Rio de Janeiro, Brasil.
Setembro de 2015
Por alguns dias, Alexander correu por quilômetros na areia da praia. Nadou no mar e chorou. Depois de sete d
O sol mergulhava no horizonte e terminava mais um longo dia no entardecer primaveril. Nicole arrumou o quarto do apartamento de Lana na zona sul do Rio de Janeiro, fechou a persiana em tom bege e acariciou a barriga que começava a tomar forma no tecido leve do vestido verde florido.
Fazia alguns dias que Nicole não via Alexander e, por mais que fosse difícil recomeçar a vida em um lugar completamente diferente, ela enfrentava um dia de cada vez. Nicole estava consciente que demoraria algum tempo até ter um sentimento mais positivo em relação a mais uma separação.
― Mamãe, cheguei!
Alex entrou no quarto com os cabelos molhados e com um pouco de areia.
― O tio David me ensinou a surfar. ― Um sorriso cruzou o rosto meigo e infantil. ― Foi o melhor aniversário da minha vida!
― Ele mandou bem!
David sorriu ao aparecer na porta com bermudão azul florido e uma camiseta preta.
― Acredito que logo você terá um campeão surfista em casa.
― Que legal!
Nicole mexeu nos fios de cabelos de Alex para tirar os resquícios de areia da praia. Sentiu-se grata pelo filho ter se divertido naquele dia.
― Alex, agora vá tomar um banho. Daqui a pouco a sua tia vai chegar com seu bolo de aniversário.
― É do Batman?
― Claro!
Nicole pegou algumas toalhas de banho no closet e algumas peças de roupas e as entregou para Alex. Encaminhou-se para a sala enquanto Alex corria para o banheiro.
David acompanhou Nicole até a sala e não deixou de reparar no brilho que reluzia o olhar de Nicole.
― Você está linda! ― Exibiu um sorriso calmo! ― Os castanhos dos teus olhos são mais intensos do que qualquer azul do mar.
Nicole sentou-se no sofá, o rosto enrubesceu com o olhar de David. Ajeitou o vestido sobre o joelho e encarou os dedos das mãos. Olhou para o lado por alguns segundos e ergueu o olhar na direção dele.
― Eu quero te agradecer pelo cuidado com o Alex! Fazia alguns dias que eu não via meu filho animado desse jeito. Nesses últimos dias ele acordava chorando e chamando pelo pai ― confessou ela em um tom compungido. ― Só te peço que não se aproveite da fragilidade do meu filho para me cativar, eu estimo a sua amizade, não há nada que eu queira, além disso.
― De forma alguma, Nicky! ― Ele levantou ainda mais as sobrancelhas.
David sentou-se à beira do sofá em formato de L, estofado por um tecido verde.
― Eu sei quanto você ama o Alexander e como ele partiu seu coração, lamento se eu fui desrespeitoso de alguma forma. ― Levou a mão à testa e abaixou a cabeça. ― Eu apenas pensei alto.
A expressão de Nicole congelou ao ver a porta da sala se abrir, o homem de porte físico intimidador entrou logo após a mulher esbelta de estatura mediana.
Jenny tinha um embrulho de uma confeitaria nas pequenas mãos e Alexander segurava uma enorme caixa embrulhada em um papel de presente colorido.
― David sai do sofá agora, você está molhado! ― Jenny mandou. ― É hoje que a Lana vai me matar. ― Acenou as mãos com desdém.
― Fique calma, Jenny! ― David conteve o riso e mirou em Alexander. ― Olá, doutor Bittencourt! ― Estendeu a mão para cumprimentá-lo, comprimiu os olhos, sentiu dor no aperto firme.
― Estou melhor agora por rever a minha esposa. ― Ocultou a raiva em um sorriso forçado.
― Até onde eu sei, a minha amiga não é mais a sua esposa!
A carranca de Alexander demonstrava insatisfação por ver a proximidade de David com Nicole.
― Não pertenço a ninguém! ― Nicole se impôs. ― Hoje é aniversário do meu filho. Deixe a guerra de egos para o trabalho de vocês.
― Eu já vou, tenho uma cirurgia marcada para hoje à noite. Eu só vim trazer o Alex. Ele está animado com o aniversário dele. ― David fez um gesto em direção ao bolo na mão de Jenny. ― Ensinei ele a surfar.
― Onde está o meu filho? ― O olhar de Alexander perscrutou o rosto de Nicole. ― Eu quero ver o Alex.
― Ele está no banho! ―Nicole mexeu no nó dos dedos.
― David cai fora! ― Jenny ordenou.
― Sua educação foi tirar férias na Disney? ― David pegou a prancha branca com alguns detalhes na cor preta. ― Dá um abraço, prima, nós brigamos, mas nos amamos.
― Cala a boca! ― Jenny se afastou. ― Não, David! Você está molhado!
― Docinha como o limão! ― Tinha rugas nos olhos puxados quando David sorriu. ― Vejo vocês amanhã. ― Saiu pela porta.
O senso de humor da família Kim divertia Nicole, o sorriso aumentava com as provocações dos primos que mais pareciam duas crianças no Jardim de Infância. Ela abaixou os olhos ao notar a expressão de desgosto no olhar de Alexander.
― Com licença! Eu vou ver se meu afilhado precisa de ajuda. ― Jenny se esgueirou e saiu pelos corredores.
Após tirar o blazer, Alexander abriu a abotoadura e puxou as mangas da blusa branca até a altura do antebraço. Admirou a barriga que avolumou o tecido da roupa de Nicole.
― Podemos conversar por um minuto? ― Quebrou o silêncio.
― Alexander, o que você faz aqui? ― Levantou a cabeça, os olhos se cruzaram. ― Você leu o que eu escrevi no bilhete?
― Não, Nicky! Não li a merda do bilhete. ― Cuspiu as palavras.
― Eu preciso de um tempo longe de você. Quero clarear os meus pensamentos, não dá para pensar com você me rondando. ― O tom de voz parecia estranho.
― Estou há dias procurando por vocês. Hoje é o aniversário do meu filho e você nem teve a consideração de me avisar onde vocês estavam.
― Eu precisava desse tempo longe, Alexander. ― Baixou os ombros. ― Tentei fazer parte do seu mundo, mas não deu certo. ― Respirou com pesar.
― Você tentou? ― Deu um sorriso de canto de boca. ― Você nem me deu oportunidade de te explicar. Você não estava lá quando acordei. Eu te liguei várias vezes. ― O tom irascível fez Nicole encolher no sofá.
ias lutando contra as armadilhas da mente, ele passou mais tempo se exercitando na musculação e trabalhou mais do que nunca. Contudo, o sentimento devastador prevaleceu.
Em uma tarde chuvosa, ele ajeitou a haste prateada dos óculos, podia ouvir as batidas suaves da chuva fina contra o vidro enquanto lia a carta do pedido de demissão de Nicole.
Ele tirou o telefone do gancho e ligou para um número que não existia mais. Bateu o telefone com força e olhou para a porta com uma fisionomia inescrutável.
― Entre!
― Com licença!
― O que você quer, Isabella?
― Bom dia para você também, Alexander! ― Isabella jogou as longas madeixas cor de fogo para trás. ― Eu só quero saber como você está e oferecer meu apoio, caso você precise de alguém para conversar. Desde o jantar que eu não vejo você.
― Não pense que eu sou tão ingênuo para confiar na sua boa vontade. Eu vi a troca de olhares entre você e aquela que se diz minha mãe. Isso é culpa de vocês! ― Tirou os óculos e coçou o olho direito com o dedo do meio. ― Eu não preciso de você e muito menos da Josephiné. Entendeu?
Aquela reação inesperada de Alexander a fez se remexer na cadeira. Nada acontecia da forma como Louise planejou.
― Isso é tudo, Dra. Dufour! Pode se retirar. ― Fez um gesto com as mãos mostrando a porta.
― Alexander, eu realmente...― Se movimentou ao ouvir o barulho do punho dele contra a mesa.
― Por favor, doutora Dufour!
Isabella ajeitou o jaleco branco que cobria a saia envelope preta e camisa rosa. Encarou Alexander, mas não disse uma palavra, apenas retirou. Passou por Jenny pela sala de espera e cumprimentou ao acenar a cabeça.
― Com licença!
Jenny ajeitou a blusa azul combinando com a calça da roupa que ainda usava após uma cesariana de emergência. Seguiu até a sala da diretoria assim que recebeu a solicitação de Alexander.
― Preciso conversar com você
― Se é sobre a Nicky, eu não quero me envolver.
― Sente-se! ― A voz gutural ordenou.
― Eu sei que você está com raiva, mas tudo tem um limite. ― A obstetra o enfrentou. ― A Nicky precisa de um tempo.
Alexander levantou da cadeira e seguiu até a janela, olhou para as gotas de chuva que caíam por entre as copas das árvores no pátio do prédio.
― Avise a ela que eu quero ver os meus filhos, é um direito meu e eu não abrirei mão disso! — Colocou a mão no bolso lateral. — Caso ela se negue, eu tomarei as providências necessárias.
― O que está acontecendo com você? ― reclamou, a voz afiada. ― Eu não estou te reconhecendo. O Alex e o bebê que ela está esperando não mereciam passar por tudo isso, muito menos a Nicky. Você devia protegê-la e não a atacá-la desse jeito.
― Chega, Jenny! O jardineiro da mansão viu o David ajudando-a com as malas. Ele viu quando a Nicky entrou no carro do seu primo. ― A carranca de Alexander a encarou. ― Ela foi embora com o David!
― Olha o que você está deduzindo! Você está deixando o ciúme afetar seu julgamento. Eu pedi pro David buscar a Nicky e o Alex e levar pro apartamento da Lana. ― Jenny levou a mão esbranquiçada à boca.
Pegando o telefone, Alexander apertou o ramal da secretária e solicitou os dados da enfermeira Lana Salvatori.
Antes que Jenny dissesse mais alguma palavra, ele organizou e guardou os documentos assinados que estavam sobre a mesa. Colocou o blazer slim preto sobre a camisa branca e pegou as chaves do carro.
― Que merda, Alexander! ― Ela resmungou. ― Por que você é tão impulsivo?
― Preciso vê-los. ― A expressão suavizou. ― Não durmo e não como direito há dias.
Jenny o acompanhou logo que ele pegou o endereço com a secretária e saiu apressado pelos corredores da administração. Nada o impedia de sair em busca da família, nem mesmo os argumentos e os pedidos de Jenny.
Está ansiosa(o) para o próximo capítulo? ❤ (ˆ‿ˆԅ) Então, espia o confronto entre Alexander e Nicole.