Depois de sair do bar, Letícia foi direto ao hospital cuidar do ferimento.
Ao chegar em casa, recolheu tudo o que estava relacionado a Isaac — presentes, fotos, bilhetes — e guardou tudo, selado, dentro de uma caixa.
Foi nesse momento que Afonso e Eva voltaram e, ao verem a cena, ficaram surpresos.
— Letícia… você realmente esqueceu o Isaac? Não gosta mais dele?
Ela assentiu com firmeza, sem a menor hesitação.
Afonso e Eva se entreolharam e, aliviados, sorriram:
— Que bom… Vinícius está ocupado no exterior, mas hoje os representantes da Família Castro fizeram uma chamada de vídeo conosco. O casamento foi oficializado.
— Comparado ao Isaac, Vinícius é calmo, elegante, e muito mais adequado pra você. Só achamos que ele estava além do que poderíamos sonhar… achamos que ele recusaria. Mas, pra nossa surpresa, ele aceitou quase de imediato.
Os olhos de Letícia se encheram de lágrimas.
No fundo, desde o início, ela sabia que ele aceitaria.
Na vida passada, por conta da diferença de gerações, os jovens da elite tinham medo de Vinícius — ela também. Quase não se falavam, exceto nos jantares familiares.
Sabia apenas que ele era um homem dedicado ao trabalho. Criou sozinho um império empresarial sólido e imbatível. Nunca se casou.
Aos trinta e cinco anos, ele tirou a própria vida. Ao mexerem em seus pertences, encontraram uma pilha de cartas no quarto.
Cada uma começava com:
[Para minha Estrela.]
Ninguém na Família Castro sabia a quem eram destinadas.
Só Letícia sabia. No dia em que nasceu, o céu estava repleto de estrelas. Estrela era o apelido carinhoso que o parente mais próximo lhe deu.
Ela jamais imaginou que aquele homem frio, reservado e inalcançável a amara em silêncio durante toda a vida.
Agora, com uma nova chance, ela queria dar a eles dois... uma nova possibilidade.
Perdida nesses pensamentos, foi despertada quando Afonso e Eva lhe entregaram uma elegante caixa de presente, com o rosto cheio de ternura.
— Letícia, amanhã é seu aniversário. Vinícius não pôde voltar, então pediu ao assistente que trouxesse esse presente do escritório. Vê se você gosta.
Ao abrir a caixa, Letícia viu um anel magnífico, reluzente como um pedaço do céu.
Era o “Colhe a Estrela”, o anel de diamante mais caro leiloado pela Sotheby’s nos últimos cinquenta anos.
Ela o vira uma única vez e nunca o esqueceu.
Não imaginava que Vinícius lhe enviaria um presente de valor incalculável. Uma onda de calor tomou conta de seu peito.
Na vida passada, desde que foi anunciado o noivado com Isaac, ela nunca mais recebeu um presente dele.
Já nem se lembrava da sensação de ser querida por alguém.
No dia seguinte, às sete da noite, teve início a festa de aniversário da senhorita da Família Gomes — realizada no hotel mais luxuoso da cidade.
Os convidados chegavam com votos de felicidades. O casamento de Letícia agora era certo, e ela, aliviada, exibia um sorriso verdadeiro.
Até que, no meio da festa, ouviu-se um burburinho vindo da entrada.
As pessoas voltaram os olhares para a porta. Letícia também.
E então o viu. Isaac... entrando de braços dados com Larissa.
Mas isso não foi o mais humilhante. O que veio depois foi.
Um grupo de amigos de Isaac entrou carregando uma imensa placa dourada.
No centro, quatro palavras escancaradas:
[Quer se fazer de santa.]
Para: Letícia.
Os convidados se acotovelaram para ver melhor, cochichando entre si.
Letícia empalideceu.
Fechou os punhos com força e encarou os invasores com um olhar gelado.
— O que significa isso?
Os homens riram, fingindo inocência. Um deles gritou:
— Ué, você que tem que nos dizer! Ontem mesmo você não jurou que Isaac não era o noivo? Então por que, quando ele chegou em casa, já estavam preparando tudo pro casamento? Isso é o que a gente chama de joguinho, né? E quer saber? Esse letreiro combina muito bem com você, Sra. Letícia!
— Eu falei que ontem ela só estava se fazendo de difícil! Vive correndo atrás do Isaac há anos, todo mundo sabe. Se humilhou tanto que até perdeu a dignidade. Agora vem com esse papo de não gostar mais, de não querer casar… é só jogada! Na geração dela da Família Castro, só tem o Isaac. Se não vai casar com ele, vai casar com quem?
As gargalhadas ecoaram pelo salão.
Isaac também lançou um olhar gélido para Letícia:
— Letícia, pare com esse teatrinho de se fazer de vítima. Não tente chamar minha atenção. No futuro, quando nos casarmos, você será apenas Sra. Castro. Fora isso, não espere mais nada de mim.
Essa frase... ela já tinha ouvido antes.
E ele realmente cumpriu.
Sete anos de casamento, e ela nunca teve nada além do sobrenome.
As conversas ao redor aumentavam. Letícia, com o rosto branco como papel, respirou fundo e elevou a voz:
— Isaac! Eu não preciso do seu sobrenome. Escuta bem: meu noivo não é você, nem ninguém da sua geração. É o seu...
Antes que terminasse a frase, um grito interrompeu tudo.
Larissa tapou o rosto, empalidecendo. Surgiram manchas vermelhas por toda a pele. Ela caiu nos braços de Isaac, chorando:
— Senhor... estou coçando muito! Tem tanto jacinto aqui... eu sou alérgica a jacinto!
Jacinto... a flor favorita de Letícia.
Todo o salão estava decorado com elas.
O rosto de Isaac mudou. Ouvindo a respiração de Larissa se tornar mais pesada, ele a chamou várias vezes, desesperado, e finalmente a tomou nos braços.
Antes de sair, lançou duas ordens:
— Letícia, depois que nos casarmos, está proibida de plantar ou decorar qualquer lugar com jacintos.
— E vocês... destruam esse salão!
— Pode deixar! A gente resolve rapidinho!
Assim que ele saiu, o grupo começou o vandalismo. Como uma horda de bárbaros, jogaram cadeiras, derrubaram mesas, quebraram taças.
O bolo foi despedaçado. O chão ficou coberto de flores pisoteadas, pratos partidos, vinho derramado.
— Parem! Vocês não têm o direito de destruir minha festa! Parem agora!
— Você vai se casar com Isaac, né? Então o que ele disser é lei! Hahaha!
Letícia gritou até a garganta falhar, mas nada adiantou.
Só restou a zombaria e a destruição.
No fim, todos os convidados foram embora.
E o aniversário dela... terminou em ruínas.