Capítulo 2 - O Primeiro Amor

Aconteceu que aos poucos. Sofia passou a implicar com o namoro da amiga, dizendo que o rapaz não era o homem ideal para ela e isso foi, lentamente, enfraquecendo a relação dos dois e por fim separaram-se. Ambas sozinhas e carentes, começaram a ter desejos uma pela outra, o que antes já era o propósito de Sophia. Que mesmo sem entender direito os próprios sentimentos, desejava ardentemente a melhor amiga.

Mas, temia revelar a ela o que estava sentindo, sequer podia imaginar que a parceira sentisse o mesmo todas as vezes que dormiam abraçadas.  Virou rotina esse negócio de uma ir passar a noite na casa da outra, chegavam tarde da faculdade e iam direto para o quarto, o pai de Luzia passou a desconfiar que havia algo errado, antes parecia ser somente uma grande amizade, mas agora se complicou com esse negócio de ficarem sem um namorado e dormindo juntas na mesma cama, como se fossem um casal normal, mas a mãe defendia a feminilidade da filha:

 — Me admiro de você fazer uma insinuação dessas sobre nossa filha!

 — Não estou insinuando, Marta, tem algo errado acontecendo entre essas duas, agora largaram os homens de lado e vivem grudadas uma na outra o tempo inteiro. Dormem, acordam e andam juntas, até na hora do banho dividem o mesmo banheiro, isso não é normal minha esposa, acorde!

 — Luzia não é uma lésbica, homem, tenha mais respeito por nossa menina!

 — Não vá desrespeitar as moças com suas desconfianças sem fundamentos!

 — É o que veremos, mulher, não vou admitir nenhum tipo de safadeza e desrespeito a nós nesta casa, se elas estiverem fazendo o que penso vão ter que parar ou procurar outro lugar para viverem suas imoralidades    

  — Você age feito um louco, homem!

 O homem estava mesmo decidido encostar as duas jovens na parede para esclarecer aquele comportamento estranho, e o fez assim que lhe surgiu a primeira oportunidade. Elas sentaram-se no sofá da ampla sala, diante daquele senhor com quase setenta anos de idade, cujo olhar era firme e penetrante até a alma. De voz grossa e estridente, apesar de educada e serena, suas palavras soaram de maneira firme e direta:

— Deixemos de rodeios, meninas, mesmo na idade que estou sou conhecedor de como o mundo moderno encontra-se perdido meio a tantas mazelas provenientes da maldade que domina com rigor esse século de escuridão moral. Portanto, nessa conversa que iremos ter, a partir de agora, quero ser tratado de igual para igual por vocês e não me vejam como um velho tolo que nada sabe das coisas! Então, tratem de me explicar direitinho o que está rolando entre vocês duas, e sem rodeios!

Olham-se desconfiadas, sabiam o que sentiam uma pela outra, mas nunca haviam comentado nada a respeito e não podiam assumir publicamente seus sentimentos sem antes conversarem sobre o assunto. Então ficaram confusas, sem saber o que responder, pois só sabiam daquilo que sentiam dentro de si próprias e desconheciam o lado oposto. Mas o idoso era insistente na pergunta

. E, devido à pressão foi necessário que tomassem uma posição definitiva. Foi aí que corajosamente Sophia declarou-se apaixonada por Luzia. Causando grande revolta no idoso que exigiu sua imediata saída de sua casa. O que foi contestado pela filha, saindo em defesa da amiga e sofrendo igualmente a mesma punição, ao expor em bom e alto som ao pai que também a amava.

Mesmo sob os apelos da mãe, foram colocadas para fora de casa. Tiveram que buscar refúgio na residência de Dona Ana, onde Sofia morava. Lá as coisas foram mais tranquilas, pois foram compreendidas e aceitas.  a partir daquele dia assumiram publicamente suas condições de homossexuais diante de todos e ficaram morando juntas.

Foi ao lado de outra mulher que Sophia descobriu o prazer e se realizou sexualmente, com Luzia ela sentia o sabor do beijo como nunca havia sentido antes. As carícias eram mais intensas e o calor de seus corpos causava-lhe maior excitação do que com Marcelo.  Ele foi seu primeiro namorado. Talvez por causa disso não tenha conseguido se destravar do medo que a deixava apavorada todas as vezes que ele ousava tocá-la. Não sabia ao certo se possuía desde o princípio tendência para o homossexualismo ou se foi algo que adquiriu após tantas decepções com os homens.

 O que tinham consciência diante de tudo aquilo que vivenciava era do fato de que finalmente tinha encontrado a verdadeira felicidade e sentia-se plenamente realizada. A vizinhança costumava fazer pesadas críticas a respeito da vida promíscua que escolheu, mas não dava a menor trela para os comentários, era livre para escolher seu caminho como achasse melhor. Parecia que trazia consigo a sina de ver as pessoas que a cercavam partirem deste mundo para melhor e mais uma vez alguém que fazia parte da sua vida partiu para o além.

Dona Ana partiu, quando se aproximava o dia das mães, o segundo domingo de maio seria mais uma data fúnebre que passava a odiar, semelhante ao dia de seu aniversário. Período em que, por coincidência ou não, morreram muitas pessoas que ela amava. Uma delas foi sua mãe.  Agora Luzia era sua única companhia, pois o assanhado do pai adotivo se embandeirou por outra coroa, mal Dona Ana tinha falecido, e foi morar na casa dela, parecia até que os dois velhos já estavam namorando antes mesmo da viuvez dele.

As duas mulheres assumiram a casa, os bens e decidiram se casar. Sophia consultou o padre da igreja local para saber da possibilidade de realizar uma cerimônia religiosa.  Mas ele deu um coice e disse que ali na paróquia essa pouca vergonha ninguém nunca iria fazer, casamento diante do altar dele só entre homem e mulher. O jeito foi apelar para a cidade grande, conversando com pessoas entendidas na faculdade.

Ficou ciente de que em algumas igrejas no Sul do país já se realizavam tais cerimônias. Mas, pesquisando na internet, encontraram estes locais. Fizeram uma viagem ao Rio de Janeiro. E lá conseguiram realizar seus objetivos, estavam oficialmente casadas, mas foram abençoadas apenas pelo padre. Porque se sabe a opinião de Deus sobre o lesbianismo. Ele jamais abençoará tal tipo de união. E sem o aval do Criador, o relacionamento pecaminoso já era.

O caso das duas teria um tempo de duração curto demais, muitas frustrações, dores e decepções aguardavam-nas num futuro que jazia às portas. Concluído o curso de administração na Universidade Federal do Piauí, elas partiram para uma especialização na área. Fazendo pós-graduação e de imediato foram contratadas por uma multinacional na capital piauiense. Como o salário compensava aceitaram o desafio e assumiram cargos importantes no novo emprego.

 Mas passaram a trabalhar em áreas diferentes, uma na gerência e outra na parte de finanças, logo, em setores opostos e distantes. Isso ocasionou um certo afastamento entre as duas mulheres.  Isso se deu durante todo o dia, período em que conheciam novas pessoas, amizades diferentes. E, ao chegarem em casa, cansadas depois de duas horas de carro na estrada, pouco clima tinha para se curtirem. Devido o stress começaram a optar em dormir separadas, mas no mesmo quarto.

E aquela corrente de união que tanto as ligava ao ponto de surgir entre e desejos impuros começou a definhar.  Em algumas ocasiões Sofia ia para o lado da parceira e acariciava seu corpo nu, demonstrava estar afim, mas não era correspondida. Em outras vezes era Luzia quem agia dessa forma e o resultado era igual, então Sofia, percebendo que o trabalho estava destruindo seu casamento resolveu pedir demissão e voltou a reabrir o restaurante.

 Optou em trabalhar por conta própria, pretendia salvar a relação, mas queria o mesmo de sua companheira que se negou a atender à solicitação. Isso trouxe as primeiras discórdias, Luzia alegava que não teria passado seis anos se especializando como uma profissional para guardar o diploma e ficar servindo refeições para clientes na mesa de um mísero restaurante. Mas para administrar grandes empresas como aquela em que se encontrava.

 As duas mulheres já não se entendiam, Sophia morria de ciúmes da parceira, diversas vezes ficou plantada próximo do local de trabalho dela, esperando para que saísse. E a seguia no intuito de ver o que iria fazer, pois desconfiava de traição, mas nada constatou. O que ela não estava a par era que Luzia estaria sendo conquistada por outra pessoa, mesmo que ainda não houvesse ocorrido qualquer envolvimento sério. Tratava-se de Eduardo, gerente geral do setor financeiro da multinacional. Ele estava perdidamente apaixonado pela linda morena de cabelos longos e olhos esverdeados.

 Com pernas grossas e aquela bunda arrebitada que o enlouquecia todas as vezes que a via. Na realidade, os dois sentiam-se atraídos um pelo outro. Ela vivia um relacionamento homossexual com outra, e sentia tesão por ela, mas também desejava homens. Era uma bissexual buscando realização. Mesmo realizando todas as fantasias sexuais com a "esposa", sentia-se em constante necessidade de envolvimento com o sexo oposto, principalmente o oral masculino que adorava. Mas até o momento eles apenas mantinham uma forte amizade e trocavam olhares cheios de desejos.

Mas ela usava uma aliança na mão esquerda e ele percebeu tratar-se de uma mulher casada. E se manteve distante, aguardando uma chance de se aproximar mais intimamente e lhe propor um jantar ou algo do tipo, para nesta oportunidade declarar seu verdadeiro interesse, o que não demorou muito a acontecer. Era final de ano e início de dezembro, aconteceria uma grande festa na empresa. E todos os funcionários deveriam participar juntamente com seus familiares.

 Mas Sophia sempre muito envolvida com seus afazeres no restaurante preferiu ficar em casa. Como investigou e nada viu de anormal descansou quanto a preocupação de ser traída pela parceira, este foi seu maior erro, pois deu a Eduardo a chance que precisava para investir pesado na linda morena de olhar apaixonante.  Ficaram juntos a tarde inteira naquela festa, dançaram, beberam alguns drinks e entraram no clima. Horas depois saíram cada um no seu carro, para que os demais funcionários não tivessem qualquer desconfiança.

O propósito era ocultar o envolvimento que existia entre os dois. Aquela experiência na vida de Luzia foi única, para falar a verdade ela só tinha ido para a cama com um só homem e depois se envolveu com uma mulher. Agora vivia seu terceiro relacionamento. Eduardo era másculo, seu corpo dividido e seus músculos claramente exposto. A barba bem tratada, pesando seus setenta quilos bem distribuídos.  Aquilo tudo em um metro e oitenta de altura. Esses atributos o tornavam um homem admirável e extremamente irresistível.

Na suíte que escolheram ficar algumas horas, cujas paredes e teto eram revestidos com espelhos, ele a beija eroticamente, saboreando sua língua suculenta, seu pescoço embaixo dos cabelos e logo deitando-lhe na cama com colchão de água, que se movia a cada posição. Aos poucos vai tirando-lhe a roupa, começando pela blusa que deixa aparecer seus seios carnudos.

 Ele começa a mamar neles e uma louca excitação toma conta da morena que respira fundo a cada chupada e geme. Mantendo os olhos fechados enquanto ele continua aquele gostoso ritual. Vai beijando sua barriguinha bem moldada, desce até o umbigo, abre suavemente o zíper da calça jeans, tirando-a fora por completo. Em seguida o fio dental que usava e ficava perdido dentro daquelas nádegas enormes. Depois de despi-la completamente de suas vestes ele inicia uma sessão de carícias que a levaram ao mais completo êxtase.

 Jamais antes experimentado, nem mesmo Sophia foi capaz de lhe levar às alturas com tamanho prazer. Ela, também, decidiu mostrá-lo do quanto era capaz e, deitando-o sobre a cama fez nele o mesmo processo, beijando seus lábios, pescoço, o peito musculoso, a barriga em estilo tanquinho e desceu seus beijos na direção do umbigo. Tirou-lhe as roupas íntimas e enlouqueceu aquele macho que a poucos minutos lhe fez chegar no paraíso. E fizeram ali muitas outras loucuras, atingindo o limite de um orgasmo longo e prazeroso.

 Em seguida conversaram por um tempo, ela explicou a ele sua atual situação, sobre seu casamento com outra mulher. A tendência homossexual e nada ocultou dele sobre quem de fato era, ele fez o mesmo. No final daquela tarde de sábado ela retorna para casa, a festa de comemoração tinha encerrado mais cedo. E nem percebeu que Sofia havia ligado várias vezes para seu celular. Ao chegar em casa a encontrou uma pilha de nervos:

 — Passei mais de meia hora te ligando e você não me atendeu, posso saber o motivo desse descaso todo de sua parte

 — Desculpe, deixei o celular no carro e nem percebi suas ligações  

 — Nem depois que voltou ao carro teve a ideia de verificar se havia alguma chamada?

 — Desculpe!

 — É muito fácil pedir desculpas, queria ver se fosse você que tivesse meu lugar!

 — Olha, tudo bem, admito que errei, então peço-lhe desculpas mais uma vez, ok?

 — Desculpas, sempre as mesmas desculpas!

As cobranças de Sophia deixaram-na irritada, subiu e trancou-se no quarto, não desceu para o jantar. Naquela noite as duas dormiram separadas, começava ali o fim de uma união que parecia ser duradoura. Na manhã seguinte Luzia saiu bem cedo e não deu qualquer explicação de onde iria, foi aguardada para o almoço, mas não retornou até a hora do jantar. O restaurante estava indo de bom a melhor, a clientela aumentava dia após dia. Os lucros também em contraste a relação das duas mulheres que não mais conseguiram se entender.

  Naquela noite, após um dia estressante de trabalho, Sophia decide resolver de vez o impasse que começou a existir entre elas desde aquela festa, sabia que algo tinha acontecido que fez sua mulher ficar indiferente, distante, nem mesmo tocá-la podia sem que ela a rejeitasse, porém sem êxito. Mais uma vez passou todo o tempo sozinha, tomando conta do restaurante que passou por uma reforma semanas antes e ficou mais amplo. Como resultado disso acolheu mais clientes e recebia a todos de bom grado. 

Eram vinte e três horas, quando ela finalmente chega em casa, como de costume entra e sobe as escadas em silêncio sem ao menos cumprimentá-la. A enorme falta de consideração foi imediatamente cobrada de forma grosseira, exigindo o devido respeito. Passaram a discutir e os ânimos se exaltaram. Uma demonstra estar insegura, sentindo-se enganada e a outra, como não poderia ser diferente, julga-se caluniada e joga sobre os ombros da companheira a culpa por estar indiferente, dizendo-se cansada de suas insinuações quanto a sua lealdade.

Mas, quando se ama, independente se o que há no peito é um sentimento certo ou errado, sabe-se perdoar e dar uma segunda chance ao traidor, o que não passa de um terrível erro. Isso porque o amor, a paixão ou amizade, quando acaba nunca mais volta a nascer entre as mesmas pessoas e se ressuscitar será diferente, o primeiro encanto deixará de existir. A discórdia cessou e aquela que ainda amava escolheu esquecer a ofensa sofrida, perdoando a desfeita e implorando a volta da harmonia rompida.

 A verdade é que Luzia agiu com esperteza, fingindo-se de vítima na situação para que Sophia acabasse por se render e assumir a responsabilidade pelas brigas. E não reagir diante da traição que sofreu. Alcançando o seu objetivo, ela e Eduardo continuaram a se encontrar no mesmo local de antes, ambos adoravam a rotina e durante um ano inteiro viveram como amantes sem ser incomodados. Neste período ela mudou bastante a maneira de agir com a parceira.

 Tratando-a com certa indiferença.  Sophia, perdidamente apaixonada, fazia de conta que não percebia as grosserias por ela feitas o tempo todo.Por diversas ocasiões chorou em secreto como uma forma de desabafo por conta das várias humilhações, diante dela se mostrava forte. Entretanto, suas forças emocionais acabavam na proporção em que era pisada e as machucaduras se transformavam em profundas feridas. Do tipo que jamais viriam a cicatrizar.  A vida da menina pobre da Vila

Sorriso era marcada pela decepção e o sofrimento, todos os seus esforços para conquistar a felicidade pareciam ter sido em vão, pois plantava amor e colhia desilusão. Era assim todas as vezes que tentou amar recebeu em troca desprezo e solidão e neste atual relacionamento não era diferente. Enquanto trabalhava duro na administração de seu estabelecimento, no objetivo de alcançar melhor estabilidade econômica, Luzia prosseguia sendo-lhe infiel. Cansada de levar patadas de sua amada decidiu investigar à fundo o que existia por detrás da rejeição.

 Pois chegou ao ponto de não existir mais entre elas sexo e qualquer outra forma de carícia íntima. A coisa se complicou tanto que Luzia se negou a receber um simples beijo. Eduardo, mesmo ciente do sério comprometimento existente entre as duas não desistia de tentar separá-las. Visto que era seu propósito ter Luzia apenas para si, usando para isso todo tipo de artifícios possíveis. Como já tinha sido funcionária da multinacional deixou ali algumas amizades pelas quais seria fácil conseguir colher informações preciosíssimas sobre a companheira.

 E realmente isso aconteceu. De primeira ficou sabendo que Luzia possuía um amigo com quem tinha um vínculo profundo e viviam saindo juntos. Orientada sobre a rotina dos dois ela deixa um funcionário à frente do restaurante e fica aguardando estacionada às proximidades do local onde a parceira trabalha, vendo horas depois seu carro sair dali em direção oposta. Seguindo o veículo, mantém certa distância e observa que outro carro de cor prateada vai no mesmo sentido.

 Sempre bem próximo do Honda Civic preto de Luzia e chegam num perímetro distante do centro urbano. Local bastante conhecido como "O bairro dos motéis" uma área onde muitos empreendimentos desse tipo foram construídos. Ao chegar ali, apesar de nunca ter andado em determinada região da cidade, imaginou de imediato o que estaria acontecendo.  Pois viu as placas luminosas, contendo o nome das pousadas e logo percebeu do que se tratava.

Os dois carros entram na direção de um dos vários motéis de luxo existente por todo aquele perímetro. Fica gelada só de imaginar Luzia na cama com outra pessoa, principalmente com um homem. Estacionou o veículo nas proximidades e permaneceu por cerca de quase quatro horas até que novamente avistou os dois carros deixando o local. Deu continuidade a perseguição, sempre mantendo a distância necessária para não ser vista.  Enquanto dirigia imaginava Luzia sendo possuída por um amante.

Não conseguia entender como ela teve a coragem de traí-la daquela maneira, e ainda por cima trocá-la pelo sexo oposto. Em certa altura da rodovia os dois veículos separam-se e seguem caminhos diferentes, diminuiu a velocidade. Assim, deixou que ela chegasse primeiro em casa, pois se chegassem juntas levantaria suspeitas.  Parou num barzinho nas proximidades e pediu uma cerveja, nunca antes tinha bebido uma só gota de álcool, mas aquela ocasião pedia uma atitude extrema. Sozinha naquela mesa de bar, perdida dentro de si mesma e vagueando entre tantos pensamentos.

 E imaginação lhe fez relembrar a época em que as duas eram amigas tão próximas. Tanto que pareciam irmãs, dormiam juntas e dividiam os mesmos sonhos de felicidade, as lutas que enfrentaram lado a lado sem desvanecer nem perder as esperanças. Os preconceitos sofridos e superados com otimismo, sem nunca esmorecer diante dos opositores que condenavam o que uma sentia pela outra.

O copo cheio de cerveja gelada permanecia sobre a mesa. Intocável, o líquido   esquentava aos poucos e, por não ter o hábito de se embriagar, sequer experimentou. Continuou em seus devaneios, o pensamento a levou para um mundo distante, onde foi feliz por alguns anos e viveu o doce gosto do amor. Mas ao voltar à realidade o que via não tinha a mesma doçura de antes, era amargo como o fel.  Meia hora depois o garçom se aproxima e lhe atrapalha os delírios.

Perguntando se ainda desejava mais alguma coisa, isso porque pela demora a bebida perdeu o sabor e ela ocupou em vão uma mesa que poderia está sendo útil para que outros clientes dessem lucro ao estabelecimento, pagou o que devia, retornou ao carro e seguiu para casa. Ao entrar na ampla sala com móveis antigos, mas bem conservados porque eram todos em madeira de lei e bem trabalhados, olha para a escada bem à sua frente e ergue o olhar na esperança de vê-la por perto. 

Mas só encontra um vazio enorme e a solidão, um lugar deserto sem ninguém para conversar, desabafar suas angústias, as decepções que insistiam em lhe ferir o coração, causando-lhe tristeza e desalento. Permaneceu sentada no sofá revestido de couro marrom por algumas horas. Refletia sobre seu ontem, hoje e o amanhã, numa retrospectiva investigativa. Fazendo perguntas a si mesma e buscando respostas ao destino cruel que teimava em lhe sacanear.

Ele a castigava, através daquela sorte maldita de nunca ser amada como merecia, visto que era fiel e dedicada aos amores que conquistou. Seus pensamentos se perderam meio a tantas indagações sem retorno. O miserável destino somente escreveu a história, criou os personagens e os colocou em apuros, condenando-os ao sofrimento. Joga-lhes em cova profunda e fica lá fora, zombando de seus enganos. Porém, se clamam não ouve, quando escuta não se importa com seus clamores.

Levanta-se, bebe alguma coisa gelada para matar a sede. E sobe, pisando firme nos degraus que a conduzem ao corredor do andar superior, local onde dois quartos, um de frente para o outro, cujas portas permanecem fechadas. Prova de que o sentimento que às unia acabou e o que restava era apenas a necessidade de assumir essa realidade. Luzia permanecia estranha e essa estranheza devia-se ao fato de ela estar apaixonada por outra pessoa, um homem que surgiu de repente para assumir o seu lugar.  Ela nada entendia da maneira masculina de completar sexualmente uma mulher.

Afinal, os que passaram por sua vida só lhe trouxeram desgosto e sofrimentos, nem mesmo era capaz de compreender como foi trocada por um deles. Tudo bem se a mulher por quem permanecia loucamente apaixonada lhe desprezou por mais uma noite, deitava novamente sozinha naquele colchão frio. E debaixo do cobertor com o perfume do passado tentaria dormir presa a suas lembranças. Na manhã seguinte a rotina se repetiu e mais uma vez ela seguiu o carro até o mesmo motel.

 E presenciou o encontro dos dois amantes. Eles nem de longe suspeitavam estarem sendo vigiados. Menos ainda que seria por ela, a quem enganavam. Aquele barzinho passou a fazer parte de sua escala rotineira, era lá que estacionava e aguardava até que Luzia se reservasse nos seus aposentos e pudesse entrar. Sentar-se no sofá da sala e ficar horas pensando naquela desastrosa situação virou uma de suas tarefas diárias e cansativa, dormir naquele quarto em total solidão, também.

 As duas quase não conversavam mais, tomavam o café da manhã separadamente e nos finais de semana Luzia passou a viajar, usando o pretexto de estar com as amigas do trabalho em algum lugar fora da cidade. Sophia sabia que isso tudo não passava de desculpas para esconder seus encontros com o novo namorado, simplesmente fingia não saber de nada afim de evitar novas discussões. Estava sendo traída no maior descaramento.

 Porém suportava em nome da paixão que sentia. Durante o ano que se passou poucas vezes fez sexo com a companheira que se negava o tempo inteiro lhe oferecer este prazer. E, quando decidiu atender suas reivindicações o fez de forma passiva, ou seja, não reagiu aos estímulos da parceira e deixou que se virasse para alcançar o orgasmo. Claro que não reagiria, tinha agora ao seu lado o homem por quem estava apaixonada. Era a seu lado que tinha prazer e não com a mulher com quem resolveu se casar.

Foi um erro gravíssimo cometer tal coisa, pensou ser como sua parceira, inclinada a pessoas do mesmo sexo, mas o que sentiu pela amiga não passou de um desejo momentâneo. Algo que se desfez depois que passou o brilho do primeiro encanto. Enquanto a primeira experiência sexual de Sophia com o sexo oposto foi um desastre, entretanto a dela tinha sido maravilhosa. Portanto, sentia falta na busca pelo prazer. Ela não se completava ao usar brinquedos sexuais.  Queria sentir um membro masculino sendo penetrado na sua vagina e poder saborear o calor humano contido nele.

 Cansou-se de fantasias mortas e sem a energia que precisava. Já sua mulher ainda se via presa ao passado no qual ambos se conheceram e pensaram ter nascido uma para a outra, parou no tempo e ficou acomodada na tola ideia que duas pessoas do mesmo sexo podem realmente realizar a outra sexualmente. Luzia descobriu no decorrer da convivência com outa mulher que aquele tipo de relação não lhe completava, tinha a necessidade de sentir um macho dentro dela.

 Isso era a prova definitiva de que o lesbianismo não fazia totalmente parte de sua vida, foram apenas ilusões e curiosidades, confundiu as coisas e agora queria concertar este erro. Eduardo era um excelente amantem bastante carinhoso, atencioso e presente. Vivia elogiando sua beleza e tudo o quanto ela fazia.  Cobria-lhe de carinho e ficava conectado a ela o tempo inteiro pelas redes sociais, quando não estavam juntos.

Ocupou uma lacuna que Sophia deixou em branco, ela odiava usar o celular para escrever e enviar mensagens, dizia ser chato usar o bate papo e que apreciava mesmo era uma conversa olho no olho. Esquecia que nos dias modernos é preciso se adaptar às mudanças que surgem e andar lado a lado com elas, se moderniza ou ficará para trás.  Numa relação a atenção diária é essencial, principalmente em dias que a disputa afetiva se tornou um hobby praticado apenas por diversão.

 Quem tiver alguém com quem se relacionar que o segure bem de seu lado ou irá perdê-lo, e foi exatamente nisso que Sofia esqueceu de pensar. Não considerou que no espaço de tempo que as duas iriam conviver distantes, devido estarem em locais de trabalho diferentes, e que a possibilidade de surgir pretendentes para ambos seria enorme. Se ela escolheu ficar enclausurada dentro de um restaurante, Luzia optou em permanecer lá fora. Crescendo profissionalmente e conhecendo novas pessoas.  A solidão levou Sophia a uma profunda depressão, e essa à solidão que lhe jogou no abismo do álcool e das drogas.

Certo dia, depois de ter mais uma vez acompanhado de perto sua mulher ir para um quarto de motel com o amante. Voltou ao antigo barzinho localizado nas proximidades de sua casa e ali ousou provar pela primeira vez um copo de cerveja bem gelado.  Não sabia explicar ao certo, mas dessa vez gostou do sabor e bebeu várias, embebedando-se um pouco. Achou estranho, pois nunca havia sentido o mundo girar em torno de si mesma. Mas no final achou interessante.

Retornou naquela noite completamente alcoolizada, na verdade foi o garçom quem a levou para casa, dirigindo seu carro. O rapaz foi muito gentil e cavalheiro, não somente a deixou em casa como estacionou seu carro na garagem. Deixando-a bem assistida. Luzia chegou depois da meia noite e pensou encontra-la mais uma vez estendida no sofá da sala à sua espera, mas dessa vez isso não aconteceu. Em dúvida se a companheira estava ou não em casa verificou o quarto de hóspedes.

 Onde ela costumava ficar e, constatando sua presença sentiu-se aliviada, porém pensativa na mudança de atitude dela. Na manhã seguinte, um domingo ensolarado de verão, deixou por um instante o restaurante em que trabalhava sem folga alguma, aos cuidados de um funcionário de confiança. Foi ao barzinho na intenção de relaxar. O antigo conceito que tinha sobre o álcool, devido o que aconteceu com seu pai no passado, desapareceu de sua mente aos poucos.

 E viciou-se na cerveja bem gelada. Aluízio, o jovem de vinte e cinco anos que lhe servia como garçom era um moço muito atraente. Possuía um corpo físico atlético, comunicativo e educado. Logo tornaram-se amigos e todas as vezes que ela passava da conta ele fazia questão de ir deixa-la, mas nunca lhe desrespeitou.  Ela aos poucos passou a admirá-lo e se embriagava de propósito para que ele à levasse em casa.

Naquela brincadeira de adolescente ela aos poucos foi esquecendo seus problemas. Já não sentia a ausência de Luzia que, por sua vez, passou a estranhar o fato dela não estar plantada na sala esperando seu retorno das noitadas com Eduardo. Ali se cumpria o adágio popular que diz ser somente após perder que se dar o merecido valor as coisas. Que se tinha.  Chega o final de mais um ano e se aproxima o dia de seu aniversário, data que aprendeu a odiar, devido tantas cousas ruins que lhe aconteceram. Mas, para sua surpresa, naquele dia algo de bom lhe aconteceu pela primeira vez desde que nasceu, seu novo amigo lhe enviou flores. 

Odiava os homens, é bem verdade. Mas a maneira carinhosa como aquele simples garçom lhe tratava a fez mudar aos poucos o conceito ruim que tinha do sexo oposto.  Percebia que nem todas as pessoas são necessariamente idênticas no seu caráter e pelo visto aquele rapaz era uma das poucas exceções que teve a sorte de conhecer. As flores eram lindas, rubras como gostava, nem sabia explicar como ele descobriu seu gosto pelas rosas vermelhas.

 Pois não recordava ter comentado algo a respeito desse detalhe nas conversas que tiveram.  Foram-lhes entregues pela manhã e à noite foi lá agradecê-lo pela gentileza. Aguardava o final do expediente de trabalho para convidá-lo a irem juntos em algum lugar onde pudessem se divertir e comemorar seu aniversário. Deu tudo certo e naquela noite os dois amigos foram a uma boate dançar, beber champanhe e sem que ela percebesse já estavam trocando beijos e carícias.

O final daquela repentina aventura foi que eles acabaram na cama de um motel, onde Aluízio caprichou no espetáculo para impressioná-la.  Ele pediu que ela ficasse sentada num pequeno sofá colocado estrategicamente num canto qualquer do ambiente e passou a dançar na sua frente, tirando peça por peça da roupa colada que usava. Pouco a pouco ele foi se despindo, ela estava meio atordoada pela quantidade de álcool ingerido, mas consciente e atenta a tudo. Podia ver nitidamente o que aquele lindo rapaz fazia diante de seus olhos.

A cada parte de seu corpo descoberto ela sentia sua pressão sanguínea subindo, o coração acelerando e um fogo ardendo dentro de suas partes íntimas como jamais sentiu antes.  Aquilo era uma enorme novidade para uma mulher que só tinha se relacionado com dois homens, o carrasco estuprador que lhe roubou à força sua virgindade e Marcelo, sua primeira grande decepção no amor.

Agora estava ali, diante de um homem diferente que despertou nela o desejo pelo sexo oposto.  Logo ela que passou a sentir tesão por outras mulheres e a desprezar os homens, considerando-os verdadeiros monstros. Estava confusa e ao mesmo tempo perplexa com cada detalhe do físico daquele jovem gentil que a conquistou.  Ao vê-lo apenas de cueca, percebendo o volume dentro dela queimava de desejos e não se contendo mais levantou-se de onde estava como uma simples expectadora.

E ajoelhou-se aos pés daquele príncipe lindo. Puxando seu corpo na direção de seu rosto passou a lhe dar prazer que o deixou estremecido. E, enquanto fazia aquilo com tanto gosto, se perguntava como estaria achando tão saboroso o que praticava ali se durante anos sentiu nojo e os desprezava. Bem, não importava, tudo ali era novidade e muito prazeroso, queria mesmo poder desfrutar de tamanha oportunidade. Passou anos em completo abandono, desde criança até sua idade adulta foi vítima de repúdio por parte de quase todos que conheceu.

 Estava vivendo ultimamente ao lado de uma pessoa que a tratou no início com respeito, mas depois a humilhava. Mas, nos últimos dias, a sorte finalmente resolveu sorrir para ela e colocou no seu caminho uma nova esperança. Uma grande chance na qual estava decidida a investir até onde desse para ver no que ia dar. Ele a deitou naquela cama macia, tirou delicadamente a roupa que lhe cobria o corpo formoso, pois era uma mulher linda de trinta anos, bem conservada e de pouca experiência sexual, ou como dizem os mais sádicos: 

“Pouco quilometrada”. Nunca havia sido mãe e com isso manteve uma aparência física de causar inveja em muitas trintonas que se desmancharam gerando filhos. Os seios pequenos e durinhos, a barriguinha esbelta, pernas grossas, uma bunda carnuda e arrebitada. Sem nenhuma estria lhe fez causar suspiros no macho que lhe despiu. E ele não aguentando de tanto tesão a beijava da boca aos pés, deixando-lhe a ver estrelas no paraíso do prazer. A possuiu com a intensidade de um garanhão e ela se entregou passivamente.

 Permitindo que lhe fizesse tudo aquilo que tinha na mente e não se arrependeu, pois, revirando seu gostoso corpo pelo avesso aquele potente macho a fez gemer feito uma louca. Descobriu um prazer que antes desconhecia e sequer acreditava poder ser encontrado num homem.  Ela adorou a nova forma de ser possuída e decidiu que dali em diante sempre iria querer se entregar daquela maneira.

Mas foi no sexo oral que ele mais se excitou e ela conseguiu leva-lo ao clímax. Seu gozo foi intenso e profundo.  Aquele foi o melhor de todos os presentes de aniversário que recebeu durante sua existência, nem mesmo a festa de quinze anos lhe deu tamanha alegria. Finalmente terminava ali a maldição do dia cinco de dezembro. quando todos os anos algo de ruim lhe acontecia, dessa vez tudo foi uma maravilha. Ela retornou para casa transformada numa nova mulher, cheia da certeza de que nunca mais olharia para um homem com resignação e nojo.

O rapaz que a princípio sabia apenas manusear bem uma bandeja e servir educadamente aos clientes de um bar era um profissional do sexo. E se mostrou um verdadeiro mestre na arte de amar e levar uma mulher ao mais distante mundo do prazer, onde ela pode se completar por inteira. Ao chegar em casa somente na manhã seguinte foi interpelada por Luzia que reclamou do fato dela ter dormido fora sem sequer dar um telefonema antes para deixa-la ciente de onde e com quem estaria:

 — Interessante, logo você que vive me cobrando para mantê-la informada dos lugares por onde ando, saiu sem deixar qualquer recado e sequer deum um telefonema para me tranquilizar de que estava bem?

— Poxa, Luzia, é mesmo, você está certíssima quanto a isso.  Peço-lhe desculpas por deixa-la assim tão preocupada comigo, me desculpe porque não irá mais se repetir, certo?

— Não estou gostando desse seu tom irônico!

— Não poderia agir de outra maneira diante de tanta falsidade, afinal, vivemos juntas a muitos anos e desde quando você passou a ter um caso com outra pessoa tem me tratado com repúdio e desprezo nesta casa! Ao ouvir tais palavras Luzia se intimidou e tentou desconversar, surpresa com o fato da outra saber de seu caso extraconjugal

— Não sei do que você está falando, ficou louca?

— Tudo bem se não quiser falar sobre o assunto comigo, mas saiba que venho acompanhando suas safadezas a muito tempo, até estive por diversas vezes próximo aquele motel onde você e seu amante se encontram só para comprovar a infidelidade. Portanto, nem tente negar o seu erro

 — Você só pode ter enlouquecido!

 — Com toda certeza deve ser isso mesmo, enlouqueci!

Durante as muitas vezes que esteve próximo ao motel teve a ideia de filmar pelo celular a entrada e saída dos dois, também fez fotos e imprimiu algumas fotos que levava sempre na bolsa, então tirou umas e lançando-as no chão, aos seus pés. Ali mesmo de pé, onde estava, Luzia olhou as fotografias e suou fria, percebendo que seu segredo já a muito tempo estava revelado. Sofia subia as escadas, quando ouviu a outra perguntar onde esteve e deu-lhe a resposta que merecia ouvir, sempre com aquele ar de deboche característico dos vingativos:

 — Fui com um amigo conhecer aquele motel que você costuma ir todos os finais de semana com seu namorado, quer saber?

Adorei! Ela dirige-se aos seus aposentos enquanto Luzia, também, experimenta pela primeira vez o amargo sabor da traição

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