Tamí é uma garimpeira destemida que trabalha numa ilha onde a mineração é a única fonte de renda e todos ali são escravos do dono da Companhia dos Conquistadores, que explora seus empregados para ficar ainda mais rico. Seu desejo é vingança e com um passado cruel e obscuro, ela odeia os homens e não quer nunca se envolver com ninguém. Mas o destino quis que ela conhecesse o filho do homem que ela detesta e que por ele se apaixonasse perdidamente. Conseguirá Tamí fugir do amor e se vingar a qualquer preço quando isso pode ferir todos à sua volta?
Ler maisEsta é uma obra fictícia, inspirada da música “Blue Sky Mine”, de autoria da Banda australiana MidnightOil.
Quando Tamí percebeu que Todi estava junto dela, tentou fugir, mas já era tarde.
Ele era muito ágil e foi mais rápido que ela. Jogou-a com força no chão, colocando seu vestido branco sobre seu rosto. Ela tentava se desvencilhar, mas o corpo pequeno e magro não tinha chance alguma de movimento. Todo esforço de luta era em vão... ela era uma pedrinha de ouro nas mãos de um garimpeiro ambicioso. Sob o tecido fino ela conseguia observar o azul do céu e ouvia somente o barulho do mar, as ondas batendo fortes sobre as rochas que formavam o penhasco atrás de si... Jamais alguém viria lhe ajudar naquele lugar. Pensou em seus pais e onde suas almas estariam naquele momento... e se de alguma forma estavam vendo o que acontecia e poderiam ajudá-la. As lágrimas grossas e silenciosas queimavam seu rosto.
Quando Todi saiu de cima dela tinha o olhar mais sombrio que ela já vira na vida. Ele abotoava a calça ainda olhando para ela, sem dizer uma palavra, somente com o rosto satisfeito de prazer. Ela colocou as mãos para o lado, tentando encontrar algo... sentiu uma pedra e viu o quanto era grande. Ele virou-se para seguir seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Sem pensar duas vezes, Tamí pegou a enorme pedra e jogou sobre sua cabeça. Ele caiu desacordado no mesmo instante. Impulsionada pela raiva, ela continuou a bater a pedra sobre o rosto dele no chão. O pavor que sentia era enorme e seu ódio e raiva insuportáveis. Sabia que aquele dia jamais seria apagado de sua mente. Movida pelo desespero, puxou o corpo para beira do penhasco e sem pensar jogou-o lá do alto. As ondas bruscas logo puxaram o corpo para dentro do mar e em pouco tempo ela não via mais ele... Todi estava morto
Aquela semana foi horrível para Tamí. Sentia uma tristeza sem fim. Já não tinha forças para comandar os trabalhos na ilha. Sentia-se na obrigação de casar com Hirst, mas não tinha nenhuma vontade de concretizar aquilo. Cumpriria com sua palavra, pois era muito grata a ele por ter protegido Albert. Mas ecoava em sua cabeça as palavras de Ben, de que se Hirst realmente a amasse, não aceitaria nada em troca do que havia feito.Naquela noite ela conseguiu escapar para o mar... Precisava ficar sozinha consigo mesma, o que não conseguia desde que Hirst chegara à ilha.- Tamí, preciso falar com você.Ela respirou fundo, enjoada de ouvir a voz dele.- Fale, Hirst.- Eu... Não quero casar com você. – disse ele.- Como?- Vou embora amanhã, Tamí.- Mas... Por que tomou esta decisão?- Você
Um mês se passou e um novo barco chegou à ilha. Tamí, Albert e Hirst foram esperá-lo próximo ao porto antigo, para ver se tentaria atracar. O casamento deles estava marcado para a próxima semana. Mais que isso ela não conseguiria adiar. Ela não sabia o que sentia com relação a Hirst, mas gostava dele e talvez isso bastasse. E ela tinha Albert consigo e isso era suficiente para entrar em qualquer batalha. Sempre que olhava para o filho lembrava que se não fosse por Hirst, ele estaria morto. Eles haviam decidido que não deixariam a ilha, lutariam até o fim, mesmo que nenhum advogado quisesse defendê-los do governo ou da Companhia dos Conquistadores. A luta deles era solitária. O povo contra todos. E lutariam juntos pelo que acreditavam que era deles por direito. Não importava o que acontecesse na ilha... Eles só queriam seu pedaço de terra, pelo qual haviam pagad
Tamí estava tão eufórica com Albert em seus braços que nem deu atenção a Hirst e os dois homens que estavam com ele. Eles a acompanharam, mesmo sem serem convidados. Quando ela entrou em casa com o filho no colo, João e Albertina ficaram tão atônitos e incrédulos quanto ela ficara quando o vira na praia. Ela foi explicando o que havia acontecido e eles conseguiram se mover e abraçar o neto carinhosamente. Esperança logo foi preparar o jantar para os convidados e o esfomeado menino enquanto ele, sentado no colo de João, contava tudo que havia visto fora da ilha, muito empolgado. Tamí chamou Hirst para conversarem na rua um pouco, pois tinham muito a falar.- Não tem medo de sair assim à noite pela ilha, Tamí? Estava sozinha na praia. – observou ele.Ela olhou para Hirst. Ele estava diferente, com a barba crescida, os cabelos também. Ainda er
E como Tamí planejou foi feito. Viveram uma semana árdua de trabalho, procurando ouro sem resultado e plantando nas terras áridas sem perspectiva de crescimento das sementes. Tentavam reconstruir a ilha, mesmo sabendo que nada daquilo era deles e que um dia, mais cedo ou mais tarde, teriam que sair dali. Várias embarcações tentaram se aproximar da ilha, mas tiveram que voltar, pois não havia como atracar. Eles não sabiam de onde vinham, nem o que queriam. Estavam incomunicáveis, como sempre foram. Todo o dia Tamí ia ao cemitério e rezava por seus pais, Albert e Pérola.Procuravam ouro do amanhecer ao anoitecer, mas já estavam descrentes de que realmente pudesse haver pepitas naquele lugar.Vendo aquelas pessoas tão desiludidas e cansadas, naquele dia Tamí estava preste a desistir.- Tamí, pode vir aqui um pouco? – pediu uma garimpeira.Ela
Quando Tamí viu o grande número de pessoas em volta do corpo ficou trêmula e com um pouco de medo. Parou por alguns segundos e seguiu em frente. Quando olhou teve a certeza de que não era Albert. Mas sim, era um menino quase do mesmo tamanho, um pouco menor.- Não é meu filho. – afirmou ela.- Tamí, procuramos por todos os lugares da ilha e não o encontramos. Este corpo foi trazido pelo mar e achado perto das rochas do penhasco. – explicou um dos garimpeiros.Ela ficou pensativa olhando para ele.- Pensamos que talvez os meninos estivessem brincando nas rochas ou mesmo no penhasco... E podem ter caído e não conseguido nadar. Creio que se este não é Albert, ele também possa estar... No mar.- Vocês procuraram também nos rochedos? – perguntou ela.- Sim... Creio que Albert está... Morto.Ela ficou calada.
Tamí retornou para a mina. Naquela noite trabalhou sozinha. Enquanto todos na mina dormiam, ela continuava firme retirando cada pedra. Precisava encontrar Albert. Antes que o dia clareasse e o sol nascesse, já havia muitas pessoas a ajudando novamente. Não demorou muito para o sol brilhar no céu azul da mineração. Tamí estava tão cansada que nem sentia seus braços e suas pernas. Mas já dava para verem o chão. E seu coração estava apertado, pois ficava cada vez mais claro que não havia mais nenhum corpo soterrado ali. Aos poucos os garimpeiros foram desistindo de tirar as últimas pedras, pois sabiam que Albert não estava ali. Tamí, continuou, sendo observada por todos, até retirar a última pedra. Todas as pedras da mina, uma a uma, foram removidas braçalmente... Não havia uma sequer no mesmo lugar. E acharam alguns corpos que nem esperavam
Último capítulo