Percival - Capítulo 6 - O Dever de Uma Rainha e o Coração de Uma Mãe

Assim que cheguei na porta do escritório do meu pai para participar da reunião minha mãe me esperava com as mãos na cintura. Ficou claro que esse não era o plano dela para mim.

- Mãe? - Perguntei para quebrar o silêncio.

- Filho. - Ela assoprou uma mecha de cabelo ruivo, fazendo-a parecer mais jovem. - Eu quero conversar com você.

Ela estendeu o braço e eu o peguei em silêncio, não havia como discutir com Alice e ganhar.

A música da festa foi ficando mais baixa enquanto caminhávamos para os jardins reais. Passamos por um portão de ferro que indicava o primeiro jardim, o Jardim do Sol, onde havia toda variedade de flores, plantas e até árvores de Solares.

Minha mãe caminhava olhando fixamente para frente e então se sentou na mureta da fonte.

 - Quando você pretende ir embora? - ela perguntou.

- Hoje após a festa. - Vi a tristeza no seu rosto e depois um sorriso zombeteiro se formar nos cantos dos lábios. - Que foi?

- É que eu queria tirar uma foto de uma flor que fica no alto da campina, mas não tenho ninguém para me acompanhar. - disse fazendo um ar jovial e meigo. - Você conhece algum guerreiro jovem que consiga me ajudar?

Estava pego.

- Mas mãe... - Sabia que era inútil tentar convencer minha mãe. - Está bem, mas só mais um dia.

- É claro. - disse sarcasticamente - Só mais um.

Nos encaramos por um tempo e começamos a rir.

- Você ainda tem o poder de me fazer rir Eduardo. - comentou minha mãe, fazendo eu me sentir envergonhado. - Nunca se esqueça que além de sua Rainha, eu sou sua mãe em primeiro lugar.

- Eu sei mãe. - Ela caminhou até mim, me dando um beijo na testa.

- Vamos voltar para festa, precisamos ser vistos.

- Sim. - concordei me sentindo triste e cansado.

- Vamos fazer assim. - começou minha mãe estendendo seu braço. - Eu lido com os extravagantes e você com os caras de fardas. Pode ser?

Sorri.

- Pode ser.

...

Dormi pesado e acordei com minha mãe abrindo as cortinas.

- Levanta Eduardo, a flor que quero fotografar só abre uma vez no dia e é de manhã. - Ela passou pela minha cama puxando meu pé. - Levanta preguiça, pensei que guerreiros levantavam junto com o Sol.

- Por Lunari mãe, falta quase uma hora para o primeiro brilho do Sol.

- Os cavalos estão prontos e o café da manhã está aqui. - Esfreguei os olhos afastando o sono.

Havia uma bandeja com suco de limão, pão e ovos mexidos com tomates e queijo. - Eu mesma que fiz, me perdi um pouco na cozinha, mas está gostoso. - disse enfiando um bocado de ovos mexidos na boca.

- Mãe. Eu sei que a senhora está tentando me afastar para não falar com o pai e com Quentin.

- Inteligente como meu filho deve ser. - Amarrou o cabelo em um rabo de cavalo relaxado. - Agora coma e vamos, estou te esperando no estábulo real.

Saiu antes que eu pudesse dizer algo.

Comi em silêncio olhando para o quarto e me sentido deslocado.

Quase levei um susto quando os braços de Tori me agarraram pelas costas.

- Bom Dia Percy, se sente mais adulto agora? - disse mordendo o pedaço de pão que estava na minha mão. - O que vai fazer hoje?

- Bom Dia Tori. - Ela estava vestida com sua camisola de seda rosa, então tinha vindo pela passagem secreta. - Mamãe quer que eu vá com ela para a campina tirar fotos.

Tori entortou a boca, um gesto que fazia quando não gostava do que estava acontecendo, encarou minhas mãos e amarrou o cabelo em um coque alto.

- Então... Preparada para o que virá? - perguntei mudando de assunto.

- Não e você? - perguntou ela de volta.

- Não também, mas você vai se sair bem, eu te vi ontem deslizando pelo palácio cheia de sorrisos e graça.

- Meus pés estão doendo e minhas bochechas ficaram com câimbras. - disse apertando-as - Eu queria poder ser como você, viajando pelo mundo e sabendo sobre tudo.

- Tsss. - Bufei - Você não faz ideia do que eu faço.

- Me conta então? - Era isso o que na verdade ela queria saber.

- Por que no outro dia você chamou pelo Nick? - mudei de assunto.

Tori ficou tão vermelha quanto seu cabelo.

Eu sabia que ela tinha uma queda pelo Nick, mas ele havia me prometido de nunca ficaria com a minha irmã. 

- Ai, está quente aqui. - ela disse e levantou em um salto. - Eu vou indo, pois tenho um monte de coisas para fazer, te espero no jantar e ainda me deve um dia inteiro.

Minha irmã saiu pela porta, sem se importar de estar apenas de camisola quase transparente, e eu fui ao banheiro, joguei uma água no corpo e vesti minha roupa de treinamento, amarrando meu cabelo em um rabo baixo, e prendendo minha faca serrilhada na cintura.

Desci pela janela para evitar falar com as pessoas que ainda estavam indo embora e então fui até o estábulo.

Minha mãe me esperava ao lado de dois garanhões prateados, ela estava usando uma bermuda caqui, botas de trilha, uma blusa larga branca, um chapéu de palha largo demais, óculos escuros e a câmera fotográfica pendura no pescoço.

- Que demora, hein!? - reclamou colocando as mãos na cintura. - O que aconteceu?

- Tori invadiu meu quarto e conversamos um pouco. - respondi me sentindo estranhamente animado. - Vamos?

Ela subiu no cavalo com graça e eu fiz o mesmo, ou pelo menos tentei.

Cavalgamos um bom tanto por um campo aberto e cheio de flores, depois deixamos os cavalos perto de uma lagoa e seguimos a pé.

- Então, você tem alguma garota ou garoto nesse coração? - perguntou minha mãe do nada, me fazendo ter um ataque de tosse. - Calma Eduardo. - disse batendo em minhas costas.

- Nossa mãe. - Pigarrei - A senhora é meio direta demais as vezes.

- Então...? - Insistiu.

Suspirei e contei até quatro.

- Não mãe, não tenho nada disso no meu coração.

- Então, o que te motiva a levantar todos os dias?

- Meu dever. - disse mais ríspido do que queria.

- Seu dever. - Ela estalou a língua alto. - Interessante.

- O que foi mãe? - Sabia que seria uma longa tarde.

- Nada, mas é que não consigo sentir seu coração nesse "dever". - Minha mãe fez aspas com os dedos - Eduardo, o que está se passando nessa sua cabeça vermelha?

- Nada mãe, e eu também não preciso de nada no meu coração, apenas preciso fazer o melhor para que minha irmã reine em paz.

Caminhamos em silêncio até o alto da campina onde havia uma infinidade ainda maior de flores e também borboletas.

Sentei debaixo de uma árvore enquanto minha mãe tirava fotos de tudo. Após alguns minutos ela se aproximou de mim tirou algumas fotos minhas e então se sentou ao meu lado.

- Meu filho, logo você será um rei e terá que fazer muitas escolhas difíceis. - Ela afagou meu cabelos - Eu só quero ter certeza de que seguirá seu coração e não se arrependerá de nada depois. Quero que seja feliz.

Eu não gostava daquele papo de coração.

- Mãe, eu sei o que você e o pai fizeram no passado. Sei que matou o rei Marcus e que exilou os filhos dele, deixando-os sem nada. - disse com firmeza - Sei que matou também o antigo rei de Vênus e talvez até você tenha mandado matar o seu ex-marido... Foi por causa disso de usar o coração que aconteceu a Lua Sangrenta. - Olhei para ela com uma raiva ardendo em meu peito e ela recuou como se eu a tivesse socado.

- Eu não posso me dar ao luxo de fazer escolhas que possam colocar em risco vidas inocentes, - continuei - ou pior, colocar em risco a vida de algum de vocês. Você tem noção de que o Vovô e a Vovó quase morreram?!

Ela olhou para o sol com lágrimas escorrendo pelo rosto e isso cortou meu coração.

- Me desculpa mãe. - Me aproximei para abraça-la, mas ela me impediu.

- Acho melhor voltarmos. Está ficando tarde.

Ela então se levantou e foi andando na frente.

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