Submundo dos Monstros
Submundo dos Monstros
Por: Pietro Pendragon
Prólogo

                                                                Prólogo

                O alto prédio, austero em suas cores cinzentas e poucas janelas, largas o bastante para passarem por outdoors de cristal reflexivo, guardava dentro de si vários empresários, vendedores e todo tipo de empregado. Assistentes, secretários e secretárias, colarinhos brancos, azuis, faxineiros e faxineiras, um corpo de funcionários que trabalhavam tal como o povo myrmeko em suas colônias refeitas após a Ordem da Reabilitação.

            Lá dentro, a empresa emergente “M e Associados” lidava com todo tipo de coisa: imobiliária, exportação e importação, contratos judiciários, e era tudo feito com rapidez, pois ninguém em sã consciência queria contrariar o chefe. Era sabido que, por seu humor tempestuoso ante imperfeições e erros, até o menor deslize era passivo de severas punições. Funcionários que o desagradaram nunca mais foram vistos, boatos se espalhavam de que até as famílias do desaparecido sumiam, e em cada andar, uma aura de medo percorria os corredores quando o chefe andava por ali, fazendo suas vistorias e interrogatórios enfadonhos sobre o funcionamento de seus negócios.

            O chefe, é claro, era ainda mais assustador em pessoa do que em boato: vestido de forma impecável em ternos de tecido caríssimo e sob medida, era belo de se olhar apenas do pescoço para baixo. Do pescoço para cima era um verdadeiro agouro: o rosto estava quase completamente coberto por uma máscara negra, tão preta que parecia um vazio onde deveria existir uma cabeça. Tinha contornos em dourado ao redor dos olhos, maçãs do rosto, lábios e orelha, e na altura da testa a máscara se abria e revelava um cabelo louro escuro levemente ondulado. Por onde ele passava, seus frios olhos semiocultos pela máscara seguiam friamente qualquer movimento, cruéis e exigentes ao extremo.

            Todos ali dentro (e nas poucas redondezas de Thundermoon onde ele ia) era conhecido por um nome: Tifão. Havia também a aura de mistério em sua existência, ninguém sabia de onde viera, e não queriam se meter com ele. A menos que fosse sobre dinheiro, obviamente: isso ele tinha aos montes, e poucos se questionavam de onde o dinheiro vinha. Diziam que era de seu talento como negociador, comprador e exportador de mercadorias, pois mal chegara à cidade vizinha de Howlingtown e já fora capaz de fechar contratos de associação com várias lojas, até conseguir ser o proprietário geral das mesmas em poucas semanas. Mas, diziam as más línguas que o tal Tifão dera um fim nas vidas dos pequenos proprietários e empresários para assim obter o controle de seus negócios e usufruir de seus lucros e continuar com os capitais de giro.

            Fosse como fosse, Tifão agora estava em seu escritório, discutindo algumas questões com cindo de seus melhores funcionários, escolhidos a dedo e por recomendações de seu falecido pai, quando um de seus assistentes entrou, e o grande chefe mandou os cinco saírem, voltarem para suas áreas de trabalho de forma sigilosa como sempre e que lhes mandassem relatórios na próxima semana. Quando se assegurou, ouvindo atentamente seus batimentos cardíacos desaparecerem pelo elevador que descia lentamente, a voz abafada de Tifão falou por trás da máscara.

– Suponho que você tenha os resultados das tarefas que lhe dei além do balanço dos negócios.

– Sim, senhor – Respondeu de forma segura o assistente enquanto passava pela mesa as pastas sobre os últimos balanços financeiros para o chefe – Estes são os números a respeito da venda de armas de prata para as facções religiosas da Zona Humana que querem guerra contra as gangues da Zona Baixa de Howlingtown e Thundermoon. Houve um aumento bem grande nos pedidos, e tive de ligar para os fornecedores nas mineradoras internacionais.

– Bom, muito bom...

– Há também uma nova demanda de bebidas e alucinógenos nos clubes noturnos mais escusos, estes se mantendo na corda bamba para permanecerem funcionando na Zona Baixa. Desde a abertura da mesma muitas pessoas de baixa renda puderam repovoar as áreas antes ocupadas pelos insetos, e agora, a documentação de regulamentação é crucial. Podemos nos aproveitar dessa necessidade, e há uma em especial que você gostaria muito de controlar...

– Se refere à Lady Shiva? – Tifão bocejou por trás da máscara – Seria um ótimo fantoche, admito. Comece a fazer contato com os donos das casas noturnas, então, e veja quais estão se utilizando da venda de drogas, vamos começar a fazer contratos de venda e revenda.

– Para isso, teremos de começar a produzi-las com mais frequência. Há um pequeno concorrente, um humano da Zona Baixa que detém poder total da compra, venda e produção de entorpecentes. Ele lucra muito quando vende a traficantes das Zonas Baixas dos monstros.

– Esse... Krarkov... Deixe que eu lido com ele, pessoalmente. Vou avaliar as posses do mesmo e talvez isso sirva para algo no grande plano.

– Ele é dono de vários armazéns da Zona Baixa humana, e são bem espaçosos. Mas você verá isso por si mesmo, senhor. Mudando de assunto, Os Cinco, que acabaram de sair, estes fizeram progresso e os dados genéticos que eles vêm “recuperando” em suas devidas funções.

– Desde que eu os trouxe até mim, após o Dia da Fúria, consegui recuperar muito do trabalho de Lev Bronstein e a fortuna do meu pai ajudou muito. Quero que descubra o que eles não me contam. Manter vigilância neles é crucial.

– De fato, senhor. Agora, a compra dos votos de silêncio de empresas filiadas a nós e de seus funcionários, além da polícia e das forças militares de Thundermoon anda a passos de lesma, talvez tenhamos de molhar mais as mãos deles.

– Ou cortar as mãos de seus entes queridos como aviso. O que for mais urgente. Agora, me diga: você fez o que te mandei fazer hoje cedo?

– Sim, senhor: os cinco ovos foram jogados ao mar. O médico que os avaliou e cuidou para que fossem aquecidos antes de serem jogados na costa disse que levaria algumas semanas para nascerem, e os filhotes que saíssem deles levariam alguns meses para serem chocados. Ele crê, também, que os bloqueadores genéticos vão impedir que qualquer um que bote as mãos nos filhotes consiga achar um traço genético seu, no máximo de nossa raça. Mas, qualquer coisa que possa o identificar está fora de questão, senhor.

– Perfeito... – Tifão suspirou, satisfeito – No mar, eles terão acesso a grande quantidade de alimentação, o mar sendo parte do útero de todas as espécies... Eles vão crescer fortes, vão evoluir rapidamente, e serão poderosos.

– Crê que vão concluir seus objetivos, senhor? – Perguntou o assistente, levemente cético.

– Quando Equidna os pariu – Tifão começou a narrar – Ela os imbuiu de grande força de vontade. Sua mente estava, e ainda está, repleta do desejo de vingança e o objetivo dela é tão forte quanto o perfume erótico da pele dela quando está prenhe. Nossos testes anteriores com crias preliminares provaram serem um sucesso, ela os sente a distância, e se precisar dar um comando, eles a ouvem de longe.

– Conexão telepática, senhor?

– Talvez seja... A ligação é forte, independente da fonte. Agora, nós só podemos esperar e continuar com nossa agenda.

            O assistente acenou com a cabeça, levantou-se e se retirou quando Tifão lhe permitiu com um gesto de mão. Andando até o elevador, percebeu que esquecera de passar uma pasta para o chefe: os testes de reanimação de cadáveres iam mal, a exceção de um corpo, que funcionava como protótipo. Se voltasse lá, agora, para lhe entregar a pasta, talvez Tifão o castigasse.

            Com medo, preferiu deixar este pequeno engano para corrigir em uma oportunidade futura, quando os testes terminassem com sucesso.

            As coisas seriam interessantes nos próximos meses.

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