdido um
Quando Tank acordou estava se sentindo ótimo, o corpo ainda doía, mas parecia renovado, o aperto no peito tinha desaparecido completamente, aquela tristeza que o acompanhava como um fantasma já não estava mais.Respirou fundo. Tentou se sentar e acabou apoiando o braço quebrado. Gemeu com a dor e só então percebeu algo estranho.Havia uma música suave tocando.Sorriu como uma criança que ganha o presente mais desejado. Achou que Dállia tivesse voltado, se levantou depressa, estava mancando, mas correu até o quarto e foi somente aqueles minutos que teve de alegria.Tudo desmoronou como um castelo de areia ao ser atingido por uma onda forte.— O que está fazendo aqui, Luz?Arrumando esse quarto, vai ficar mais confortável se dormir em uma cama maior. Vou passar as noites aqui até que esteja bem.Luz havia feito um nó na barra do vestido, provavelmente para ter mais mobilidade ao organizar o espaço, o decote parecia ainda maior e Tank percorreu com os olhos aquela região.A pele era clar