No momento em que embarquei no avião, ainda senti que tudo aquilo era um pouco irreal.
Durante esses seis anos no exterior, nunca imaginei que teria outra chance de voltar.
Afinal, Mário já havia dito antes que nunca mais queria me ver.
Mas, desta vez, foi ele quem tomou a iniciativa de pedir meu retorno, organizou tudo para que eu pudesse voltar e participar da celebração pela vitória de Kátia no concurso de design de joias.
O trajeto até meu país era longo, com duas conexões de voo.
Ao aterrissar, Tomás, que estava em meus braços, começou a despertar lentamente.
Diante do ambiente desconhecido, ele ficou um pouco assustado e estendeu a mão para mim.
— Mamãe!
Ao vê-lo com aquele olhar de súplica, tratei logo de pegá-lo no colo.
Chegando à saída do terminal, eu estava prestes a acenar para um táxi, quando meu telefone tocou no bolso.
Já fazia tempo que eu havia apagado aquele número, mas ainda assim, o tinha gravado na memória.
Só percebi o que estava acontecendo quando a ligação caiu automaticamente, mas logo o telefone tocou uma segunda vez.
Respirei fundo e atendi.
A voz de Mário soou imediatamente.
— Já saiu do aeroporto? Pedi ao assistente para te buscar.
Sua voz não mudou nada, continuava fria, distante, de um profissionalismo impessoal.
Dei um sorriso amargo.
— Não precisa, posso chamar um táxi sozinha.
Mário não esperava essa resposta, e ficou em silêncio por um instante.
Afinal, naquela época, ele cuidava muito bem de mim.
Durante os anos em que vivemos juntos, sempre houve alguém para cuidar de tudo: alimentação, vestuário, até mesmo das pequenas necessidades do dia a dia.
Havia até motorista particular. Eu simplesmente nunca precisei chamar um táxi por conta própria.
Após um momento de silêncio, Mário falou:
— Pedi ao assistente para te buscar. No porta-malas do carro está o presente que comprei para Kátia em seu nome. Não esqueça de entregar a ela.
Mário realmente era atencioso com Kátia.
Afinal, naquela época, ele lhe proporcionou um casamento luxuoso digno de conto de fadas, e mandou fazer uma aliança com um raro diamante especialmente para ela.
Tudo isso mostrava que ele amava Kátia.
— Entendi.
Não mostrei muita reação, só queria que a conversa terminasse logo.
Mas Mário não desligou. Em vez disso, falou comigo num tom de advertência:
— Você passou seis anos no exterior. Espero que já tenha pensado bem e não tente causar nenhum problema entre nós, muito menos machucar a Kátia.
Fiquei paralisada por um momento, parecia que até o ambiente ao redor havia ficado em silêncio.
Do outro lado, ele já havia desligado. Sorri tristemente.
O aviso dele era completamente desnecessário. Eu não faria nada disso.
Eu só queria viver tranquilamente com Tomás e encontrar um trabalho que pudesse nos sustentar.
Ao sair do aeroporto, abaixei a aba do boné.
A paixão impulsiva dos meus dezoito anos já tinha desaparecido há muito tempo.
Nem eu mesma imaginei que, em seis anos, eu acabaria chegando a esse ponto de decadência.