Capítulo 3
Nos dias que se seguiram, Letícia se trancou no quarto com os olhos inchados, sem sair nem um passo de casa.

Afonso e Eva, ao descobrirem o absurdo que Isaac havia feito, sentiram-se ainda mais aliviados por não terem deixado a filha se casar com ele.

Chegaram a ameaçar procurar a Família Castro para tirar satisfação, mas foram impedidos por Letícia, que finalmente tinha saído do quarto após dias reclusa.

O casamento se aproximava, e ela não queria causar mais nenhum escândalo.

Depois de acalmar os pais, Letícia saiu de casa com uma folha de papel cuidadosamente dobrada: um desenho.

Durante os dias em que esteve trancada, não foi por causa de Isaac — ele, há muito, deixara de significar qualquer coisa para ela.

Ela estava desenhando, com as próprias mãos, a aliança de casamento de Vinícius.

Sabia que o “Colhe a Estrela” era de valor incalculável.

Por isso, quis usar o que tinha de mais sincero — seu tempo, seu coração — para retribuir o amor silencioso que ele lhe oferecia.

Entregou o projeto ao mordomo e pediu que encontrasse um mestre artesão para esculpir o anel.

Mas, quando o prazo combinado chegou, a aliança não apareceu.

Letícia foi perguntar — e o que soube a deixou sem fala.

Dias antes, Isaac havia ido até a loja para escolher joias, e se encantou justamente com o anel que ela mandara fazer.

Fez algumas perguntas, depois o levou consigo sem qualquer cerimônia.

— Afinal, é pra mim mesmo. — Deixou avisado. — Não precisa a Letícia vir buscar.

Os funcionários, sabendo do suposto noivado entre as duas famílias, nada fizeram para impedir.

O coração de Letícia despencou.

Saiu imediatamente rumo à casa dos Castro, disposta a reaver o anel.

Assim que entrou, viu Larissa sentada entre pilhas de pacotes, falando com voz mansa e manhosa:

— Senhor... você comprou tudo do meu carrinho de compras de novo? Você me mima tanto... como eu vou conseguir retribuir isso tudo?

— Não precisa retribuir. Já falei que não quero que me chame de senhor.

Larissa sorriu e o chamou baixinho, com vergonha:

— Sasa...

Vendo aquela troca de olhares cúmplices, Letícia nem pestanejou — entrou direto.

Isaac ouviu os passos, virou-se e franziu a testa:

— O que você está fazendo aqui?

— A aliança de casamento que você pegou. Devolva.

Isaac ergueu uma sobrancelha diante do gesto dela estendendo a mão.

— Já era.

O olhar de Letícia se tornou mais severo.

— Como assim, já era?

Antes que ele respondesse, Larissa abriu a boca, com expressão inocente:

— Sra. Letícia, vi na internet que aliança era ótima pra abrir caixas. Usei a sua pra abrir uns... sei lá, uns cem pacotes. Tá toda arranhada agora... ainda quer?

Ela abriu a palma da mão e mostrou o anel — marcado, arranhado, quase irreconhecível.

Isaac... usou o anel de casamento dela pra Larissa abrir caixa de encomenda?!

Uma raiva avassaladora tomou conta do corpo de Letícia.

Ela já não conseguia mais conter a emoção. Com os olhos vermelhos, fitou os dois à sua frente — dois rostos frios, indiferentes.

— Isaac, com que direito você pega o que é meu sem permissão?! E você, Larissa... com que direito destrói assim algo que não te pertence?! Vocês sabem o que significa a palavra respeito?!

Isaac, incomodado, perdeu o bom humor.

— Esse anel era pra mim, não era? Tá reclamando por quê?

— Ah, e quer saber? Mudei de ideia. Vamos só registrar no civil, sem cerimônia. Você perdeu seu tempo à toa com esse anel.

Letícia cerrou os punhos, ofegante.

— Isaac, essa aliança... não era pra você!

— Não era? Vai dizer que era pra outro? Letícia, chega de teatro. Tá passando dos limites.

Com desprezo, ele lançou o anel longe, pegou Larissa pela mão e saiu.

— Não vale a pena perder tempo com ela. Larissa, não queria aprender a dirigir? Vem, eu te ensino.

Letícia os viu se afastando e sentiu a fúria e o desespero borbulhando por dentro. Quis correr atrás, mas o corpo ficou preso onde estava.

Ela se agachou no chão e começou a procurar o anel.

Levou mais de meia hora até encontrá-lo no canteiro de flores.

Guardou-o com cuidado no bolso. Não havia tempo para refazer, teria que encontrar alguém que o restaurasse.

Mas mal saiu da mansão, ouviu um barulho estranho.

Quando ergueu os olhos, tudo o que viu foi um carro vindo direto em sua direção.

Os olhos se arregalaram.

BAM!

Seu corpo foi lançado a mais de dez metros, caindo numa poça de sangue.

Larissa saiu do carro chorando, fingindo desespero:

— Ai meu Deus, ai meu Deus! Acabei de aprender a dirigir e confundi o freio com o acelerador! Olha só o tanto de sangue... Sasa, será que vai acontecer alguma coisa com a Sra. Letícia?!

Vendo as escadas manchadas de vermelho, Isaac franziu a testa.

Abraçou Larissa, passou a mão nas costas dela e disse suavemente:

— Calma. Ela adora se fazer de vítima. Isso é só mais um teatrinho. Logo ela cansa e levanta. Não precisa se preocupar, Larissa.

Na beira da inconsciência, Letícia ainda conseguiu ouvir aquelas palavras.

Todo o seu corpo gelou. Lágrimas escorreram sem controle.

Isaac...

Mesmo que você nunca tenha me amado, eu achei que, pelo menos, teria um mínimo de consideração.

Afinal... crescemos juntos.

Mas agora entendi.

Pra agradar a Larissa, você é capaz até de me deixar morrer.

Na vida passada... por que foi que eu me apaixonei por você?

Tentou com todas as forças alcançar o celular.

Mas, quando finalmente tocou o aparelho, a força em seu corpo se esvaiu por completo.

E então, a escuridão a engoliu.

Quando abriu os olhos de novo, era outro dia.

Logo em seguida, o médico entrou com a prancheta e falou num tom sério:

— Por que não trouxeram ela pro hospital assim que aconteceu o acidente? Precisou sangrar desse jeito pra virem? Isso é um absurdo.

Letícia tentou abrir a boca, mas só conseguiu dar um sorriso amargo.

Como dizer que seu ex-noivo a viu ser atropelada... e simplesmente ignorou?

O médico suspirou, sem insistir:

— Onde está o marido? Ele precisa assinar a internação.

Ainda sob efeito da anestesia, Letícia respondeu sem pensar:

— No exterior.

Nesse instante, a porta se abriu.

Isaac entrou — e ficou parado, encarando-a.

— Quem é que tá no exterior?!
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